Correio Braziliense
postado em 08/06/2020 04:14
A primeira semana do mês de junho registrou 6.843 novos casos de covid-19. O número é 723% maior na comparação dos primeiros sete dias de maio, quando foram contabilizados 831 casos. Com isso é possível dizer também que, no DF, este mês, uma pessoa é infectada a cada dois minutos em média. No mês passado, havia uma infecção a cada 12 minutos.
Exponencialmente, o número de contaminados pelo novo coronavírus no DF tem crescido em uma média de 20% a cada dia. O maior número foi registrado no sábado, com 1.642 novos casos confirmados. Na quinta, o número chegou a 1.127 e na sexta, a 1.285. O domingo terminou com 773 novos infectados pela covid-19 no Distrito Federal.
Diante dos números, a Secretaria de Saúde estima que o pico epidêmico local, momento em que os números devem começar a diminuir, como observado em outros países que também enfrentaram a doença, deve acontecer na primeira quinzena de julho. Segundo a pasta, com as projeções e ampliação do atendimento em hospitais, incluindo leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) no sistema público e privada contratada, a rede está preparada para atender a esta demanda.
Segundo o professor Jonas Brant, do departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) e participante da Sala de Situação da Universidade e do Comitê da Covid-19, é possível que a data esteja um pouco para a frente, no final do próximo mês. Até este momento, ele avalia que o DF poderá ter cerca de 8 mil infectados diários. “Nós ainda estamos no início da pandemia, ainda vai crescer muito”, avalia.
De acordo com o especialista, os estudos mostram que poucas pessoas foram expostas ao vírus até o momento, portanto a política de relaxamento do isolamento social e a ideia de imunidade de rebanho como uma tentativa de acelerar a chegada do pico para, só então, tratar as consequências, não é a melhor saída para o DF.
“Não entendemos o foco de muitos estados estarem à espera do pico para depois solucionar os problemas que este lhes causou. A ideia não pode ser essa. Nós temos que conter a disseminação e não amenizá-la. Se poucas pessoas estão expostas à covid-19 e temos esses números, imagine se tivermos mais contato social? O número de mortos seria inimaginável”, pondera Jonas.
Mortes
Em contrapartida ao número crescente de infectados, o aumento de óbitos no Distrito Federal não caminha na mesma proporção. De acordo com o último boletim da Secretaria de Saúde divulgado ontem, 196 pessoas morreram de covid-19 no DF até o momento, quatro somente no ontem.
Segundo o especialista, a explicação para isso é uma boa ação da administração local. “O Laboratório Central de SaúdePpública do DF conseguiu organizar uma rede de parcerias, inclusive, com apoio da Universidade de Brasília (UnB) e outras áreas da saúde, que ampliaram muito a capacidade de testagem da população. Isso permitiu conhecer mais casos e a tendência é que, assim, a letalidade, proporção de casos que evoluem para mortes, seja menor do que em outros estados”, avalia.
Isolamento
A cidade com a menor taxa de isolamento do Distrito Federal tem o maior número de mortes pelo novo coronavírus. Segundo o Governo do Distrito Federal (GDF), na última semana, apenas 31% da população de Ceilândia cumpria o distanciamento social. A região administrativa completou, também, uma semana no topo do ranking de números de casos. São 1.968 infectados e 42 mortos em decorrência do coronavírus.
O aumento dos registros fez com que o governador Ibaneis Rocha (MDB) determinasse o fechamento, por 72h, a contar a partir desta segunda-feira, das atividades do setor produtivo, além de proibir aglomerações e eventos culturais e religiosos em Ceilândia, Sol Nascente e Estrutural.
Para Jonas, a medida pode desacelerar a curva de contaminação, mas trata-se de um “erro estratégico” do governo, uma ação que apenas ameniza, mas não contém o avanço da doença. “Com os comércios fechados, isso, na teoria, vai diminuir o contato pessoal e a disseminação do vírus, mas ainda há o comércio informal, as pessoas podem sair dessas regiões para consumir em outros lugares, ou seja, sem isolar os casos positivos e os contatos, não se contém a pandemia”.
“Não é de dentro do gabinete que se contém uma pandemia, é preciso uma atenção primária forte, ação no nível local. O DF tem agido muito no nível político, o que é bom, mas pouco no nível local. Então, essas ações em Ceilândia, se não forem acompanhadas de um isolamento de casos, busca de contatos e aumento de testagem, tendem a ser pouco efetivas”, critica.
Segundo o especialista, com todas as ações demonstradas até o momento, é possível que, a partir de agosto, o DF passe a viver uma desaceleração da contaminação do vírus, mas provavelmente ainda teremos que investir em medidas de distanciamento até o fim do ano.
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