Cidades

Faxina geral de ambientes vira prioridade durante a pandemia

Em tempos de pandemia, aumenta a demanda para desinfecção de ambientes com produtos de uso profissional. Moradores preocupados com a transmissão do novo coronavírus passam a utilizar serviço de sanitização para residências

Correio Braziliense
postado em 25/06/2020 06:00
Ana Paula contratou serviço para higienizar o lar após uma reformaSempre necessária e, hoje em dia, supervalorizada devido à pandemia, a faxina de ambientes está entre as prioridades das pessoas. A preocupação com o contágio do novo coronavírus ampliou os cuidados diários com a higienização pessoal e dos locais de convivência. A limpeza ganhou aliados até no vocabulário. Sanitização? Para o que serve, quando e onde usar?

O termo é antigo, mas caiu no uso popular depois da pandemia. Em uma Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a RDC 14/2007, o órgão elucida o significado da sanitização. “Sanitizante é um agente/produto que reduz o número de bactérias a níveis seguros de acordo com as normas de saúde”.

Tecnicamente, ele difere-se do desinfetante, tratado no documento por, “um produto que mata todos os microrganismos patogênicos, mas não necessariamente todas as formas microbianas esporuladas em objetos e superfícies inanimadas”. O importante é que, independentemente da forma de abordagem, o que vale é manter o seu espaço seguro e longe de agentes infecciosos.

Durante a quarentena, empresa especializadas em limpeza, desinfecção e até dedetização passaram a ser demandadas por clientes novos, pessoas que desejam cuidar do lar ou do seu empreendimento.

Ricardo Marques, proprietário da SAS — Soluções Ambientais e Sanitárias, é um perito no processo sanitizante. O processo utilizado por sua equipe tem durabilidade de seis meses, por causa do método empregado, a nanotecnologia. “O produto utilizado é um extrato de prata e de silício que é aplicado em uma névoa fria. Ele adere e é absorvido por todo tipo de superfície, por causa do tamanho de sua molécula. Isso é o que garante a durabilidade da eficácia”.

Ele esclarece que o procedimento difere-se dos outros que utilizam desinfetantes à base de amônia. “O quaternário de amônia é um sal com maior poder de desinfecção do que esses que normalmente utilizamos em casa, mas ele destrói somente os microrganismos até a sua evaporação, não há efeito prolongado. A isso, não podemos dar o nome de sanitização, esse processo é uma desinfecção, que também é importante e uma aliada na higienização”, diz Ricardo.

A aplicação segue uma sequência de protocolos, minuciosos, separados por etapas. A primeira é a análise laboratorial do tipo de microrganismos presentes naquele ambiente. O segundo e o terceiro são, efetivamente, uma desinfecção, seguida da sanitização com recursos tecnológicos. Na quarta etapa, a análise do procedimento é feita por um médico infectologista que dará um laudo sobre se existem ainda organismos infecciosos no ambiente.

Procura

“Sempre fizemos sanitização em hospitais e na indústria alimentícia. Agora, as pessoas também nos procuram para fazer o serviço em residência e empresas que dependem de efetivo presente”, conta o empresário do ramo Lindomar Macedo, da Samuclean.

Lindomar, da Samuclean, explica que o procedimento não é tóxico

Lindomar explica, também, que o processo de sanitização do ambiente é seguro e não acarreta problemas futuros. “O produto quartenário de amônia é certificado e bastante eficaz, ele não é tóxico. Por meio de uma fumaça fria, ele é dispensado no ambiente e se deposita em todas as superfícies com maior facilidade sem encharcar. Para um ambiente residencial de até 150m², o valor da aplicação é de R$180”.

A gestora de recursos humanos, Fabíula Leite, 35 anos, utilizou o método de limpeza para regressar às atividades. “Após três meses em teletrabalho, voltamos ao escritório. Fizemos uma sanitização e reestruturamos as rotinas para cumprir as exigências sanitárias e de trabalho. Em conjunto, mantivemos a limpeza diária e passamos a ter mais cuidado com os pertences pessoais. Todo mundo limpa seus computadores e mesa antes de usar, e há vários frascos de álcool espalhados pelo ambiente”, conta.

Também especializado na desinfecção com amônia quaternária, Cristiano Folha, proprietário da Folha Dedetização, há anos presta serviços ao Governo do Distrito Federal (GDF). “Atendemos aos hospitais, delegacias, presídios e Metrô. Agora, novas empresas e população têm procurado o nosso serviço. Nossa demanda aumentou bastante após a pandemia”, diz.

Para a aplicação, não são exigidos cuidados. “A gente pede que o morador ou funcionários saiam do ambiente e permaneçam fora por cerca de uma a duas horas. Não é por causa da toxicidade, mas para não correr risco de pisar e retirar o produto daquela área. Ele tem baixo odor que some após 15 minutos. Para um apartamento o valor varia de R$ 300 a R$ 800. Já para casas ou ambientes maiores, fica por volta de R$ 600 a R$ 3 mil”, explica Cristiano.

