Correio Braziliense
postado em 27/05/2020 04:06
Shoppings centers do Distrito Federal retornam às atividades, hoje, às 13h, após 68 dias com as portas fechadas para os consumidores. E o cenário que a população vai encontrar é bem diferente daquele de dois meses atrás. A entrada será controlada pelos estabelecimentos, que vão medir a temperatura dos clientes e barrar a passagem de quem estiver febril ou sem máscara de proteção. As praças de alimentação estarão bloqueadas ou sem mesas, evitando qualquer consumo no local. Elevadores e estacionamentos passam a ter uso limitado e provadores estão proibidos, entre outras medidas (veja Deveres). Diante de tantas mudanças provocadas para prevenção contra o novo coronavírus, lojistas se reinventam para retomar as vendas afetadas pela crise e, ao mesmo tempo, garantir a segurança da população.
Os primeiros dias de reabertura devem contar com pouca movimentação, como espera Edson de Castro, presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista). “Será uma volta tranquila, até porque estamos em fim de mês, um período que, geralmente, conta com menos clientes nos shoppings. Além disso, a praça de alimentação e os cinemas continuam fechados, então o perfil das pessoas que vão passa a ser de quem quer comprar, não mais de quem vai passear”, analisa. Edson acredita, ainda, que esse retorno é necessário para a economia do setor. “Não dá para ficar com shoppings fechados até o fim do ano. Tem empresa falindo, gente perdendo emprego e passando fome. Então, temos que nos adaptar ao novo cenário, seguindo à risca as determinações de saúde”, defende.
Uma dessas ações, pensadas para a volta segura dos estabelecimentos, é a realização de testes rápidos em funcionários dos estabelecimentos. Ontem, foi o primeiro dia de exames gratuitos para comerciantes. Servidores da Secretaria de Saúde montaram um posto no Sesc da 504 Sul e realizaram cerca de 500 testes. Uma das pessoas submetidas à avaliação foi Janielly Tunico de Souza, 23 anos. “Trabalho em uma livraria de shopping, e fui orientada a fazer, já que vamos lidar com o público. Fico um pouco preocupada com a doença, mas também entendo que essa volta do comércio é necessária, porque tem muita gente sendo demitida. Então, agora é tomar os cuidados recomendados”, afirma. A testagem gerou aglomeração, mas, segundo o Sindivarejista, outros pontos de exames serão abertos nos próximos dias. Para empresários, uma retomada segura do comércio que foi autorizado a funcionar nesta semana pode ser a chave para outros setores conseguirem a liberação.
Vendas
Empresários de shoppings comemoram o retorno do segmento em um momento de crise financeira, mas ressaltam que a volta deve priorizar a saúde pública. Giuliano Bragaglia, superintendente do Conjunto Nacional, conta que o local contratou um serviço especializado em desinfecção, que atua a cada três horas em todo o empreendimento; realizou treinamentos com o time de manutenção; trocou cancelas que exigiam o toque; e transformou o Serviço de Atendimento ao Cliente em digital, pelo WhatsApp. “Nossa prioridade é zelar pela segurança das pessoas. Por isso, estamos atentos a todas as orientações dos órgãos de saúde, e tomando as medidas necessárias para garantir um ambiente saudável para quem passa diariamente pelo shopping, desde práticas de sanitização até serviços de apoio aos lojistas, como o delivery e drive-thru”, esclarece.
Patrícia Cunha, superintendente do DF Plaza, em Águas Claras, entende que o apelo de venda não deve ser prioridade agora. “Nosso shopping está determinado a cumprir as medidas do governo na proteção contra a covid-19. Porque nosso interesse, no momento, não é estimular a compra, mas mostrar que estamos juntos neste combate, que os lojistas estão aqui, mas com cuidados. É preciso retornar com calma e aos poucos. Em uma velocidade rápida, teria risco de agravar um problema que já é grande”, avalia.
Patrícia lembra, ainda, que o retorno às compras presenciais não significa que as empresas devam deixar de lado as operações virtuais. “As coisas vão ser diferentes. Então, precisamos nos adaptar, buscar formas de trabalhar on-line, por exemplo. Todo comércio individual dos shoppings precisa se reinventar”, comenta. O DF Plaza levou ações de entretenimento, que eram realizadas no local, para as redes sociais. São programações que vão desde oficinas de artesanato até lives teatrais e contações de histórias.
