Correio Braziliense
postado em 26/05/2020 04:06
Pequena celebração
Vimos uma foto da visita do filho do Mauricio de Sousa na internet que nos inspirou a fazer uma comemoração do Dia das Mães, com um mínimo de segurança. Na foto, Mauricio ficava de um lado e o neto, acompanhado da namorada, do outro, separados e protegidos por uma janela de vidro.
Pois bem, a partir da imagem, concebemos uma modesta celebração com a nossa filha Isabel e os netos Judá, de 2 anos, e Aurora, de 7, que se postaram na varanda, divididos por uma porta de vidro. Nós colocamos máscaras, ficamos na sala e, mesmo assim, mantivemos uma distância de mais de três metros. Havia quase dois meses que não nos encontrávamos ao vivo.
Vejam a mutação de valores a que nos levou a pandemia: não se encontrar, não abraçar e não beijar se tornaram atos de amor. Esse está sendo um dos maiores desafios do isolamento. Os dois netos cresceram em nossa casa, dormiam em nossas costas e moviam-se encarapitados em nossos pescoços.
No ano passado, tive uma doença chamada herpes zóster, que provoca dores cruciantes e é contagiosa. Tive de tomar uma providência drástica: evitar o contato físico com as crianças. Expliquei para Aurora, mas o Judá ainda tem dois anos e ficou muito sentido. Aurora gosta de segredos e me sussurrou ao ouvido: “Daqui a um mês vou te dar um beijo”. Em seguida, veio a pandemia e suas restrições.
Mas, claro que sempre recebíamos mensagens, vídeos e fotos. Aurora é fã da Monalisa e de Leonardo Da Vinci. Não sei de onde ela tirou isso. Mandou uma foto em que imita a pose, a feição e o olhar da musa italiana. É perfeita a encenação, embora, sem exagero, em matéria de beleza, Aurora deixe a Monalisa no chinelo.
Mas eu gostei também muito de um vídeo em que Judá e Aurora fizeram uma dança para espantar o coronavírus. Eles têm mais consciência do que vários governantes. Aurora é muito solidária com a mãe nas tarefas cotidianas: “O que seria de mim sem você?”, indagou a mãe, agradecida. Aurora não aliviou: “Uma fraqueza.”
Mas, voltemos ao Dia das Mães. Logo na chegada, Judá teve de ser contido, pois é impetuoso e afetuoso, subiu em uma cadeira e quis pular a janela para nos abraçar. Foi contido pela mãe, no entanto, ficou entretido com os brinquedos e esqueceu a barreira de vidro.
A primeira coisa que Aurora fez foi perguntar quando assistiríamos novamente ao espetáculo Os saltimbancos, montagem do bruxo emérito Hugo Rodas, com a Agrupação Amacaca. Realmente, seria uma bela celebração para o fim do cerceamento, que, infelizmente, ainda vai durar, principalmente pela insensatez dos governantes.
As duas crianças são muito alegres e instalam a festa por onde passam. Brincaram bastante e nos divertiram. Poucos minutos depois de saírem de casa, recebemos um e-mail com uma mensagem. Aurora tem o dom de ser amável e havia comentado no carro: “Esse foi o dia mais feliz da minha vida”. São essas pequenas gentilezas que nos dão força e alegria para sobreviver.
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