Correio Braziliense
postado em 01/06/2020 04:31
Ao Fritz, um até logo
A 404 Sul não será mais a mesma. Muitas das comerciais do Plano Piloto, aliás, terão nova cara quando a pandemia acabar. O vírus arrasa as terras por onde passa, em todos os continentes. Além das inúmeras mortes, encerra outros sonhos. Depois de 40 anos, foi o que aconteceu com o Fritz, tradicional restaurante da quadra.
Apesar do sobrenome alemão, conheço pouco da cultura e da culinária daquele lado do continente europeu. Meu pratos favoritos são os de origem italiana. Mas a viagem gastronômica que a visita ao restaurante de pratos típicos austríacos e alemães proporcionava era encantadora.
O contraste das toalhas em tom bordô com a madeira, schüblig com salada vienense — aquela servida fria, com molho de azeite e vinagre e ovos cozidos — formavam a atmosfera e a pedida perfeitas para um almoço de domingo na companhia da família.
A ideia de Friedrich Fritz virou um legado de 40 anos. Nascido em Viena e marcado pela tristeza e pela dor da Segunda Guerra Mundial, ele trouxe o DNA de pioneiro comum a tantos candangos. Um ano antes da inauguração da nova capital do Brasil, ele chegava, com mulher e dois filhos, trazendo as habilidades em marcenaria. Anos mais tarde, no fim da década de 1970, decidiu mudar de rumos e investir na gastronomia.
A colunista do Correio Liana Sabo resumiu bem a vocação do restaurante, que encerrou as atividades ontem, sob aplausos de clientes e o olhar emocionado da filha de Fritz, Cristina Klinger: era um grande exemplo da origem cosmopolita da gastronomia de Brasília. “As primeiras pessoas a abrirem restaurantes eram sonhadoras, forasteiras vindas de vários países”, completa Liana.
Friedrich significa paz, lembrou o empresário em entrevista à colega Sibele Negromonte em 2018, quando foi homenageado na coluna Encontro com o chef. Manter o estabelecimento de portas abertas era, para Cristina, uma forma de honrar o legado do pai. E, se depender dela e de tantos admiradores daquele restaurante de esquina, virado para a L2 Sul, a memória de tudo o que foi vivido ali permanecerá. A herdeira pretende, no futuro, analisar o cenário pós-pandemia e, quem sabe, nos surpreender com uma nova ideia e com a construção de um novo sonho.
Por isso, para o Fritz, vai um “até logo!”
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