Correio Braziliense
postado em 22/06/2020 04:05
A Esplanada dos Ministérios tornou-se palco de manifestações pró e contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a manhã e início da tarde de ontem. Em outra agenda, o chefe do Executivo federal não compareceu aos atos. O centro da capital do país dividiu-se em dois polos, para evitar confrontos entre os rivais. Mais de 900 policiais militares fizeram a segurança, sob supervisão do secretário Anderson Torres, da Segurança Pública do Distrito Federal (SSPDF).
O grupo bolsonarista ficou no lado direito da Esplanada, com concentração no Museu da República. A organização utilizou um carro de som para discursar e orientar os participantes, que seguiram até o Ministério da Saúde. No lado esquerdo, manifestantes contra o presidente encontraram-se no Teatro Nacional e estipularam o ponto final do trajeto no Ministério da Justiça e Segurança Pública. A Praça dos Três Poderes ficou fechada.
Em pouco mais de cinco horas de protestos, ocorreram dois momentos de tensão, mas que foram controlados. Em um dos casos, um bolsonarista conseguiu furar a barreira de policiais militares e chegar até a ala onde ocorria a manifestação suprapartidária. Após ele fugir para o lado direito da Esplanada, aconteceu um segundo tumulto, quando ambos grupos se atacaram verbalmente.
Contra a corrupção
Os manifestantes a favor do presidente foram ao ato vestidos com camisetas verde e amarela ou de apoio a Jair Bolsonaro. A maioria levou bandeiras do Brasil, mas teve quem empunhou bandeiras de outros países, como a dos Estados Unidos e a de Israel. A reportagem observou que algumas pessoas não usavam máscaras de proteção contra a covid-19, obrigatória em Brasília. Os discursos dos organizadores basearam-se em passagens bíblicas, no combate à corrupção e em ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. Além disso, tocaram músicas cristãs, rezaram o Pai Nosso e cantaram o Hino Nacional Brasileiro.
O morador de Águas Claras Gutemberg de Jesus Queiroz, 62 anos, participou do ato acompanhado da mulher, a advogada Patrícia Fernandes, 42. O casal concorda com as pautas levantadas pelos organizadores. O empresário destacou que “como povo brasileiro, apoiamos o presidente e nos posicionamos contra as ações que buscam desestabilizar o governo. O STF e a mídia vão na contramão do interesse do Brasil, que luta por melhorias. E o Bolsonaro, como patriota, é quem pode oferecer isso”.
O autônomo Ademir José Cardoso, 65, saiu de município de Gurupi (TO) apenas para integrar a manifestação de ontem. “A pandemia está atrapalhando a economia a deslanchar e, por isso, o presidente tem tomado decisões difíceis para dar um rumo ao país. Só que, no meio disso, o Supremo aparece com decisões que ferem a Constituição. Isso não está certo. Por isso, estamos aqui protestando contra as atitudes tomadas pelo STF e pelo Congresso”, explicou.
Cassação de chapa
No lado esquerdo da Esplanada, organizadores comunicavam-se com os manifestantes com megafones. Os ativistas levaram bandeiras pedindo o impeachment do presidente e com mensagens de resistência como “Profissionais de saúde em defesa da democracia e do SUS”, “Vidas negras importam” e “Contra o racismo e o fascismo”. Eles também entoaram gritos de guerra: “Recua, fascista, recua. Pelo poder popular que está na rua.”
O ato Todos pela Democracia foi planejado por integrantes de torcidas organizadas, em um movimento suprapartidário — embora houvesse algumas bandeiras de partidos políticos. Segundo Daniel Lima, um dos organizadores, “não queríamos estar na rua em um momento de pandemia, mas a ocupação recorrente de bolsonaristas dos espaços públicos, sem respeitar normas do governo, nos mostrou a necessidade de lutar. Nossa bandeira é contra o racismo, o fascismo, em solidariedade às famílias dos mais de 50 mil mortos pela covid-19 e aos profissionais de saúde.”
“Vivemos um período crítico e não temos ministros da Educação e da Saúde. Ou seja, não há políticas que visam diminuir os efeitos da pandemia no país, mesmo quando já passamos a margem de um milhão de infectados. Por isso e pelas demonstrações fascistas do presidente, é que queremos a cassação da chapa. Assim, poderemos ter novas eleições”, acrescenta Daniel Lima.
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