Cidades

Um pedacinho do Irã no Brasil

Poucos meses depois da transferência da capital, a Embaixada do Irã se instalava no Planalto Central, em 7 de junho de 1960. Por causa da pandemia, data foi lembrada em cerimônia simbólica

Correio Braziliense
postado em 09/06/2020 04:07
A Embaixada do Irã ocupa uma área de 25 mil metros quadrados, no Setor de Embaixadas Sul: uma das primeiras representações diplomáticas inauguradas em Brasília

Em 7 de junho de 1960, com a presença do então presidente da República Juscelino Kubitschek, a Embaixada do Irã transferia definitivamente as instalações do Rio de Janeiro para a recém-inaugurada Brasília. Juntava-se a outras representações diplomáticas que, aos poucos, se mudavam para a nova capital da República. As construções erguidas de forma provisória, em um setor destinado a receber as delegações estrangeiras, traziam importante decisões do Brasil para o centro do país. No último domingo, a embaixada comemorou o sexagenário aniversário no Distrito Federal com gratidão e homenagens.

“Abrir uma nova embaixada em uma nova cidade não é uma tarefa fácil. Quando o governo brasileiro decidiu mudar a capital para Brasília, o Irã se uniu ao desejo do país anfitrião em fazer a cidade operar como uma capital regular. A delegação do Irã trabalhou dia e noite nos preparativos necessários para a abertura o mais rápido possível”, relembra o embaixador, Hossein Gharibi. A primeira embaixada do país no Brasil foi fundada em 1943, na então capital do país, o Rio de Janeiro, onde funcionou até a transferência para Brasília.

As relações entre as duas nações, porém, começaram bem antes, segundo Hossein Gharibi, há 117 anos. O primeiro encontro entre os representantes dos dois países foi em 1903, nos Estados Unidos, e em 1935, o embaixador do Irã em Buenos Aires foi acreditado como embaixador do Irã no Brasil.

O arquiteto Paulo Roberto Alves dos Santos, mestre em história da arquitetura e urbanismo pela Universidade de Brasília (UnB), explica que o Setor de Embaixadas fazia parte do plano original de Lucio Costa. “A maior parte das embaixadas, que vieram antes, ficaram no Setor de Embaixadas Sul. O Setor de Embaixadas Norte ficou menor, por conta da Universidade de Brasília”, explica.

Os terrenos eram também uma forma de incentivar a vinda das representações estrangeiras para Brasília. “O governo ainda não havia sido transferido completamente para a cidade. No início, nos anos 1960, algumas representações construíram sedes provisória e, após a década de 1970, com a vinda do Itamaraty, começaram a construir de forma definitiva”, detalha Paulo. A Embaixada do Irã, por exemplo, foi inaugurada apenas com uma casa de madeira, segundo o arquiteto.

Paulo explica que outros países também fizeram construções provisórias, mas que foram demolidas, como a Inglaterra e os Estados Unidos. Ele afirma que a primeira embaixada a concluir as instalações definitivas foi a Sérvia e Montenegro. “Ela foi levantada entre junho de 1964 e 1965. Por causa da guerra fria, queriam mostrar poder. Depois, o país se separou e virou duas embaixadas: a da Sérvia e a de Montenegro”, detalha.



Boas relações

As embaixadas cumprem papel na área política, econômica, cultural e consulares. O embaixador do Irã, Hossein Gharibi, destaca que sempre houve boas relações entre os dois países, e o dever das representações é manter esse contato positivo. “Aos meus colegas brasileiros, esta embaixada os recebe sempre que podemos ajudar. Temos excelentes potenciais que podemos utilizar para os interesses de ambas as nações”, destaca.

Os dois países têm importantes relações econômicas e comerciais. O Irã é, atualmente, um dos principais parceiros do Brasil na importação de produtos agrícolas e pecuários. A representação também traz um pouquinho do país para dentro de Brasília.

Devido à disseminação da covid-19 e às orientações para evitar aglomerações, a Embaixada do Irã celebrou a data de forma simbólica, com uma cerimônia curta. O embaixador recebeu, no domingo, a neta do presidente Juscelino Kubitschek Ana Cristina Kubitschek, o marido dela, o empresário Paulo Octávio, o jogador de futebol Lúcio e a chefe do escritório de Relações Internacionais, Renata Zuquim. “Comemorando o 60º aniversário da abertura desta embaixada é uma maneira de enfatizar que permanecemos juntos para enfrentar os desafios, particularmente no mundo pós-corona”, ressaltou Hossein Gharibi.

Segundo o embaixador, não há muitos iranianos morando na capital. “Conversei com vários deles por telefone, pois não conseguimos nos reunir presencialmente nos últimos três meses, devido à pandemia do coronavírus. Desejo-lhes plena saúde e tenho esperança de poder nos reunir em breve.”
 
 

Palácio dos Arcos
O Palácio do Itamaraty, também conhecido como Palácio dos Arcos, só foi inaugurado oficialmente em 20 de abril de 1970, durante a gestão do presidente Emílio Garrastazu Médici, embora sua primeira recepção oficial tenha ocorrido três anos antes. O projeto é do arquiteto Oscar Niemeyer e do engenheiro estrutural Joaquim Cardozo. Já o paisagismo é de Roberto Burle Marx.

 
 
Para saber mais

A Embaixada do Irã está localizada no Setor de Embaixadas Sul. O projeto arquitetônico da chancelaria é de autoria de Holf Wener Huther, já o da casa do embaixador ficou a cargo de Mehdi Kazemi Did-hendi. Os prédios são construídos em estrutura de concreto e armação de alvenaria. Ocupa uma área total de 25 mil metros quadrados, sendo 1.949m² de área construída, dividida em dois pavimentos.

Fonte: Paulo Roberto Alves dos Santos, arquiteto e mestre em história da arquitetura e urbanismo

 

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