Cidades

Profissional de saúde é xingada no HRC

Morador que gravava live no Hospital de Ceilândia foi repreendido pela servidora por criticar o tratamento a pacientes com a covid-19


Críticas com relação ao atendimento no Hospital Regional de Ceilândia (HRC) levaram a uma discussão entre uma profissional da unidade de saúde e um  paciente. O fluxo do pronto-socorro foi adaptado para receber pacientes com covid-19 na região administrativa que lidera o número de casos e de mortes pela doença no Distrito Federal. Insatisfeito, o homem gravava uma live com as reclamações quando foi repreendido pela profissional e começou a xingá-la. A Secretaria de Saúde emitiu nota de repúdio à atitude do morador.

Tácio Rogério, 46 anos, foi até o hospital na noite de terça-feira, de onde gravou a live. No vídeo, ele reclama da adaptação feita pela secretaria para encaminhamento de pacientes com coronavírus à unidade. “Agora é só covid. Só covid. É lamentável essa situação. Os moradores de Ceilândia merecem respeito. E queremos nosso pronto-socorro de volta. Para amanhã. Para ontem. Não é para daqui a 60 dias, não”, diz no vídeo.

A profissional de saúde, então, surge paramentada com equipamentos de proteção individual (EPIs). “Entra lá para você ver a situação da covid”, afirma. O homem rebate: “Eu já sei’”. A profissional segue contestando a postura do homem, que permanece gravando tudo. “Entra lá para você ver, seu irresponsável. Sai daqui”, esbraveja ela. O homem segue a discussão: “Tira o dedo da minha cara. Me tira daqui se a senhora for mulher”.

Tácio, que no vídeo afirma ser morador de Ceilândia, então, xinga a profissional: “Sua louca, doente”. Em seguida, ele volta a contestar as mudanças no HRC para suporte em casos de covid-19. “Só está morrendo gente de covid? O Hospital de Samambaia não tem pronto-socorro. Por que não levaram para lá?”, afirma, antes de voltar a gritar com a profissional de saúde. “Vai se internar. Arruma um psiquiatra para essa mulher. Sua petista. Sai daqui, pão com mortadela. Prefiro ser Bolsonaro do que uma petista”, afirma.

Mudanças
O presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, Gutemberg Fialho, lamentou o ocorrido. “A população está sofrendo muito com tudo isso. Os profissionais de saúde trabalham no limite, sobrecarregados pela quantidade de pacientes, condições inadequadas de trabalho”, disse. Para ele, parte da responsabilidade é do GDF. “Faltou comunicação em massa para a população entender as mudanças de atendimento nos hospitais em função da pandemia. Isso não foi feito de forma eficiente”, criticou.

Em nota, a Secretaria de Saúde declarou que “repudia toda e qualquer forma de desrespeito e ameaças dirigidas a seus profissionais que arriscam suas vidas e colocam em risco a vida dos seus familiares para estarem na linha de frente da luta diária por uma saúde pública digna para a nossa população e, em especial, diante dessa pandemia e seus grandes desafios”. O vídeo foi encaminhado ao Departamento Jurídico da pasta e às autoridades policiais.

Sobre as estratégias para o novo fluxo de funcionamento do pronto-socorro do HRC, a secretaria defendeu que as ações visam dinamismo no atendimento da população da região, para diagnóstico e tratamento para a covid-19. Reforçou ainda que em nenhum momento o pronto-socorro da unidade de saúde permaneceu fechado, mas, sim, em transição.

Ao Correio, Tácio Rogério afirmou que havia ido à unidade de saúde para reclamar da falta de médicos. “Não estava fazendo nada para o Bolsonaro, mas para a população. Moro há mais de 40 anos em Ceilândia e essa foi uma demanda da população, que está cansada do caos na saúde pública”, disse. Segundo ele, a profissional de saúde desceu de uma ambulância em que estava um paciente com covid-19. “Ela veio querendo me pegar e me bater e, claro, não deixei”, relatou. Ele alega que também foi xingado e que o vídeo que circula nas redes sociais sofreu edição.

A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) para verificar se a apuração do caso teve início, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

Casos
Ceilândia ainda é a cidade com maior número de contaminados, com 2.621 diagnósticos de covid-19. O Plano Piloto aparece em segundo lugar, com 1.732 casos, e, em terceiro, Taguatinga, com 1.505. Samambaia ocupa a quarta posição, com 1.297 infectados.

O DF registrou mais nove mortes por covid-19 ontem. O total chega a 265. Já o número de contaminados subiu para 21.959. Desses, 12.483 representam pessoas curadas da doença, ou seja, são 9.183 casos ativos, de acordo com boletim mais recente da Secretaria de Saúde.