Cidades

Com o isolamento social, Brasília resgata a tradição Cine Drive-in

Após mais de um mês fechado, o espaço foi reaberto em 28 de abril adaptado ao momento da pandemia

Correio Braziliense
postado em 31/05/2020 06:00
A estudante Milena Holanda, 22 anos,  planeja ir ao Cine Drive-in com a famíliaEm um passado de pouco entretenimento, era comum moradores de Brasília assistirem ao cinema ao ar livre. Acomodados dentro de carros ou do lado de fora, sob o céu, os telespectadores acompanhavam as projeções da época na tela de concreto, de 312m². Família, amigos, namorados e amantes compunham a cena do Cine Drive-in, inaugurado em 1973, e declarado, em 2 de janeiro de 2018, Patrimônio Cultural e Material do Distrito Federal. Com o tempo, o local foi perdendo público para os cinemas de salas fechadas, mas, nunca o coração dos apaixonados e curiosos pelo cinema ao ar livre.

Hoje, frente aos desafios da pandemia e com o isolamento social, o Cine Drive-in reconquista a antiga e a nova geração de Brasília. Após mais de um mês fechado, o espaço foi reaberto em 28 de abril, autorizado pelo Governo do Distrito Federal, agora com novas regras. “Quando a gente reabriu, parecia que estávamos com outro cinema, tudo diferente. A lotação diminuiu, a lanchonete está fechada, e só é permitido uma pessoa por vez nos sanitários”, declara a dona do estabelecimento, Marta Fagundes. 

A grande procura do público também surpreendeu. “Foi uma novidade para nós. Não esperávamos uma movimentação tão grande”, revela Marta. Segundo a proprietária, apenas na sexta-feira passada foram contabilizados 180 carros na fila para entrar na sessão. “Antes da pandemia, durante o fim de semana, a média era de 100 carros. Agora, essa rotina está completamente diferente. As pessoas ficam na fila uma hora e meia porque querem assistir ao filme. Fiquei muito feliz com o retorno dessa tradição. É a hora do Drive-in”, comemora. 

Desde criança, a cinéfila Natália Lobato, 19 anos, costumava ir com a família para o Cine Drive-in. Durante a pandemia, não foi diferente. Desta vez, na companhia de um amigo, ela chegou mais cedo para assistir à sessão das 18h30. “Fiquei mais de uma hora na fila, mas valeu a pena”, comenta. Para curtir o longa, eles levaram comida japonesa, travesseiro e cobertor. “Eu conheci o drive-in com minha mãe. Na época, levávamos um colchão e assistíamos do lado de fora do carro. Tenho muitas recordações ali”, lembra. Ver filme a céu aberto fez bem e a ajudou ainda mais durante o período de isolamento. “Foi muito bom ter ido, desestressar, ver gente, mesmo que de dentro do carro. Gosto muito do ambiente e me sinto nos anos 1990 quando vou”, conta. 

A ida da neta ao Cine Drive-in despertou as lembranças e saudades de Graça Mariano, 60, avó de Natália. “Há 30 anos, eu ia para lá com amigos, família e filhos. Era bem legal. Quando ia com as crianças, a gente levava lanche e ficava do lado de fora do carro”, conta. “Antigamente, não tinha esse tanto de shopping, não tinham muitos cinemas. Hoje, a oferta é gigantesca, por isso as pessoas esqueceram durante um tempo o Cine Drive-in. Fico feliz que essa tradição não tenha se perdido em Brasília. Pretendo ir em breve, já falei com minha irmã e minha prima para relembrarmos os velhos tempos”, planeja Graça. 

Resgate

A pandemia trouxe diversos desafios, mas também a certeza de que é possível se reinventar e buscar formas positivas de ver o mundo. E é o meio cultural que permite esse enfrentamento da realidade, segundo o professor de cinema do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) Paulo Duro. “O que eu tenho visto é que a cultura tem salvado muito a nossa sanidade mental. O Cine Drive-in traz uma dupla possibilidade: a de entretenimento e a de resgate histórico de uma memória que Brasília tem”, aponta. 

O acesso ao ar livre e o tamanho da tela chamam a atenção do telespectador. “Quando você vê, parece que está sendo projetado no céu. É uma experiência única”, revela o professor. Paulo vê este fluxo maior de pessoas na busca por cinema ao ar livre como uma tendência da pandemia. “O que era retrô vira vanguarda. O mais belo do Cine Drive-in é a resistência de se manter durante o tempo” reflete. 

