Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 11/06/2020 04:17
Ciência e insciência

Em princípio, o Brasil teria tudo para desempenhar um comportamento exemplar no combate à pandemia. Dispôs de tempo para tomar como referência a experiência dos outros países e preparar a estrutura, conta com um amplo sistema de saúde pública e com um grupo de cientistas e médicos qualificados.
Todavia, por aqui, o coronavírus conquistou um poderoso aliado: a irresponsabilidade ou a falta de firmeza de alguns governantes. O governador do DF começou bem, antecipando o isolamento antes de qualquer outra unidade da Federação. Mas, aos poucos, cedeu às pressões do presidente e enfrenta problemas em várias cidades.

A análise do ranking de casos e de óbitos em cada região administrativa do DF é reveladora do óbvio. Quem fez ou pôde fazer o isolamento social de maneira correta controlou a doença e ocupa os últimos lugares da lista. Quem não fez, desponta nos primeiros postos.

No início da pandemia, o Lago Sul, o Lago Norte, o Plano Piloto, o Sudoeste e Águas Claras ocupavam o topo do ranking. Mas, com exceção do Plano Piloto, todas essas regiões conseguiram reverter a situação. É estranho que, no momento da elevação dos casos, o Eixão e a W3 Sul sejam liberados para o lazer nos feriados e fins de semana.

A Ceilândia, Samambaia e Taguatinga ascenderam de maneira dramática em número de casos de contaminação. Será coincidência o fato de que o presidente esteve em duas dessas cidades (Ceilândia e Samambaia) fazendo campanha contra o isolamento social?

Contudo, esse quadro resulta, também, da condução errática do governador do DF, sempre querendo acender uma vela para o combate ao coronavírus e outra para agradar o presidente. Não só em Brasília, mas na maioria das capitais brasileiras, governadores e prefeitos reabriram o comércio como se a batalha contra o coronavírus estivesse ganha. Em Brasília, o governador teve de recuar e fechar Ceilândia por três dias, medida paliativa que, segundo os especialistas, tem pouco efeito.

Quando o ministro Mandetta deixou o ministério da Saúde, demitido por Jair Bolsonaro, o governador do DF comentou: “Já vai tarde”. Agora, estamos percebendo o alcance da perda de uma pessoa competente, com liderança e responsabilidade no comando do Ministério da Saúde.

A nossa vida está nas mãos do doutor Pazuello, do doutor Jair e do doutor Weintraub. Alguns governantes colocam-se na situação do suposto homem que enganou o coronavírus e ainda pediu troco. Mas o vírus não faz essas barganhas, não bajula, não precisa manter o cargo. Ele tem o próprio tempo.

A OCDE já se manifestou no sentido de indicar que o que impacta a economia é a pandemia, não o isolamento social. Essa insistência em seguir na contramão da ciência terá consequências ainda mais graves para a economia. Precisamos aprender com as experiências dos outros países e do nosso país. Errar é humano, insistir no erro é sandice.



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