Cidades

Covid-19 é desafio no HCB

Hospital da Criança tem 30 profssionais e dois pacientes que testaram positivo para coronavírus. Local adaptou o acolhimento e a estrutura: uma das medidas foi a criação de ala exclusiva para tratamento da doença

Correio Braziliense
postado em 02/06/2020 04:06
Hospital montou a ala Leão Marinho com 10 leitos de unidades de terapia intensiva voltados para receber apenas crianças com a covid-19

O Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) adotou novos protocolos de atendimento para evitar que pacientes e profissionais sejam infectados pelo novo coronavírus. Duas crianças estão internadas na unidade de saúde, após testarem positivo para a covid-19. A mais velha, de 14 anos, chegou ao hospital na quarta-feira e, desde então, está na unidade de terapia intensiva (UTI) criada para atender, exclusivamente, casos suspeitos ou confirmados da doença. A paciente mais nova, de 10 anos, deu entrada no sábado, transferida do Hospital Regional da Ceilândia (HRC), em função de uma síndrome inflamatória multissistêmica. Segundo o HCB, ela foi imediatamente isolada e, na manhã de ontem, seguiu para a UTI, onde encontra-se estável e com sinais vitais normais. Até o momento, 30 profissionais do hospital testaram positivo para o vírus.

A principal adaptação na unidade é, justamente, a instalação da UTI batizada de Leão Marinho. A ala conta com 10 leitos de suporte intensivo e com equipe treinada para atuar, especificamente, em casos da covid-19. O espaço possui entrada e saída separadas das demais áreas do hospital para evitar risco de contágio.

Pai de um dos pacientes internados, no local, com a covid-19, o pedreiro Lucas Dantas, 35, está otimista, após temer pelo pior. “Quando recebemos a notícia, ficamos desnorteados. Tive um medo danado de meu filho morrer. Mas, depois, vamos nos acalmando e, com a ajuda de Deus e do pessoal do hospital, ficamos mais tranquilos. Ele vem sendo medicado e está melhor. Os profissionais são muito bons e prestativos. Graças a Deus está dando certo”, disse o morador de samambaia, que também testou positivo para coronavírus.

Lucas está isolado, como acompanhante do filho, em um dos quartos da ala Leão Marinho, desde a transferência da criança do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), onde ela estava internada há, aproximadamente, um mês. O menino fazia tratamento, no HCB, para doença falciforme e recebeu o resultado positivo para o vírus antes de ser encaminhado à unidade. De acordo com a superintendência do HCB, o estado do garoto é estável.

O Hospital da Criança é referência no atendimento a pacientes de 28 dias a 18 anos de idade, com doenças grave ou de alta complexidade, e conta com cerca de 20 especialidades médicas. No entanto, a unidade não atua como referência para casos específicos de covid-19. Antes da pandemia de coronavírus, o hospital realizava em torno de 7 mil consultas mensais. Atualmente, são cerca de 5 mil atendimentos — dos quais metade são presenciais e o restante é feito por meio de teleconsulta, outra medida adotada para reduzir o fluxo de pessoas no local e diminuir o risco de contaminação pelo vírus.

O hospital possui 200 leitos — 38 são de unidades de terapia intensiva regulares, além dos 10 destinados, exclusivamente, a pacientes com suspeita e diagnóstico de covid-19. Ao todo, 105 pacientes estão internados na unidade de saúde. Desses, 81 na enfermaria, 22 em UTIs regulares e dois, na ala Leão Marinho.

Ala especial

Em funcionamento desde 30 de março, o setor foi criado para receber crianças e adolescentes com suspeita ou confirmação da covid-19. Além dos 10 leitos de UTI exclusivos, a ala conta com 30 profissionais, entre médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e técnicos de enfermagem.

“Quando a criança chega, fica em dois leitos, onde é avaliada, já dentro do ambiente da UTI. De acordo com as condições, ela é encaminhada para o local onde estão os outros oito leitos. Ali, é colhido o material para fazer o exame. Temos condições de ter o resultado no mesmo dia”, explica o superintendente executivo do HCB, Renilson Rehem. “Toda criança que entra ali é tratada como suspeita da covid-19. Mas, diante do resultado do teste, passamos para a Leão Marinho ou para a ala de internação. Ao todo, 22 pacientes chegaram com síndrome respiratória grave, até agora, e deram negativo”, complementa.

De acordo com Rehem, a unidade possui toda a estrutura de monitoramento intensivo, que inclui régua de gases, quartos individuais, posto de enfermagem, monitores de sinais vitais e equipe dedicada e treinada para trabalhar na UTI. “Se nós tivermos qualquer problema de contaminação, temos esse grupo separado e um controle maior. Eles também dispõem de todo o equipamento de proteção individual”, pontua. Um laboratório de simulação realística também é utilizado para capacitação dos profissionais de saúde.

Atendimentos

Com as mudanças provocadas pelo coronavírus, o hospital adaptou os atendimentos de rotina prestados aos pacientes. Foram definidos três grupos, entre os que poderiam ter atendimentos adiados, os que necessitam ir à unidade durante a pandemia e os que passaram a ser acompanhado remotamente, por videoconferência e telefone. A musicoterapia tem sido realizada por videoconferência e a farmácia ambulatorial passou a entregar medicamentos, também, à domicílio.

Davi Henrik Diniz Brito, 4, filho da promotora de vendas Elijânia Gomes Diniz, 38, sofre de asma crônica e alergia. Ele é paciente do hospital há cerca de dois anos. O menino é assistido por pneumologistas, alergistas e psicólogos. Diante das das consequências severas da covid-19 em pessoas com patologias respiratórias, a mãe de Davi se viu apreensiva. No entanto, segundo ela, as consultas remotas têm tranquilizado a família. “Está sendo maravilhoso. O atendimento é muito bom e os profissionais são atenciosos. Fiquei com medo de não dar certo. Quem tem criança com problema respiratório, fica preocupadíssimo. Mas me tranquilizaram, e tudo que tinha para falar deu para ser conversado por telefone. Me explicaram certinho e passaram os remédios. Aí, o pai do Davi só precisou buscar a receita”, conta a moradora da Candangolândia.

As visitas aos pacientes internados no hospital também contam com novas regras. As crianças podem receber um visitante por dia e têm apenas um acompanhante, que não pode apresentar sintomas de gripe. O hospital recomenda ainda que tanto visitantes quanto acompanhantes não sejam do grupo de risco para covid-19.

Atendimentos mensais (antes da pandemia): 7 mil

Atendimentos mensais (durante a pandemia): 5 mil

Pacientes internados no hospital: 105

Pacientes internados em UTIs regulares: 22

Pacientes internados na ala Leão Marinho: 2

Pacientes diagnosticados com covid-19: 2



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