Correio Braziliense
postado em 07/06/2020 04:26
O copo está meio cheio ou meio vazio? Essa é uma expressão clássica que se refere a como as pessoas enxergam as situações da vida, se de forma mais positiva ou negativa. A pandemia do novo coronavírus mudou, completamente, o cotidiano de todo mundo. No Distrito Federal, muitos escritórios precisaram fechar as portas, dando lugar ao home office. O funcionamento dos comércios ficou suspenso, agora volta devagar. As escolas ainda estão fechadas. Mais em casa, cada um precisou adaptar a rotina para fugir da ansiedade e do tédio causados pelo momento. E, além disso, ocupar o tempo vago. Muitos veem o período como uma oportunidade para começar coisas novas e adquirir outras habilidades. Especialistas ressaltam que esta é uma boa hora de experimentar o novo.
Estudiosa em psicologia positiva, Bárbara Marangon explica que, antes da pandemia, a correria do dia a dia impedia que muitas pessoas arriscassem fazer coisas novas. Agora, no entanto, é um bom momento para investir em si mesmo, com atividades que auxiliem, acima de tudo, o bem-estar e a autoestima. “A gente estava em um momento de não parar para se observar. Estava naquela coisa de só produzir. Agora, temos a oportunidade de estar em casa, que ao mesmo tempo é boa e ruim, porque a gente está numa privação por obrigação, e não por vontade própria. É um momento bom para se descobrir, ter projetos novos no trabalho, reinventar-se”, disse.
Bárbara afirma que não existe receita na hora de procurar um novo hábito. Primeiro, a pessoa precisa saber o que quer e onde quer chegar. “Fazer algo que já gosta é bom para o bem-estar, dá uma sensação de recompensa. Agora, coisas novas são boas para desafiar e sair da zona de conforto. Ficar na mesmice cai na postergação, do não fazer, porque está acostumado”, ressalta. Para começar algo, a especialista orienta estabelecer metas. “Começar com coisas pequenas. Talvez a pessoa que não tenha o hábito de ler, comece a ler. Não se movimenta, começa a se movimentar. Só descobre coisas novas, fazendo, Se gostar, continua. Se não, parte para a próxima”, aconselha.
A estudante de direito Emilly Alves, 26 anos, conta que sempre foi apaixonada por gastronomia. Mas, com a rotina dos estudos e do estágio, não conseguia se dedicar. Hoje, após as aulas on-line, ela tira um tempo para testar receitas que vê na internet. “Eu amo estar na cozinha. Aprendi isso com meu pai, que é cozinheiro. Desde a infância, eu ficava encantada vendo os processos de cada prato que ele fazia e sempre quis repetir. Agora, o momento é difícil, mas decidi colocar isso em prática. Nesses quase três meses, fiz bolos, doces, tortas e até pães, que nunca tinha arriscado antes”, diz.
De uma família predominantemente de servidores públicos, Greice Alves, 37, dedica-se há 13 anos à profissão de assessora de imprensa. Com o início da pandemia e a crise na iniciativa privada, ela decidiu investir nos estudos para concurso. “Veio-me um momento de reflexão, principalmente em virtude da instabilidade que, hoje, as empresas enfrentam. Resolvi conciliar as demandas de trabalho e, no fim do dia, dedicar-me aos estudos diariamente, inclusive noa fins de semana”, conta. Esse era um projeto que ela tinha há muito tempo, mas conseguiu concretizar agora. “A pandemia intensificou o desejo”, afirma.
Projeto
Com a suspensão das aulas, a professora Jéssica Rodrigues, 26, juntou-se a três colegas de trabalho (Gabrielle Sabrine, 25; Larissa Oliveira, 24; e Brunna Lepesqueur, 26) para iniciar um projeto de educação no Instagram (@praxisdicas). Na rede social, elas dão dicas aos pais de como desenvolver atividades com as crianças em casa. Todo o material é fundamentado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ministério da Educação. “É a alternativa que temos, hoje, para colocar nossas ideias. Fazemos um planejamento e damos sugestões, por meio de vídeos. Era algo que cada uma tinha vontade antes. Uma tomou a iniciativa e convidou as outras. O sonho começou ali”, conta.
Algumas integrantes do grupo tiveram o contrato de trabalho cancelado e essa foi a forma que encontraram para se reinventar. “Acreditamos que é o momento. Temos mais tempo para pesquisar sobre o assunto e outras áreas também. Tudo está acontecendo nas redes sociais. É algo bem leve. Não existe cobrança”, declara Jéssica. A ideia das pedagogas é ampliar o projeto após a pandemia. “Nossa vontade é, futuramente, dar palestras e fazer encontros com pais e professores para falar sobre educação. Depois desse período que estamos, vamos continuar, com certeza”, completa a professora.
Autocuidado
A empresária Camila Xavier, 37, aproveitou o período de home office para se dedicar mais ao autocuidado. A rotina intensa a impedia de tirar momentos para ela mesma. Agora, tira, pelo menos, um dia para manter os cuidados com a beleza e corre pratica exercícios físicos todos os dias. “Não fazia antes por falta de tempo, de disposição. Agora, mais em casa, não tenho desculpa”, brinca. Recém-curada da covid-19, todas as atenções estão voltadas à saúde. “Fiquei com o pulmão prejudicado, comprometido. Nas corridas, tinha dificuldade e falta de ar. Mas é um trabalho de formiguinha, ir aos poucos, caminhando, arriscava corridas leves. Hoje, estou um pouco melhor. Vi necessidade de estar em movimento”, diz.
Além dos cuidados com a saúde, a empresária tem feito cursos on-line. “Estou me reciclando. Tenho lido coisas na internet, assuntos da minha área e do meu interesse, como empreendedorismo feminino. Estou aproveitando esse tempo para me capacitar mais, principalmente para investir no meu negócio”, conta Camila. Ela é dona da marca de pipocas Pipoquitas Gourmet.
Cuidado com o excesso de cobrança
Bárbara Marangon, especialista em psicologia positiva, destaca que existe uma autocobrança por não fazer alguma coisa. Assim, muitas pessoas têm a sensação de não “produzir”. Uma boa ideia para diminuir a cobrança é anotar tudo o que precisa fazer em uma agenda. “A gente acha que só porque aquilo não é tão importante, a gente não fez muita coisa, mas fez”, diz. Outra dica é se parabenizar toda vez que finalizar alguma atividade. “A gente tem tendência de ser gentil com outras pessoas e maldoso com a gente, de elogiar pequenas coisas de outras pessoas e a gente, não. Temos a tendência de sempre querer coisas grandiosas, grandes conquistas, quando grandes coisas vêm de pequenas atitudes que sejam diárias. É uma construção diária”, completa.
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