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Correio Braziliense
postado em 26/06/2020 04:06

Povos indígenas


Sob o comando de Hugo Rodas, o nosso bruxo emérito do teatro, mais uma vez os trabalhadores da cultura saíram às ruas para um belo ritual em homenagem aos povos indígenas, em frente ao Teatro Nacional, na tarde de segunda-feira. Foi uma obra em parceria com Oscar Niemeyer (o monumento), Athos Bulcão (os relevos) e Lucio Costa (o espaço). Um ritual de afeto, de pertencimento, de leveza, de luz e de silêncio.

A trama luminosa da silhueta de um índio foi projetada nos relevos de Athos e balões vermelhos em forma de coração subiram pela pirâmide. Hugo fez da cidade um campo de experimentações e, por isso, sabe falar a linguagem da intimidade das pequenas salas, mas, também, da escala monumental. Quem passou pela Rodoviária no crepúsculo do dia teve a chance de viver uma epifania de brasilidade, em pleno anti-Brasil.

O ato simbólico no relevo do Teatro Nacional pretende sensibilizar as lideranças políticas e os cidadãos brasilienses para a necessidade de atendimento digno e para a defesa de suas terras, que sofrem ameaças constantes de invasão por garimpeiros e grileiros.

Em uma situação de pandemia, um de nossos principais deveres é o de amparar e proteger os mais vulneráveis. E um dos elos mais frágeis são os povos indígenas. Basta saber que 44 etnias foram atingidas pelo coronavírus. São mais de 6 mil indígenas infectados e mais de 300 mortos.

É um descaso e uma covardia que vão na contramão da consciência mais lúcida do planeta. Vinte e nove fundos de investimentos, que movimentam 20 trilhões de dólares, escreveram cartas para embaixadas brasileiras, advertindo para a necessidade de preservar as florestas e garantir os direitos dos índios. Eles não separam uma coisa de outra.

A criação de Brasília é muito importante para a história dos índios. Em nenhuma capital anterior, eles tiveram presença tão marcante e conquistaram tantos direitos. Em 27 de abril de 2017, durante o governo Temer, mais de 2 mil índios travaram uma verdadeira batalha campal em frente ao Congresso Nacional. Foram atacados com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e spray de pimenta.

Apesar do cerco da polícia, eles foram bravos, conseguiram furar o bloqueio e atiraram 200 caixões pretos de papelão no gramado e no espelho d’água do Congresso. Devolviam a morte que lhes era imposta aos parlamentares. Protestaram contra os critérios absurdos de demarcação das terras indígenas.

O ato no Teatro Nacional tem as participações de Kretã Kaingang, filho do grande cacique Kretã Ângelo Kaingang, um herói da resistência e da luta dos povos indígenas do sul do Brasil, e Álvaro Tukano, liderança do movimento e ex-diretor do Memorial dos Povos Indígenas. O sentido do ritual é simbólico.

A Esplanada tem sido cenário de manifestações insanas que pedem o fechamento das instituições democráticas. Por isso, são tão oportunas as performances de Hugo Rodas na série Quem partiu é o amor de alguém. Elas mudam inteiramente o foco e convocam para os laços de amor, da solidariedade, da compaixão e da humanidade.

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