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Correio Braziliense
postado em 23/06/2020 04:07

Pandemia e pandemônio


É nos momentos das crises que os líderes se elevam ou se apequenam, se engrandecem ou se amesquinham, aparecem ou desaparecem. O combate ao coronavírus deveria ser o grande tema do país. No entanto, a situação de caos salta aos olhos. A covid-19 foi tratada pelo governo federal com a maior irresponsabilidade, e essa leviandade se espraiou para vários estados. O resultado é o que estamos vendo: o nosso país está em segundo lugar no ranking dos mortos pela covid-19, com mais de 50 mil óbitos.

Por coincidência ou não, Ceilândia e Samambaia, cidades visitadas pelo presidente, dispararam em números de contágios e de mortes no DF. Então, não dá para reclamar da sorte ou de ninguém. No ápice dos casos, querem que o país volte a funcionar normalmente. Seria possível evitar muitas mortes se houvesse um mínimo de seriedade e cuidado.

Muitas coisas importantes se perdem na avalanche de notícias que nos bombardeiam. Mas eu queria me deter um pouco no caso da Nova Zelândia. Bem sei que a realidade da Nova Zelândia é muito diferente da que vivemos no Brasil. Mas, de qualquer maneira, é possível comparar as atitudes dos governantes.

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinta Arden, 49 anos, é uma das figuras que saem engrandecidas desta tormenta. Arden revelou-se verdadeiramente, a um só tempo, sensata e corajosa. Orientou-se pelo óbvio: adotou as recomendações da ciência, determinou prontamente o isolamento social e providenciou medidas de auxílio social para que as pessoas ficassem em casa.

Assumiu a liderança do processo, informou com transparência, transmitiu confiança e incentivou as pessoas a permanecerem isoladas para salvar a própria vida e a dos outros. Não foi nada fácil. No decorrer da pandemia, o ministro da Saúde de lá, David Clark, meteu-se em uma encrenca. Resolveu viajar com a família a uma praia. Flagrado, ele pediu demissão, mas Arden não aceitou.

Argumentou que, se vivessem tempos normais, o ministro estaria na rua. No entanto, demiti-lo em plena pandemia seria um desastre maior. Pensou primeiro no país e na vida dos cidadãos neozelandeses. Já o ministro fez autocrítica nestes termos: “Fui um idiota e entendo porque as pessoas estão com raiva de mim”.

Em 15 de março do ano passado, um grupo extremista desfechou um atentado terrorista contra duas mesquitas de muçulmanos em Christchurch. Morreram 49 pessoas e 20 ficaram feridas. Arden declarou: “Eles somos nós”. Dois dias depois, deliberou a proibição de armas automáticas e de fuzis no país.

Com as ações na pandemia, ela alcançou um índice de popularidade de 56,5%, o maior conquistado por um primeiro-ministro na Nova Zelândia; está vencendo a batalha contra a covid-19, e a economia vai se recuperar mais rapidamente. É uma lição para os nossos governantes.

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