Cidades

Em tempos de quarentena, Parada do Orgulho LGBTS será pela internet

Celebração on-line terá apresentações artísticas e educativas. Em 23 anos de evento na capital, é a primeira vez que a bandeira arco-íris não tomará as ruas, devido ao novo coronavírus

Correio Braziliense
postado em 27/06/2020 07:00
Ano passado, a 22ª Parada do Orgulho LGBTS de Brasília tomou a Esplanada dos MinistériosAs Paradas do Orgulho LGBTQIA%2b (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais queers, intersexuais, assexuais e outras minorias sexuais) precisaram se adaptar às exigências sanitárias impostas pela pandemia do novo coronavírus. Ao invés de colorir as ruas do Distrito Federal com a tradicional bandeira arco-íris, organizadores do evento na capital decidiram celebrar a diversidade, amanhã, em uma ação na internet, com apresentações artísticas, culturais e educativas.

Em 23 anos, esta é a primeira vez que a Parada de Brasília não irá para a rua. “A Parada é o maior atos de direitos humanos da história do Brasil e, mesmo no ambiente virtual, estamos otimistas para o evento. Neste ano, nosso tema é ‘Orgulho-20 — somos maiores’, a ideia é dizer que somos maiores do que a pandemia, do que a discriminação e do que o preconceito”, explica o co-coordenador do Brasília Orgulho, grupo que organiza a Parada do Orgulho LGBTS de Brasília, Welton Trindade.

Desta vez, o público terá a opção de assistir a palestras, discussões e apresentações on-line durante todo o domingo. Além da programação na web, será lançada uma loja virtual de itens estampados com o arco-íris de seis cores, o símbolo do movimento LGBTQIA . “Fazer a Parada na internet foi a solução que encontramos nos tempos de pandemia. A proposta é de que, mesmo que não possamos estar na rua, o sentimento de orgulho não se enfraqueça”, friza Trindade.

Welton ressalta que a Parada de Brasília é simbólica por desfilar em frente ao Congresso Nacional, palco de debates importantes para o Brasil. Para Trindade, por mais que seja um movimento que acontece no DF, existe a responsabilidade de representar a comunidade LGBTQIA de todo o país. “Por isso que precisamos que esse evento se mantenha, porque temos que continuar mandando essa mensagem de diversidade aos políticos”, diz.

Igualdade

Apesar dos avanços importantes recentes, como a criminalização da LGBTfobia, em 2019, o co-fundador do Coletivo Distrito Drag, o artista Diego Lago diz que ainda há muito o que progredir para que os direitos conquistados por gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros e demais minorias sejam plenamente respeitados. “De fato, tivemos muitas conquistas, principalmente nas questões legislativas, mas o Brasil ainda é o país que mais mata LGBTQIA , então é preciso que a gente continue se manifestando, mostrando para as pessoas que merecemos respeito”, argumenta.

Diego Lago, co-fundador do Coletivo Distrito Drag:

No Brasil, um levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2018, mostrou que, a cada 20 horas, um LGBTQIA é assassinado ou comete suicídio vítima da LGBTfobia. Por aqui, de acordo com o estudo, os homossexuais sofrem mais violência do que nos 13 países do Oriente Médio e África, onde há pena de morte para pessoas que se declaram LGBTQIA .

É para combater esse tipo de abuso que as ações de amanhã são focadas na visibilidade, na promoção e na defesa dos direitos da população LGBTQIA . “É uma forma de mostrar que devemos, sim, ocupar espaços com o nosso amor, com as nossas cores e nossa forma de amar. Nós sabemos que, para alcançar uma sociedade mais igualitária, nós precisamos conscientizar as pessoas, e a Parada é uma maneira de fazer isso”, defende Diego Lago, que interpreta a drag Mary Gambiarra.

Origem

O Dia do Orgulho LGBTQIA é comemorado amanhã. A data marca um episódio que aconteceu, em 1969, em Nova York, quando frequentadores do bar Stonewall Inn reagiram a uma série de batidas policiais realizadas com frequência no local e motivadas pela intolerância. No ano seguinte, 28 de junho foi escolhido para ser o dia da primeira Parada Gay, nos Estados Unidos, o que inspirou outras mobilizações mundo afora, sob a bandeira da luta contra o preconceito.

Em Brasília, a Parada acontece há 23 anos, é a terceira mais antiga do Brasil e o segundo maior evento de rua da capital, atrás, apenas, do carnaval. No ano passado, a Parada do Orgulho LGBTS atraiu cerca de 100 mil pessoas às ruas do DF, segundo a organização.

O que te dá orgulho?

Ju Rodrigues — engenheira, cantora, servidora pública e lésbica
“O que me dá orgulho é poder usar a minha arte e a minha música para inspirar pessoas a terem coragem de se assumirem, também. O que me dá orgulho é não precisar me esconder, e não só isso, é ter vontade de falar que sou lésbica e apresentar minha esposa.”

Alexandre Ribondi — jornalista, escritor, diretor e gay
“Um dos grandes orgulhos que carrego comigo é um fato que aconteceu em 1982. Eu era um dos participantes do grupo Beijo Livre, e o papa João Paulo II veio à Brasilia fazer uma visita oficial. Nós, então, escrevemos uma carta ao papa denunciando o tratamento que a Igreja reservava à comunidade LGBTQIA . Entregamos a um padre amigo, e ele a entregou a João Paulo II. Conseguimos entregar uma carta ao papa sobre a questão homossexual. Eu tenho muito orgulho disso.”

Bernardo Mota — pesquisador, ativista e homem trans
“Hoje, eu tenho orgulho de não viver uma vida no armário. Um momento muito importante pra mim, que me traz muito orgulho, foi quando inauguramos o ambulatório para a população trans, em Brasília. Na minha vida, eu tive que sair da cidade para buscar tratamento, e, hoje, ter no local onde moro um lugar especializado, que acolhe e dá o melhor tratamento para pessoas trans no SUS, é motivo de muito orgulho.”

Lua Stabile — mestre em gênero e relações internacionais, bissexual e travesti
“Orgulho representa quebrar barreiras binárias e sair da caixinha do que é considerado gênero e sexualidade. O que representa o orgulho, para mim, é lembrar de todas as pessoas bissexuais e trans que vieram antes de mim e que lutaram todos esses anos para que, hoje, eu pudesse existir como Lua. O momento que eu mais senti orgulho foi quando eu consegui atingir meu certificado de mestre. São poucas pessoas LGBTQIA que conseguem ter acesso a uma educação formal no Brasil e no mundo, então, pra mim, ter esse título de mestre por uma universidade do Reino Unido é um motivo de muito orgulho e de privilégio.”

Hugo de Carvalho — Design gráfico e intersexo
“O orgulho de ser intersexo vem de muito embate histórico com o meio cisgênero e heteronormativo. Nós temos uma causa histórica que busca o reconhecimento das pessoas intersexo. Eu sinto cada vez mais orgulho de participar disso, porque cada vez mais a gente tem aparecido e mostrado que a gente existe. Uma das conquistas que mais me dão orgulho, que é recente, foi no início do ano, no primeiro congresso de transexuais do país, em que pessoas intersexo também foram incluídas. É muito importante que a gente tenha em mente que as pessoas intersexo existem. Elas não são diferentes do todo, elas são naturais como todas as outras.”

Confira!
Durante todo o dia de amanhã, serão disponibilizados vídeos com apresentações culturais, educacionais e artísticas. Para conferir, basta acessar a página Brasília Orgulho, no Facebook, ou o perfil @brasiliaorgulho, no Instagram

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