Cidades

Fiéis de Planaltina adaptam Festa do Divino aos tempos de pandemia

Realizada há 138 anos, em Planaltina, celebração passa por adaptações para manter tradição em tempos de pandemia. No próximo domingo, carreata sairá pelas ruas da cidade para abençoar os fiéis em suas casas

Correio Braziliense
postado em 26/05/2020 06:00
O casal João Pedro e Thalita é responsável pela organização da celebração na Paróquia do Divino Espírito Santo: alternativa para os fiéis manterem a tradiçãoMesmo antes de Brasília existir, o vermelho e o branco já coloriam a cidade de Planaltina, em celebração ao Divino Espírito Santo. Mais de um século depois, as bandeiras e procissões não poderão ganhar as ruas da região, como de costume. Entretanto, a tradição de 138 anos não se perderá, mesmo diante do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus. A comemoração será reinventada e ocorrerá com uma série de adaptações para evitar que a covid-19 se propague.

Tradicionalmente, milhares de pessoas se reúnem para o encontro das bandeiras em frente à Paróquia de São Sebastião, igreja matriz da cidade. Este ano, porém, os “giros da folia” ocorrerão de forma diferente. As principais paróquias de Planaltina organizam cortejos em carro aberto e carreatas para levar a bênção do Divino Espírito Santo até a casa dos devotos.

“Não poderíamos deixar de celebrar. A nossa fé acredita na renovação de Pentecoste a cada ano. Pedimos aos fiéis para decorarem suas casas nas cores do Divino para esperar que a gente passe com os símbolos de adoração”, explica a professora Águeda Maria de Lima, 47 anos, devota da Igreja de São Sebastião. No domingo, dia de Pentecostes, os festeiros da paróquia sairão, em carro aberto, entoando músicas e orações pelas ruas do setor tradicional da cidade.

A ceia, tradicionalmente servida para mais de 6 mil pessoas e que acontecia no sábado, também passará por adaptação. Os festeiros vão cozinhar marmitas, que serão distribuídas para pessoas em situação de rua. Além disso, a paróquia receberá doações de alimentos não perecíveis, agasalhos e cobertores, para doar a famílias carentes assistidas pela igreja.

“Passamos um ano pensando na realização da festa e levando orações às casas das famílias. Mas aceitamos a vontade de Deus e pedimos inspiração para que pudéssemos fazer de uma forma diferente. Estamos carentes por não participarmos das missas e dos momentos na igreja. Porém, estamos vendo que Deus tem um propósito. Cabe a nós aceitar e fazer o que é possível, segundo a vontade dele”, diz Águeda, que participa dos festejos há pelo menos 20 anos.

Carreata

A carreata organizada pelos devotos da Paróquia do Divino Espírito Santo percorrerá as principais avenidas do Arapoanga, a partir das 8h de domingo. Os fiéis sairão da igreja, e o cortejo contará com um carro de som, de onde o padre abençoará os moradores. “As pessoas gostam muito de fazer esse giro a pé. Mas, este ano, alguns vão de carro e outros ficarão em casa, por causa das recomendações. Vamos percorrer a cidade com a bandeira do Divino, com a pomba símbolo e com os ícones de devoção”, detalha o festeiro João Pedro Esteves dos Santos, 33, da Paróquia do Divino Espírito Santo.

O funcionário público e a esposa, Thalita Moreira de Castro, 32, formam um dos dois casais responsáveis pela organização da festa na paróquia. “Quando o giro passar, as pessoas vão ver e reverenciar a bandeira. Participarão de uma forma indireta. Não vai ser como a gente gostaria. Estamos bem tristes por isso, e a comunidade também tem esse mesmo sentimento. Mas tivemos essa ideia de fazer a carreata para que as pessoas tenham essa vivência, mesmo que de uma forma mais afastada”, pontua Thalita.

Para o professor Jeferson Queiroz, 28, 2020 ficará marcado entre todos os anos em que participou da festividade. “É uma questão muito estranha. Não podemos ir à igreja e fazer as orações como de costume. Fica sempre um sentimento de que está faltando alguma coisa. Mas temos que compreender. Apesar de tudo, a minha fé precisa superar esse momento difícil para, depois, a gente voltar às celebrações presenciais”, conta.

Para Jeferson Queiroz, fica sempre um sentimento de que está faltando alguma coisa, e 2020 ficará marcado:  


Novenas virtuais

A tecnologia é aliada das paróquias para manter a tradição e a celebração ao Divino Espírito Santo, mesmo diante do isolamento social. Com a impossibilidade da realização das missas presenciais, as igrejas realizam as novenas por meio da internet e transmitem, ao vivo, pelas redes sociais.

Desde sexta-feira, devotos conectam-se às celebrações on-line das novenas, que se iniciam nove dias antes do domingo pentecostal. Frequentadora da Paróquia de São Sebastião, a professora Janaína Vale, 32 anos, assiste aos ritos com as lembranças das festividades vivas na memória.


“Aqui em casa, temos participado da santa missa e, na sequência, das novenas, pela internet. Mas a festa mexe com nosso imaginário e com a nossa fé. Temos a tecnologia, mas a vivência de estar junto, caminhando pelas ruas, orando a Deus e pedindo bênçãos não vai ocorrer, e é muito triste. Para mim, faz muita falta”, conta. No domingo, a Paróquia de São Sebastião celebrará a missa de Pentecostes, às 19h, para encerrar as festividades.

Memória
 
Celebração centenária
A Festa do Divino ocorre há 138 anos, em Planaltina, como uma das comemorações de Pentecostes, festa católica celebrada 50 dias após a Páscoa. O evento religioso foi instituído em 1321 pela rainha Isabel de Aragão, de Portugal. Com a chegada da Corte ao Brasil, em 1808, a celebração começou a ser realizada no país, onde se mantém até hoje. Trata-se da segunda maior celebração da Igreja Católica, na cidade, rememorando o momento em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos.

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