A estudante Milena Holanda, 22 anos, ficou feliz com o retorno do Cine Drive-in e planeja ir com a família. “Gosto muito do ambiente, traz uma sensação boa e de paz. Ainda é muito confortável, porque dá para levar comida, sentar no porta malas e se cobrir com cobertor” explica. Além disso, a notícia de que o estabelecimento segue todas as medidas de segurança para evitar a propagação do novo coronavírus deixaram Milena mais tranquila. “O bom é que o espaço é aberto e que não temos contato com outras pessoas, além das que estão dentro do carro”, diz. Milena começou a frequentar o espaço em 2018. Desde então, vai pelo menos quatro vezes ao ano. “Gosto de apresentá-lo às pessoas. É um ambiente turístico de Brasília que todos deveriam conhecer e preservar”, reforça. 

  • Duas perguntas para psicóloga Natassia Bueno 

    Por que, neste período de pandemia, o entretenimento e a cultura são tão importantes para a saúde mental?
    A pandemia trouxe, para o mundo, muitas preocupações. O medo do contágio e das graves consequências que a doença pode ter levaram à necessidade de fazermos adaptações em nossas vidas, uma delas é o isolamento social. Esta situação requer um esforço de todos para manterem-se em casa, com o mínimo contato possível com outras pessoas, diminuindo, assim, os riscos de contágio. Neste contexto, muitos tiveram grandes mudanças em suas vidas. Estamos enfrentando desafios para os quais não estávamos preparados: trabalho remoto, o “homeschooling”, a necessidade de cuidar da casa e as restrições relacionadas às relações sociais. Muitos depararam-se com sentimentos como tristeza, solidão, desespero, desamparo e ansiedade. Tais estados mentais podem ser paralisantes e fazem com que a vida pareça muito difícil. O entretenimento e a cultura ganham, portanto, papel ainda mais importante em nossas vidas, porque ajudam as pessoas a manterem seus pensamentos em outras coisas, que não a pandemia. Conseguir manter o foco em algo que nos distraia, que nos traga bons sentimentos é uma estratégia excelente para conter a ansiedade e gerar pensamentos mais positivos.

    Como o cinema pode influenciar na vida das pessoas? Pode ser uma fuga da realidade em que vivemos?
    O cinema é um elemento cultural de entretenimento. As pessoas assistem a filmes para distrair a mente, fazer reflexões ou conhecer histórias. Filmes proporcionam momentos de prazer quando o espectador se conecta a outras histórias. Pode até haver uma busca para fugir dos  problemas, da realidade, mas a fuga não duraria muito tempo. Se alguém julga que a vida está muito difícil, ela precisa buscar ajuda de um profissional para que possa desenvolver mecanismos de enfrentamento dos problemas, e não de fuga da realidade.


  • Programação de hoje

    O PARQUE DOS SONHOS

    Classificação: livre 
    Duração: 1h25min
    Horário: 18h05
    Diretor: David Feiss, Dylan Brown (II)
    Gênero: Animação, Comédia, Família
    Idioma: Dublado

    JUMANJI: PRÓXIMA FASE

    Classificação: 12 anos
    Duração: 2h4min
    Horários: 19h30 
    Diretor: Jake Kasdan
    Gênero: Aventura, Comédia
    Idioma: Dublado

    A GRANDE MENTIRA

    Classificação: 16 anos 
    Duração: 1h50min
    Horário:  21h40 
    Diretor: Bill Condon
    Gênero: Drama, Suspense
    Idioma: Legendado

    Ingressos
    Segunda a quinta-feira 
    Inteira: R$ 28
    Meia: R$ 14

    Sexta a domingo e feriados
    Inteira: R$ 30
    Meia: R$ 15

    Estudantes com carteirinha, idosos e crianças até 10 anos pagam meia.
    Pagamento em dinheiro e cartões de débito e crédito


  • Tendência 

    O Taguatinga Shopping vai inaugurar, em junho, um cinema drive-in que será instalado no último andar de estacionamentos do centro de compras. O drive-in será ao ar livre e com garantia de distanciamento social. A programação ainda não foi definida, mas a organização adianta que serão filmes já exibidos, dentre eles clássicos da comédia, família e infantis. 

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