Cidades

Filas para entrar nos shoppings

Estabelecimentos controlaram a entrada de pessoas para medir a temperatura e fiscalizar o uso de máscara, o que gerou aglomerações do lado de fora. Dentro, porém, movimento foi baixo, com praça de alimentação bloqueada e entretenimentos proibidos

Correio Braziliense
postado em 28/05/2020 04:06
Movimentação dentro do Conjunto Nacional foi considerada baixa. Lojas de aparelhos eletrônicos foram os estabelecimentos mais visitados


O Distrito Federal registrou ontem, às 13h, diversos pontos de filas durante a reabertura dos shoppings centers da capital. O retorno desse segmento do comércio estava sendo aguardado com expectativa por lojistas e clientes, que encontraram um cenário inimaginável há dois meses. Enquanto o lado de fora era marcado pela aglomeração em estabelecimentos mais movimentados, o lado de dentro ainda tinha algumas lojas fechadas, áreas de entretenimento bloqueadas, praça de alimentação funcionando com restrições e pouca movimentação. Seguindo os protocolos estabelecidos em decreto para combate à covid-19, uma pessoa entrava por vez em cada portão disponibilizado. Seguranças mediram a temperatura, fiscalizaram o uso de máscaras e forneceram álcool em gel.

A população, sempre de máscara, que saiu de casa e compareceu à reabertura se dividiu entre quem acha positiva e quem acha negativa a volta do comércio. Ledijane Maria da Silva, 50 anos, foi ao shopping com o filho, mas disse acreditar que esse momento talvez não seja o ideal para o retorno das atividades. “Só fui por uma emergência, que não dava para resolver de casa. Acredito que agora os casos de coronavírus vão aumentar, mas sei que é difícil ter uma solução para isso, porque muitos dependem do trabalho”, conta a secretária. Ela também afirmou se sentir um pouco mais segura com os protocolos tomados pelos shoppings. “É bom saber que estão medindo a temperatura, fornecendo álcool em gel. Mas não tem como ficar 100% protegido”, avalia.

Lojas de aparelhos de tecnologia e de operadoras de celular foram as que registraram mais clientes. Yolanda Pereira, 48, precisou ir a esses estabelecimentos para ter acesso a serviços que não conseguiu on-line. “Eu me surpreendi com a quantidade de pessoas na fila. Fico um pouco apreensiva, mas acho que vão ter pontos positivos e negativos dessa abertura. É bom que agora conseguimos fazer muitas coisas que não davam para fazer de casa, pelo telefone, mas isso pode espalhar mais o vírus também”, considera a recepcionista.

Teve também quem considerou a flexibilização boa por conta da saúde mental durante o período de isolamento, como Sonia Ribeiro, 47. “Ir à rua pode ser perigoso por conta do coronavírus, mas ficar em casa esse tempo todo é estressante, causa até depressão. E como tinha muita gente perdendo emprego com o comércio fechado, essa volta é muito boa. Achei estranho ver a praça de alimentação sem cadeiras, ter essa fila para medir a temperatura, mas são coisas necessárias”, pontua a dona de casa. 

Adaptações
A rotina dos shoppings está sofrendo modificações para se adaptar ao novo cenário. Empresários vão avaliar o fluxo de clientes desta primeira semana, para pensar em mais ações de preservação da saúde dos compradores e mais estratégias de venda que não provoquem aglomerações em lojas. A gerente de livraria Fernanda Passos, por exemplo, conta que o estabelecimento dela fez deliveries durante o período de fechamento dos shoppings e agora vai avaliar os próximos dias para construir mais estratégias. “Vamos sentindo como será essa volta e pensando no futuro de pouco em pouco”, analisa. Ester Gonçalves também é lojista em um shopping e considerou o retorno das atividades um alívio. “Foram mais de dois meses sem renda e com as contas chegando. Então, foi difícil conter a ansiedade”, disse. 

