Correio Braziliense
postado em 19/06/2020 04:07
Com o início da pandemia da covid-19, não houve escapatória. O ensino on-line chegou à rede pública, e professores e alunos precisam lidar com a nova realidade. A poucos dias do início das atividades, em meio a formações, testes e reformulação de conteúdo, educadores reinventam-se para proporcionar um ensino de qualidade e, acima de tudo, com segurança. As ações vão desde campanhas para arrecadação de aparelhos eletrônicos, para aqueles alunos que não têm condições de acessar a plataforma on-line, a cronogramas de distribuição de material didático.
No Centro de Ensino Fundamental 8 de Taguatinga, a preocupação do corpo docente é com o apoio aos alunos que não possuem aparelhos eletrônicos. Para evitar a entrega das atividades em papel, os professores tomaram a iniciativa de pedir a doação de aparelhos, como celulares e tablets, e receberam o aval da direção.
“A gente fez uma pesquisa e alguns alunos não vão ter acesso à tecnologia. Nesse caso, a forma de eles participarem seria o envio das atividades em papel. Não temos problema em preparar o conteúdo e imprimir. A nossa preocupação é com as questões sanitárias”, ressalta o diretor da instituição, Jeferson Vilela. Dos 850 alunos da escola, até o momento, 30 informaram não ter aparelho eletrônico para acessar as aulas, segundo o diretor. Este é o caso das filhas da profissional de serviços gerais Edilania dos Santos, 33 anos. Ela tem duas meninas matriculadas na escola, a Bianca, 14, e a Evyle,15. “Só temos o meu celular e eu preciso sair para trabalhar”, afirma.
Segundo o Sindicato de Professores do Distrito Federal (Sinpro/DF), há mais de 100 mil alunos sem condições de assistir às aulas pela internet. “É uma situação bem complicada. O governo deveria dar o suporte necessário para essa comunidade escolar, para não haver exclusão, e não o professor ter que ficar dando um jeitinho. Muitas vezes, a secretaria joga isso para cima das escolas e os gestores dão um jeito, fazendo campanha, vaquinha”, ressalta a diretora do Sinpro Elineide Rodrigues.
A Secretaria de Educação informa que os alunos que não têm a possibilidade de acessar a internet em casa poderão receber o conteúdo impresso pelas escolas, o que, para o Sinpro, também não é uma boa alternativa devido ao risco de contaminação.
O protocolo de entrega vai ser feito obedecendo às normas sanitárias, segundo o subsecretário de Formação Continuada dos Profissionais de Educação (Eape), André Lúcio Bento. “Todos esses protocolos estão sendo estudados, porque precisamos seguir as recomendações da Secretaria de Saúde. Estamos vendo com as autoridades sanitárias primeiro a questão do protocolo de segurança, de qualquer forma, as escolas estão orientadas a fazer a distribuição sem aglomerações”, destacou. Para mais alunos poderem fazer as aulas de forma on-line, a pasta vai contratar o sinal de conexão reversa para aqueles que têm aparelho com sinal, mas não tem acesso à internet. Também será oferecido um canal de atendimento aos pais e alunos para tirarem dúvidas dos conteúdos.
Preparação
Nas últimas duas semanas, os professores passaram por um período de acolhimento e formação, com cursos sobre o uso das plataformas e produção de material didático. Foram mais de 81 mil profissionais inscritos, segundo a Eape. “Foram duas semanas intensas, mas o resultado é positivo. O curso de produção de material didático, que foi pelo YouTube, teve mais de 274 mil visualizações nos quatro encontros. Foi um engajamento muito grande”, destaca o subsecretário da Eape.
Em Sobradinho, a Escola Classe 1 vinha mantendo contato com a comunidade escolar, com o envio de exercícios pelo WhatsApp, e agora se preparam para iniciar as atividades pela plataforma. Na instituição, cerca de 90% dos estudantes afirmaram ter acesso a aparelhos eletrônicos, segundo levantamento da escola. “A gente está organizando o material impresso para os outros e vamos montar um cronograma para as famílias buscarem o material. Por orientação da Secretaria de Educação, essa família não virá todos os dias. A gente vai dar uma apostila, por um período de tempo. Temos o WhatsApp como meio de comunicação e vamos viabilizar uma central de atendimento para atender às dúvidas. Estamos, agora, pensando como vai ser a devolutiva dessas atividades”, explica a supervisora pedagógica, Caroline Nunes.
Nessa semana, a escola preparou kits de materiais didáticos para os estudantes. “O kit foi com os materiais dos próprios alunos. Cada professor fez uma cartinha para os seus alunos, teve professor que colocou foto da turma, além de um comunicado com orientações sobre como acessar a plataforma on-line”, conta Caroline. Os kits foram montados pelos professores que se organizaram para ir à escola. “Eles foram em horários separados para não ficarem dois na mesma sala e eu organizei um cronograma para os pais virem buscar em horários diferentes, para evitar aglomerações”, garantiu. Com 22 turmas, a entrega foi dividida em três dias, em horários entre as 8h e as 17h.
O aluno João Paulo, 7, foi um dos que receberam o kit, com direito à cartinha da professora. “Para ele, foi um prêmio receber uma carta da professora nesse momento. Esse kit veio a calhar. Ele estava com saudade de manusear o material. Como ele mesmo disse: vai auxiliar muito”, comentou a mãe, a professora Maria Fabiola Rechden, 44. Para ela, o ensino on-line vai ser uma nova experiência. “Eu sou mãe e professora. Vou vivenciar, literalmente, os dois lados. Não vou dizer que é fácil, mas estamos vivendo um momento especial. Algumas famílias vão ter a oportunidade de fazer algo que algumas nunca fizeram, de auxiliar na aprendizagem do filho”, diz. Sobre os kits, ela comenta que se surpreendeu com a organização. “Eles marcaram o horário direitinho. Veio tudo embalado e higienizado com álcool em gel”, destaca.
Colabore
Doações de aparelhos eletrônicos (celulares e tablets)
Centro de Ensino Fundamental 8 de Taguatinga
3901-6669
QNA 52 Lote 26
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