Cidades

Pesquisa feita no DF pode levar à criação de medicamento contra a covid-19

O desenvolvimento desse novo remédio, caso seja viável, só acontecerá a médio ou longo prazo. Mas, no mesmo estudo, pesquisadores da capital pretendem testar tratamento com plasma sanguíneo

Celimar de Meneses*
postado em 25/05/2020 15:09 / atualizado em 25/08/2020 17:07
Um dos objetivos é descobrir se a transferência da parte líquida do sangue, onde ficam os anticorpos, é capaz de ajudar no tratamento de pacientes de coronavírusA Universidade de Brasília (UnB), a Fundação Hemocentro de Brasília e a Secretaria de Saúde farão pesquisa usando plasma sanguíneo de pessoas recuperadas de coronavírus. O objetivo é descobrir se a transferência da parte líquida do sangue, onde ficam os anticorpos, é capaz de ajudar no tratamento de pacientes de coronavírus. Existem estudos que compravam o funcionamento dessa técnica para outras doenças virais.

Como explica o médico e professor de imunologia na Faculdade de Medicina da UnB André Moraes Nicola, a pesquisa a ser feita no DF consiste em três etapas: entrevistas para possíveis doadores, a coleta do plasma e, por fim, a administração da substância em pacientes de coronavírus.

O estudo vai comparar a progressão da doença em 200 pessoas, metade delas vai receber o plasma. Então, todos os pacientes serão tratados da mesma forma, a diferença é que uma parte terá a ajuda do plasma e a outra, não. Os pesquisadores acreditam que a doença vai progredir com mais frequência entre os pacientes que não receberem o sangue com a resposta imune.

“Vamos administrar o plasma em pessoas que tenham a doença grave o suficiente para estarem internadas mas não em estado crítico, ou seja, quando entrarem no estudo não estarão entubadas ou na UTI”, sintetiza Nicola.

O professor afirma que todo procedimento médico tem riscos, e com transfusão de sangue não seria diferente. No entanto, a transfusão de plasma sanguíneo coloca em risco uma quantidade mínima de pessoas. “Conhecemos bastante esses riscos de transfusão de plasma e outros componentes do sangue para outras situações. Mas, num estudo recente feito nos Estados Unidos em que eles administraram plasma de convalescentes em 5 mil pessoas, menos de 1% das pessoas que receberam o plasma tiveram efeitos adversos graves. Eexistem efeitos adversos, mas eles parecem acontecer numa fração pequena das pessoas que recebem”, diz.

Além disso, a primeira parte da pesquisa, em que os cientistas fazem um questionário com os participantes, servirá para evitar esses riscos, tanto para os doadores, quanto para as pessoas que receberão as doações.

Biotecnologia

A ideia geral do estudo é transferir a resposta imune de alguém que sobreviveu à doença para outra pessoa. Uma outra proposta do estudo feito no DF é aproveitar esses anticorpos para produzir um medicamento que combata o coronavírus.

“Nós vamos usar técnicas de laboratório para gerar novos fármacos com base nessa resposta imune. No laboratório, conseguimos produzir esses anticorpos em larga escala e usá-los para criar um novo fármaco”, explica o professor.

No entanto, Nicola alerta que o desenvolvimento desse novo remédio só acontecerá a médio ou longo prazo. “O processo de desenvolvimento de drogas demora cerca de 10 anos. Poderia ser mais rápido, mas de qualquer forma não é uma solução para agora”, diz. Mas ressalta que a vantagem do estudo feito em Brasília é que pensa a curto prazo, com a terapia com plasma, e longo prazo, com o desenvolvimento de um remédio.

Comissão de ética

Para começar, o estudo só precisa ser aprovado na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Ministério da Saúde. “Mandamos o projeto, eles avaliaram, respondemos alguns questionamentos e estamos esperando agora a avaliação final da comissão. Assim que chegar a autorização já estamos com tudo pronto”, afirma Nicola.

Segundo o médico, em situações normais, o trâmite de aprovação de uma pesquisa demora cerca de nove meses, no entanto, a Conep está fazendo um esforço para aprovar mais rapidamente pesquisas que envolvam o coronavírus.

Segundo o órgão, diante da pandemia e da emergência para enfrentar a doença, a comissão criou ações para análise imediata dos protocolos que envolvam a covid-19, recebendo diretamente os estudos e concluindo o processo entre 48 e 72 horas. Além disso, a comissão está trabalhando sete dias por semana.

Os protocolos de áreas temáticas especiais; protocolos indicados pelo Ministério da Saúde, pelos secretários de saúde dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal; ensaios clínicos; e protocolos de Pesquisa cuja temática seja Saúde Mental são analisados pela Conep.

Critérios

Para participar da pesquisa, além de ter se recuperado da covid-19, é preciso:
  • Ter entre 18 e 60 anos de idade;
  • Pesar no mínimo 60kg;
  • Se mulher, não ter histórico de gestações;
  • Ter diagnóstico laboratorial confirmado de infecção por Sars-Cov-2;
  • Estar sem sintomas de covid-19 há pelo menos 15 dias;
  • Não ter tido manifestações graves em função da covid-19 (choque séptico, parada cardíaca e/ou entubação traqueal/respiratória).

Fonte: Fundação Hemocentro
 
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* Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer 

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