Juliana Guimarães, cofundadora do 55Lab.co, laboratório de negócios, afirma que estamos vivendo um momento “acelerador de futuro”. “Esse novo cenário antecipou demandas que já estavam em curso. As pessoas estavam revisando a forma de comprar, o impacto que os serviços causam, por exemplo. O varejo já estava em reconfiguração, com mais presença digital, oferecendo espaços que são mais de experiência do que venda”, pontua. Para a Juliana, o comércio agora precisa se colocar, ainda mais, no lugar do cliente e entender a situação que ele está vivendo. “Não adianta só colocar pontos de álcool em gel se na hora do atendimento um funcionário não respeita o distanciamento ou não pergunta como aquele cliente está enfrentando o processo da pandemia. É preciso estabelecer essa relação que diz ‘estamos juntos’, porque realmente estamos”, completa.
Parques e academias
A Secretaria de Esporte e Lazer do DF planeja um cronograma para a reabertura de parques e academias no Distrito Federal. O Sindicato das Academias do DF (Sindac-DF) tem uma reunião marcada, hoje, com a Casa Civil para tratar do tema. A atividade de profissionais de educação física foi considerada essencial na área de atendimento à saúde pelo Decreto nº 40.824, publicado em edição extra do Diário Oficial do DF de segunda-feira. Os presidentes do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar-DF) e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do DF (Abrasel-DF) também se reúnem com o governo para tratar de reaberturas. De acordo com a Abrasel, 40% dos donos de estabelecimentos têm menos de um mês de visibilidade sobre o futuro do negócio.
Palavra de especialista
Efeito sanfona
“É importante que qualquer flexibilização de isolamento dependa do momento da cidade, levando em conta a quantidade de leitos de UTIs disponíveis, o achatamento da curva de mortalidade e a curva descendente de casos confirmados, por exemplo. Temos que tomar um cuidado muito grande com isso para não gerar um efeito sanfona quanto às reaberturas. Liberar as atividades de um segmento, depois voltar a fechar porque os casos subiram. Isso seria um trauma social, e geraria um conflito de informações, porque seria difícil saber o que poderia funcionar ou não naquele momento. Também, temos que lembrar que a melhor maneira de administrar uma epidemia é ter a maior certeza possível de quantas pessoas estão infectadas e o perfil dessa população, com informações de sexo, idade, região e mais detalhes. Ou seja, quanto mais testes fizermos, melhor. Hoje, como não temos um tratamento definitivo, como um medicamento comprovadamente eficaz ou uma vacina, estamos vulneráveis a sermos infectados pelo vírus. O que a população tem que fazer é evitar situações em que se expõe mais. Há pessoas que precisam sair de casa, mas elas devem tomar os cuidados básicos, como utilizar máscara, ter o próprio álcool em gel e não tocar o rosto com a mão. São atitudes que minimizam bastante os riscos. O comércio tem que aderir a essas recomendações para proteger funcionários e clientes, testando os empregados, afastando quem tem sintomas por até 14 dias. Mas, também, é preciso ressaltar que o cidadão tem que ser protagonista da própria saúde. Isto é, não achar que o médico ou o gerente da loja são os únicos responsáveis pelos cuidados. A empresa pode cumprir as determinações do governo, mas e o trajeto que o funcionário faz antes de chegar lá? É um momento para que cada um entenda qual é o novo normal e cuide mais de si mesmo.”
Ricardo Ramos, presidente da Aliança para a Saúde Populacional (Asap)
Deveres
- Funcionamento entre as 13h e as 21h;
- Fornecer equipamentos de proteção individual e álcool em gel 70% a todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço;
- Realizar testes da covid-19, a cada 15 dias, em todos os empregados, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço (deixando os resultados dos exames disponíveis para conhecimento das autoridades de fiscalização);
- Manter fechadas as áreas de recreação e lojas como brinquedotecas, de jogos eletrônicos, cinemas,
- teatros e afins;
- Manter fechadas as praças
- e quiosques de alimentação, autorizando apenas serviços de entrega em domicílio e retirada do produto, vedado o consumo no local;
- Medição de temperatura de todos os clientes antes de entrarem no shopping;
- Proibir o uso de provadores;
- Limitar a 50% da capacidade total o uso do estacionamento;
- Bloquear ou retirar as mesas das praças de alimentação.
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