Correio Braziliense
postado em 21/06/2020 07:02
Fundador do inFINITO, Tom Almeida decidiu promover um movimento de conversa sincera sobre o viver e o morrer. Ao notar os desdobramentos e os impactos da pandemia no processo de despedida e reconhecendo sua importância, o grupo criou um guia de rituais de despedidas virtuais. “O material reúne passos para a pessoa criar uma celebração virtual. É bem simples, porque sabemos que o enlutado está muito abalado e nem sempre pode recorrer ao núcleo estendido, que são os amigos e os parentes mais próximos. Uma das belezas é que se pode fazer algo personalizado. É atemporal, pode ser feito por diferentes grupos, a família, os colegas de trabalho. É uma forma de homenagear a pessoa que morreu. Além disso, por ser virtual, pode ser gravada para ser assistida novamente, o que também ajuda na elaboração do luto”, detalha. A despedida pode ou não ter um contexto religioso, o objetivo, como argumenta Tom, é trazer conforto e acolhimento para o enlutado.
Para ele, a pandemia deixou todo mundo à flor da pele. “Para cada morte, existe um número que vai de quatro a 10 enlutados.” Contudo, Tom também nota uma oportunidade de a sociedade reescrever esses rituais. “No luto e na morte, o mais importante são as ligações. Acho que o caminho é a conexão através das lembranças, do amor, das conversas. O luto gera empatia.”
E o meio virtual permite que as pessoas se façam presentes em vários momentos e circunstâncias. “O luto é um processo natural e que, muitas vezes, a gente minimiza: rompi um vínculo que é importante, que imaginei que era a minha vida. Isso me causa dor emocional e física. Essa tristeza, essa dor tem o seu tempo e, para cada pessoa, tem a sua forma. E, com o passar do tempo, conforme vai se organizando emocionalmente, a vida daquela pessoa começa a ganhar um novo sentido e uma nova dinâmica. A perda continua ali e vai continuar, mas em um outro espaço. Outros sentimentos também estão envolvidos na morte e no luto, como o amor, a conexão, a empatia.”
O pároco Manoel Sánchez, da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, em Águas Claras, chegou a realizar missas de sétimo dia, virtualmente, velórios restritos e sepultamentos curtos, seguindo todas as orientações sanitárias. O número de intenções nas missas também aumento durante a pandemia. “Temos tentado dar o que nos é permitido de assistência aos enlutados. Todos nós somos corpo e espírito. Mesmo que a matéria morra, essa pessoa não acaba, ela continua viva. Então, rezar por ela é o que nós podemos fazer agora, um sentimento de esperança, de consolo. E é possível tirar da morte a vida. Isso acontece com muitas famílias, aproxima, é um momento de reconfigurar muitas coisas.”
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