Cidades

De casa, brasilienses contemplam e registram o espetáculo do pôr do Sol

Mesmo em tempo de pandemia, o show que se apresenta diariamente para os brasilienses é um convite à contemplação. Registrado pelas retinas ou pelas lentes de uma câmera, o importante é curtir o momento e relaxar

Correio Braziliense
postado em 14/06/2020 07:00

Jonathan Lima é apaixonado pelo pôr do sol brasiliense: ''Eu gosto de fotografar entre as 18h35 e as 18h50, pois, neste momento, o sol está bem no horizonteBrasília, essa sessentinha inspiradora, guarda belezas incontáveis, desde o traço do arquiteto ao infinito multicolorido. E, por lembrar do arquiteto, recorda-se também do firmamento, “o céu é o mar de Brasília”, como disse Lucio Costa. Nessa onda, cantaram “eu vou surfar no céu azul de nuvens doidas da capital do meu país”, os brasilienses da banda Natiruts. Um verdadeiro refresco à sequidão do cerrado.

 

Homenagens não faltam, mas ainda são poucas para o espetáculo que a natureza prepara diariamente aos moradores deste cantinho árido, encravado no interior do Brasil. Um dos momentos favoritos e mais admirados é o pôr do sol. A variedade de cores da luminosidade do fim do dia rende milhares de fãs e transforma esses apaixonados em fotógrafos.

 

Para o clique perfeito, esforços não são poupados. “Eu moro em casa, mas, para observar e fotografar o Sol, eu subo no telhado e pego a vista completa do horizonte”, conta o consultor técnico de tecnologia Jonathan Lima, 33 anos. Antes da pandemia, ele contemplava o Sol na rua, mas mantém o hábito em casa. “Existe o sentimento de tranquilidade, após um dia estressante no trabalho, visualizar o Sol se pondo ao retornar para casa, até o trânsito fica melhor. Agora, trabalhando em casa, fico observando pela janela e, quando vejo a claridade que indica o melhor momento, vou lá para fora ver”, conta.

 

O amante do céu e entusiasta da fotografia dá dicas para o clique perfeito. “Eu gosto de fotografar entre as 18h35 e as 18h50, pois, nesse momento, o Sol está bem no horizonte, o azul não está tão escuro e a luminosidade fica ótima. E, para que saia igual ao que nós vemos, às vezes, é necessário mexer um pouquinho na saturação da foto. Infelizmente, a lente não capta as cores reais, como os nossos olhos”, diz Jonathan. Ele tem “com certeza, mais de 500 fotos feitas do pôr do Sol e outras tantas das demais belezas da cidade, como os ipês e os monumentos”.

O clique da goiana Nayara Síntique mostra o fim do dia no Plano Piloto: ''Para escolher o nosso apartamento, uma das exigências era ter vista livre''

 

Em tempos de isolamento social, observar o Sol é também uma terapia. Gabriela Lima, 22, sempre dá uma pausa na rotina para contemplar o pôr do sol. “Nunca tive muito tempo para ver, pois era o horário em que eu estava no trabalho. Só agora em home office que notei o quanto a vista da minha janela é ampla e enquadra todo o pôr do sol. Quando dá umas 17h30, eu começo a reparar. Nestes tempos de estresse, é perfeito encerrar o dia de trabalho olhando esse lindo Sol”, ressalta.

 

Ela também faz parte do time que fotografa quase diariamente o crepúsculo. “Eu sou a louca do pôr do sol, aliás, tudo que envolve o nosso céu me atrai. Eu acho tão lindo, que sinto a necessidade de compartilhar; então, tiro fotos e publico nas minhas redes para quem não teve a oportunidade de ver ao vivo. E é superconfortável para mim, estou vendo da minha cama ou da escrivaninha enquanto trabalho. Só procuro aproveitar ao máximo esse tempinho”, revela.

 

Colorido

 

A transformação constante e veloz dos raios solares é o que mais encanta Bruna Studart, 35, que tem dezenas de registros nas redes sociais. “Eu sempre admirei olhar para as cores, que mudam em minutos. O meu interesse surgiu dessa paleta de cores do nosso céu. Como eu morava no sexto andar de um prédio no Sudoeste, que dava direto para o pôr do Sol, fotografar tornou-se inevitável. Todo dia era um espetáculo diferente”, lembra.

 

Bruna tem uma companhia especial para dividir esse tempinho breve, mas proveitoso, a filha de 7 anos. “No momento, sou mãe em período integral; então, acabo sempre dando uma espiada pela janela pra ver de que cor está o céu. Se eu não olho, a minha filha me chama e diz: ‘Olha, mãe, o céu tá rosa hoje’. Ela até pede o celular emprestado para fazer uma foto quando o céu está colorido ou cheio de nuvens, é superobservadora”.

Para Gabriela Lima, contemplar o pôr do sol da janela funciona como terapia:

 

Os encantos naturais do cerrado são a razão dos enquadramentos de Carmen Barreira, 60. “Eu gosto muito de tirar fotos, tive várias câmeras e agora uso o celular. Eu caminho muito aqui por perto de casa e fotografo os ipês, as árvores floridas e com orquídeas. Todas essas coisas bem típicas da Asa Norte”, conta a aposentada.

A janela também é o cenário perfeito para os cliques do pôr do sol. “Até participei de concursos direcionados à população de Brasília, encaminhei fotos feitas daqui de casa. Eu procuro enquadrar para aparecer aquilo que é importante. Sempre focando a natureza da cidade, mas também, das situações familiares, do crescimento dos meus netos e das boas situações cotidianas que nos remetem a boas lembranças”, diz Carmen.

 

Hora marcada

 

A goiana Nayara Síntique, 29, está na capital há 10 anos, mas deslumbra-se a cada dia com o espetáculo nas alturas. “Para escolher o nosso apartamento, uma das exigências era ter vista livre. O meu marido e eu combinamos que, se um dia perdermos isso, vamos nos mudar. Contemplar o Sol e a Lua é muito importante para nós”, explica.

 

A terapeuta ocupacional tem como parte da rotina ir à varanda e assistir ao show de cores e luzes. “Eu sempre admirei, mas, em home office, pude administrar minhas obrigações para estar livre nesse período. Eu costumo fotografar, mas, agora, no outono, isso se intensificou, pois o céu fica mais lindo e vibrante. Eu amo ficar ali quietinha olhando da minha varanda até que as luzes sumam”, descreve.

Um descanso aos olhos e uma cura ao coração. Nayara lembra de um crepúsculo que a marcou para o resto da vida. “Eu estava tratando transtorno de ansiedade e depressão, estava próximo do meu aniversário e meu marido e eu fomos à Chapada dos Veadeiros. Em um mirante, eu tive a experiência com a natureza mais incrível da minha vida. O Sol brilhava lindamente, estava grande e vermelho. A única coisa que pude fazer foi chorar, eu chorei com o total sentimento de gratidão de estar ali e ver aquele espetáculo”, lembra.

 

O belo espetáculo gratuito está em cartaz todos os dias e ao alcance de todos. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o pôr do sol tem ocorrido durante o outono por volta das 17h47. Portanto, você sabe qual é a hora de dar um descanso do trabalho e das obrigações e ir à janela, à sacada ou à porta de casa para contemplar.

 

» Colaborou Roberta Pinheiro


* Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart

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  • um por do sol
    um por do sol Foto: Nayara Síntique/Divulgação
  • um por do sol
    um por do sol Foto: Gabriela Lima/Divulgação

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