Além da utilização de produtos químicos com alto poder de esterilização de microrganismos, a técnica de pulverização de gás ozônio também é utilizada para limpeza de ambientes. Sergio de Lucca, proprietário da Dr. Ozônio, elucida o processo. “Não utilizamos névoa, nosso equipamento transforma o oxigênio presente no ar em gás de ozônio. Ele não tem risco de molhar objetos ou maquinário e tem garantia de matar 99% das bactérias e vírus presentes”.

Sergio diz que o procedimento é mais seguro para o meio ambiente, por não utilizar componentes químicos industrializados. “O ozônio oxida o oxigênio do ar, ele age na proteína presente no microrganismo e o mata. Para a aplicação, o ambiente é esvaziado, pois mesmo não sendo tóxico, a longo prazo, o ozônio pode acarretar em problemas. Em 40 minutos, o ozônio no ar se transforma, novamente, em oxigênio e o ambiente está seguro para utilização”, diz o empresário. A aplicação de ozônio em ambientes domésticos varia de R$ 250 a R$ 600 a depender do tamanho.

O ozônio aplicado em seu apartamento foi um alívio para Ana Paula Leite, 36, que, a princípio,  contratou o serviço para higienizar o lar, após uma reforma, mas sentiu os demais benefícios após a aplicação. “Com o entra e saí de diversos profissionais envolvidos na reforma, decidimos desinfectar a casa e eliminar qualquer chance de contaminação. Entretanto, ela foi superbenéfica para mim e minhas filhas que sofremos com problemas alérgicos”.

Dos cinco moradores da casa, somente o marido de Ana Paula não tem rinite. “Minhas três filhas e eu sofremos com isso, então, quando entramos em casa após a sanitização, sentimos o ar diferente, estava bem limpo. Esse tempo frio piora bastante a nossa situação e estamos nos sentindo bem melhores, temos muitas cortinas em casa e está ótimo o ambiente após o ozônio”, conta.

Limpeza caseira

A rotina de cuidados de higiene domiciliar supre as necessidades que este tipo de ambiente exige, isso é o que garante Ana Helena Germóglio, médica infectologista. “Quando limpamos a casa, reduzimos a carga viral. O coronavírus é fácil de manipular, conseguimos matá-lo com água e sabão, mas a limpeza deve ser frequente”, explica.

Para a especialista, os serviços profissionais de sanitização devem ser mais direcionados aos ambientes que possuam grande risco de contaminação, os hospitais. “Esses produtos agem sobre outros microrganismos que não é comum ter na flora comunitária, aqueles que são mais resistentes. Para o coronavírus e demais bactérias que podem surgir em nossos lares, eu repito, água, sabão e hipoclorito, a famosa água sanitária, dão conta do serviço”, diz Ana Helena.

A médica alerta que não se deve temer a segurança do ambiente, caso os protocolos de limpeza doméstica sejam mantidos frequentemente. “Para ambientes com fluxo de pessoas, como um comércio, a empresa deve dispor de um funcionário que realize a limpeza do local constantemente. Já em casa, uma higienização diária com os produtos básicos que temos cotidianamente é o ideal. Creio que seja um gasto desnecessário aplicar químicos mais pesados em um lugar que não tem trânsito de pessoas doentes, assim como ocorre nos hospitais”, alerta.

* Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

Fique atento

A Fundação Oswaldo Cruz publicou no último mês orientações para a correta desinfecção do ambiente doméstico. Saiba como limpar a casa de maneira adequada e sem medo de falhar

» A sobrevida do vírus no ambiente depende do tipo de superfície que ele está depositado, sendo: até três dias em plástico e papelão; um dia em papelão e quatro horas no cobre. Portanto, a limpeza deve ocorrer com frequência diária

» Para limpar objetos, o indicado é utilizar água e sabão. Se não for possível, utilizar álcool 70% na forma líquida ou em gel, hipoclorito de sódio (água sanitária), ou produtos comercializados à base de quartenário de amônia e compostos fenólicos

» Sempre verificar se o produto tem certificação do órgão fiscalizador, no caso, a Anvisa. Não é recomendado o uso de produtos de fabricação caseira Pois, além de possivelmente serem ineficazes, podem gerar ferimentos como queimaduras e intoxicações

» Seguir as recomendações de uso do produto que devem estar descritas no rótulo. Caso ele exija diluição, utilizar conforme orientação. As dosagens inadequadas podem gerar intoxicações

» Vale lembrar de deixar todo tipo de produto químico longe do alcance de crianças e animais domésticos. Assim, os acidentes domésticos serão evitados

» Ao chegar em casa, tirar os sapatos e higienizá-los em um ambiente adequado para a limpeza. O mesmo deve ser feito com as roupas, devem ser colocadas para lavar logo após o uso

» A higienização deve ser estendida a todos os objetos que foram levados à rua, como carteira, óculos, celular, bolsas e chaves. Isso também vale para os produtos trazidos de foras, como as compras de mercado, embalagens e sacolas

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