Cidades

UnB discute retorno das aulas

Em planejamento e sem datas definidas, Universidade de Brasília aguarda resultado de pesquisa para estabelecer plano de retomada. Para ex-reitor, resposta é muito lenta. "Aulas presenciais, neste momento, estão descartadas", diz vice-reitor da instituição

Correio Braziliense
postado em 23/06/2020 04:07
Universidade de Brasília planeja retomada das aulas. Para auxiliar no retorno, instituição lançou pesquisa para a comunidade  acadêmica

Apesar de portaria publicada pelo Ministério da Educação (MEC) na última quarta-feira autorizar a suspensão das aulas presenciais nas instituições de ensino superior até 31 dezembro, a Universidade de Brasília (UnB) segue trabalhando para definir qual a melhor alternativa a seguir: manter o calendário acadêmico suspenso ou substituir a presença física por atividades remotas.

As aulas foram paralisadas há três meses, conforme decisão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). Da mesma forma, cabe agora ao conselho aprovar, ou não, a retomada. Para o vice-reitor da universidade, Enrique Huelva, diante da atual situação pandêmica, há apenas uma certeza: “aulas presenciais, neste momento, estão descartadas”.

Segundo o vice-reitor, não há data definida para a volta às aulas e, nem mesmo, para a decisão final sobre o calendário acadêmico do primeiro semestre de 2020. Neste momento, a UnB cogita a volta do calendário acadêmico por meio atividades remotas. “Estamos construindo condições para poder levar uma proposta sólida a ser discutida no Cepe. É uma fase de planejamento, coleta de informações e mapeamento” afirma. 

 Com intuito de auxiliar a definição de estratégias de uma possível retomada, o Comitê de Coordenação das Ações de Recuperação da Universidade de Brasília (CCAR) lançou para a comunidade universitária a “Pesquisa Social UnB: condições para a retomada do calendário acadêmico”. São questionários específicos a estudantes, professores e técnicos administrativo, disponíveis para resposta até esta sexta-feira no site http://www.unb.br.

Outra instituição federal do DF, o Instituto Federal de Brasília (IFB) aplicou um questionário à comunidade bem antes da UnB e, na última sexta-feira, definiu o calendário do retorno acadêmico não presencial. A volta às aulas do IFB está marcada para 27 de julho.

Volta não presencial

Não aumentar desigualdades, claro, é válido, mas é possível encontrar alternativas para não deixar alunos sem aulas por tanto tempo. É o que defende o ex-reitor da UnB Ivan Camargo. “Como uma universidade passa três meses sem dar aula?”, questiona. “Fazer um questionário, só agora, para ver se eventualmente volta a dar aula em agosto… Isso é um desrespeito.”

“Fazendo uma comparação com as faculdades particulares, é visível que elas rapidamente se movimentaram para dar aulas on-line, afinal os alunos pagam mensalidades. Só que no caso da universidade pública, a sociedade está pagando. A gente precisa do mesmo nível de compromisso. Tínhamos que dar resposta com a mesma rapidez”, avalia o ex-reitor.

A estudante de filosofia Giulia Alves, 20 anos, afirma ser contra a substituição das aulas presenciais pelo ensino remoto. Para a jovem, o problema principal está na ausência de condições materiais que afeta grande parte dos estudantes brasileiros. 

 “Por ser um espaço de ensino superior, as pessoas podem pensar que nós dispomos de todos os recursos necessário, o que não é verdade”, argumenta. “Eu só acesso o computador por meio da Biblioteca Central. O problema se atenua para os cursos que necessitam de acesso à laboratório, pois é impossível ter alguns aparatos em local doméstico”, exemplifica. 

DCE e ADUnB 
 
Segundo Mateus Rodrigues, coordenador de Comunicação do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília (DCE), a entidade representativa é contra quaisquer medidas que sejam excludentes e que não se apliquem ao conjunto do corpo discente, como atividades on-line que não dialoguem com a realidade dos domicílios dos estudantes. 

Questionado sobre a possibilidade de a universidade atender a demanda de estudantes que precisarão de auxílio durante o ensino domiciliar, Mateus Rodrigues afirmou ser necessário esperar o resultado do questionário proposto pela instituição. “Sabemos que os estudantes da assistência estudantil são apenas uma parcela dos estudantes que se encontram em situações diversas de fragilidade socioeconômica, dada à alta busca pelo auxílio e à oferta ainda insuficiente”, diz o estudante do 2º semestre de comunicação organizacional. 

Para o DCE, a melhor alternativa neste momento é manter o isolamento social, seguindo a suspensão das atividades presenciais. “Qualquer alternativa que vá além disso não deve ser aplicada de forma precipitada, para garantir a equidade e a qualidade do ensino”, exige.

Em nota, a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) diz que “o retorno imediato das aulas, ainda que remoto, é injusto e perigoso”. O texto menciona o movimento pelo retorno das aulas, na modalidade remota, ainda que essa decisão não tenha sido discutida nas instâncias deliberativas superiores da universidade. A nota defende que qualquer opção de retorno deve “estar baseada nas condições reais de acessibilidade e capacitação de professores e alunos”, além de cobrar a garantia dada pela Reitoria de que “ninguém será deixado para trás”. 

* Estagiária sob supervisão de Ana Paula Lisboa 

"Estamos construindo condições para poder levar uma proposta sólida a ser discutida no Cepe. É uma fase de planejamento, coleta de informações e mapeamento”
Enrique Huelva, vice-reitor da UnB
 

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