Correio Braziliense
postado em 02/06/2020 04:06
Bomba! Neste momento dramático, esta coluna conseguiu uma entrevista mediúnica exclusiva com o escritor, filósofo e semiólogo italiano Umberto Eco (1932-2016). Ele explica porque na internet os idiotas têm a mesma voz de um ganhador do Prêmio Nobel.
Por que o senhor critica de maneira tão contundente as mídias sociais?
As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel.
Qual a contribuição da internet para a política?
O populismo midiático; significa apelar diretamente à população por meio da mídia. Um político que domina bem o uso da mídia pode moldar os temas políticos fora do parlamento e até eliminar a mediação do parlamento.
A internet tornou as pessoas mais bem informadas?
A internet não seleciona a informação. Ela ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo chega, abruptamente, sem hierarquia.
Mas não alimenta a sede de informação?
A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar.
A internet substituiu o jornalismo?
A internet pode ter tomado o lugar do mau jornalismo. Se você sabe que está lendo um jornal como El País, La Repubblica, Il Corriere della Sera…, pode pensar que existe um certo controle da notícia e confia. Por outro lado, se você lê um jornal como aqueles vespertinos ingleses, sensacionalistas, não confia.
E com a internet?
Com ela acontece o contrário: confia em tudo porque não sabe diferenciar a fonte credenciada da disparatada. Basta pensar no sucesso que faz na internet qualquer página web que fale de complôs ou que invente histórias absurdas: tem um acompanhamento incrível, de internautas e de pessoas importantes que as levam a sério.
E como o jornalismo impresso poderia se contrapor à internet?
Um jornal que soubesse analisar e criticar o que aparece na internet, hoje, teria uma função.
A arte pode ser uma alternativa às ilusões do mundo virtual?
A arte só oferece alternativas para quem não está preso aos meios de comunicação de massa.
Os livros também não podem produzir ilusão?
Os livros não foram feitos para serem acreditados, mas para que os questionemos. Quando lemos um livro, devemos perguntar a nós próprios não o que diz, mas o que significa.
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