Correio Braziliense
postado em 26/05/2020 05:59
O comércio do Distrito Federal reabre as portas hoje com uma série de mudanças em relação aos primeiros meses do ano. O setor, que ficou mais de dois meses sem atividade, agora tenta minimizar os impactos financeiros a passos curtos e cautelosos. Com exemplos de outros locais do país, que voltaram a fechar estabelecimentos após o aumento de casos de covid-19, os lojistas da capital tomam cuidado com empregados e clientes para preservar vidas e manter o negócio ativo. Testagem de funcionários a cada mês, medição de temperatura e medidas de distanciamento de dois metros a cada pessoa são algumas das práticas do novo normal do comércio do DF.
No último dia 18, serviços de corte e costura, além de lojas de calçados, de roupas e de extintores, retomaram as atividades. Hoje, voltam a funcionar serviços em geral, enquanto shoppings centers retornam amanhã. Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio), a reabertura deve ser realizada seguindo à risca as obrigatoriedades dos últimos decretos a fim de evitar a disseminação do vírus e garantir a volta gradual de outros segmentos. “A população pode se sentir segura, porque vamos testar funcionários, ter uma planilha organizada com os dados de cada um, afastar quem tiver sintomas e apontar positivo para a covid-19 e resguardar quem é do grupo de risco. Fora isso, temos também todas as medidas de prevenção, como uso de máscaras e álcool em gel”, diz o presidente da Fecomércio, Francisco Maia.
Outra preocupação dos empresários é de que o número de casos confirmados no DF suba por outros motivos nos próximos dias, mas os estabelecimentos sofram as consequências. “Temos observado muitas aglomerações na Esplanada dos Ministérios em manifestações políticas. Isso pode aumentar a curva de contaminação, e o comércio levar a culpa e ser fechado novamente, como aconteceu em outras regiões do país”, avaliou. Um manifesto coletivo de associações foi divulgado ontem, repudiando os protestos com participação de grande quantidade de pessoas, como ocorreu no domingo. “O povo do Distrito Federal está surpreso pelas desobediências civis, que ajudam a pandemia. Brasília assistiu a um evento em apoio ao governo federal, no qual houve desrespeito à legislação do GDF quanto ao uso obrigatório de máscaras, ao contato humano com as mãos e ao estímulo a aglomerações”, critica o texto.
Desafio
Depois de cerca de dois meses sem atividade, muitos comerciantes notam o receio dos clientes de voltarem às lojas físicas. A empresária Kristina Castro, 47 anos, dona de uma loja de roupas íntimas na 308 Sul, colocou a maioria dos produtos em liquidação. “Antes da pandemia, o movimento estava muito fraco, então a gente já estava em promoção. Agora, mais do que nunca, eu preciso girar o estoque. Então, essa redução dos preços tem um objetivo: eu preciso vender o que tenho dentro da loja”, explica.
Alternativa encontrada pela empresária é a divulgação on-line dos produtos. Durante a pandemia, a lojista investiu nas vendas pela internet e agora usa a ferramenta para trazer as clientes à loja. “Estou usando as redes sociais. Tenho um banco de dados das minhas clientes e estou divulgando os produtos pelo WhatsApp. Isso será o mercado do futuro”, destaca. Kristina, no entanto, alerta para dificuldade de acessar o crédito bancário. “Muito do que se falou sobre empréstimos até agora não saiu”, comenta. A empresária tem recebido respostas negativas de bancos e se deparado com juros muito altos, segundo ela.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do DF (CDL), José Carlos Magalhães Pinto, o baixo movimento no comércio é esperado. “A gente não pode pensar que todo mundo vai sair de casa para comprar. Isso não seria nem bom para o comércio. Teríamos excesso de pessoas nas ruas, no transporte coletivo. O movimento está tímido, mas isso é natural. O bom seria vender, mas nós precisamos nos preparar”, ressalta.
José Carlos alerta que a melhor forma de trazer a clientela de volta é garantir a segurança de fregueses e funcionários. “Precisamos ter respeito, responsabilidade e consciência do momento”, pondera. Muitos empresários, porém, estão com dificuldade para encontrar os aparelhos medidores de temperatura, segundo José. Aos comerciantes, ele aconselha: “Entenda a sua clientela, saiba o que ela quer, mantenha contato com ela”.
Atenção aos clientes
Quem trabalha ou frequenta o comércio quer deixar o medo do vírus longe das lojas. Claudiane Silva, 22, precisou comprar roupas recentemente e comemorou a volta dos estabelecimentos, principalmente porque viu ações de combate à covid-19. “Está chegando a época do frio, e eu estava sem agasalhos e blusas. Então, aproveitei para fazer umas compras. Entrei em muitas lojas que tinham álcool em gel, todo mundo estava de máscara. Isso faz a gente se sentir bem mais segura. Todo estabelecimento precisa ser assim agora”, comenta a estudante.
Para Simone Silva, 46, gerente de uma loja de roupas na 305 Sul, os cuidados dos funcionários com a limpeza e o monitoramento do estabelecimento deixam as consumidoras tranquilas. “O cuidado começa ao entrar na loja, com álcool em gel, luvas para elas olharem as araras e medição de temperatura. Muitas querem saber se estão com febre ou não. Ali, elas ficam mais tranquilas”, comenta. Simone também recorre à tecnologia para alavancar as vendas. “A gente não pode ficar esperando o cliente só de porta. Precisamos trabalhar no WhatsApp, enviando fotos, montagem de looks”, completa.
Cuidado redobrado
Para o infectologista David Urbaez, é fundamental comerciantes e clientes estarem conscientes sobre os riscos. “Os próprios funcionários precisam se preocupar com o número de pessoas dentro do estabelecimento para não criar superlotação. É preciso desconstruir aquele princípio de que loja boa é loja lotada. Precisamos ter uma visão coletiva, pensar bem na ética de se proteger”, enfatiza. Nesse momento de retorno das atividades, é fundamental seguir as orientações de distanciamento social, higienização e proteção facial.
Sobre a realização de testes a cada 15 dias, Urbaez alerta que os testes rápidos identificam apenas os anticorpos do vírus, que surgem após oito dias da infecção. “O teste que realmente funcionaria em termos de proteção seria a PCR (exame para covid-19) em tempo real, para detectar funcionários infectados em tempo precoce”, alerta. Para Urbaez, a triagem diária de sintomas seria o mais indicado. “É muito mais interessante do que fazer o teste rápido seria a triagem diária, com todos os funcionários passando por um interrogatório sobre a presença de sintomas”, opina.
Denúncias
- Para reclamações sobre irregularidades e comércio abertos sem autorização, o governo disponibiliza o telefone 162 para denúncias.
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