Mas, representantes do setor ressaltam que o momento exige mais cautela do que de comemoração, como explicou Giuliano Bragaglia, superintendente do Conjunto Nacional. “Ficamos felizes com a reabertura, mas não é um clima de festa. Queremos um retorno gradativo e responsável, priorizando a saúde das pessoas”, avalia.

O cenário atual também conta com a tecnologia como aliada. No Pátio Brasil, câmeras termográficas fazem a triagem da temperatura corporal de quem entra, detectam pessoas sem máscaras e contabilizam o número de frequentadores. “É um equipamento chinês de alta tecnologia que dá segurança e conforto, porque não precisa ficar se aproximando muito de alguém ou demorando para avaliar a temperatura, por exemplo”, explica Paulo Henrique Chaves, diretor da empresa Setec. Renato Horne, superintendente do Pátio, acrescenta que a prioridade, agora, é dar segurança aos clientes e funcionários.




Palavra de especialista

“Temos alguns problemas nesse retorno, porque tem regra difícil de ser cumprida. Tudo bem que estamos observando as pessoas com a temperatura testada, recebendo álcool em gel, mas como garantir o distanciamento de quem está dentro do shopping? Também é preciso lembrar que uma pessoa pode estar com coronavírus e não apresentar febre.
A questão dos testes é outro ponto. O exame rápido que está sendo realizado com comerciantes dificilmente verifica o caso agudo, ou seja, aquele que está no começo e está sendo transmitido para outras pessoas. O ideal seria realizar o teste de PCR a partir do quarto dia de sintomas. Então, pode ser temerário flexibilizar agora. Por fim, temos que ter em mente que essa é uma via de mão dupla. O comércio pode voltar a fechar se o impacto for muito negativo.”

Ana Helena Germoglio, infectologista Hospital Brasília




Atenção redobrada

A Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio) realizou uma análise do primeiro dia de reabertura dos principais shoppings do DF. “Os estabelecimentos seguiram rigorosamente as normas de segurança, as lojas estavam com poucos empregados, os comércios de celulares estavam mais cheios e muito empresário não abriu, porque não tinha estoque. Só o cumprimento das obrigações de saúde vai permitir que se avance na reabertura de mais segmentos. Então, estamos empenhados nisso. Fizemos testes de covid-19 em 3 mil funcionários em dois dias e a meta é examinar 10 mil até sexta-feira”, sintetizou o presidente da Federação, Francisco Maia. A associação ainda detalhou a volta dos principais shoppings, confira:

ParkShopping

Filas: houve fila na abertura do estabelecimento, às 13h, mas controlada pelos funcionários que foram alocados para organizar a entrada do público. A todo momento, eles chamavam a atenção dos clientes para manter o distanciamento de dois metros

Funcionários: usando máscaras e álcool em gel, alguns até com luvas cirúrgicas

Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara

Movimentação: abaixo do normal

Higienização: reforçada

Pátio Brasil

Filas: houve fila na abertura do estabelecimento, às 13h, mas controlada pelos funcionários, que foram alocados para organizar a entrada do público

Funcionários: usando máscaras e álcool em gel, alguns até com luvas cirúrgicas

Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara

Movimentação: abaixo do normal

Higienização: reforçada

Conjunto Nacional

Filas: grandes filas, sendo controladas por marcação no chão e por funcionários

Funcionários: luvas e máscara estão sendo disponibilizadas aos colaboradores, que terão a temperatura aferida a cada 4 horas de jornada de trabalho

Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara

Movimentação: abaixo do normal

Higienização: foi contratada uma empresa especializada em desinfecção. O empreendimento recebeu, ainda, lixeiras exclusivas para o descarte de máscaras

Brasília Shopping; JK Shopping; Taguatinga Shopping e Terraço Shopping

Filas: sem muita movimentação

Funcionários: todos usando máscaras, oferecidas pelo próprio estabelecimento

Clientes: só entram após aferição de temperatura e se estiverem com máscara

Movimentação: abaixo do normal

Higienização: reforçada





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