Correio Braziliense
postado em 28/06/2020 04:15
O aumento no número de casos da covid-19 acende um alerta à população. Ontem, o Distrito Federal registrou 1.440 diagnósticos e cinco mortes provocadas pelo novo coronavírus. Com os registros, a capital passou para 42.766 infectados e 490 óbitos. Apesar da quantidade, 29.102 pacientes estão recuperados da covid-19. Portanto, há 13.127 casos ativos. Desses, 38 têm quadro clínico grave e 78, moderado.
Para receber os pacientes, os hospitais precisaram se readaptar e mudar a logística, algumas vezes no decorrer da curva epidêmica, para evitar a sobrecarga no sistema público de saúde. No entanto, vistorias promovidas por entidades da área apontam falhas nas unidades, como a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) aos profissionais, de medicamentos e de leitos nas unidades de terapia intensiva (UTIs).
Dos 497 leitos disponíveis na rede pública de saúde para tratar pacientes diagnosticados com coronavírus, 300 estão ocupados, segundo dados mais recentes da Secretaria de Saúde. No Hospital Regional do Paranoá, por exemplo, há, apenas, um leito disponível. Na unidade de Taguatinga, há três vagas. Os especialistas avaliam a situação e consideram que o DF se preparou há tempo para enfrentar a pandemia, mas o aumento dos casos pode fazer com que o sistema não suporte.
“Houve uma mudança em relação à segregação de unidades exclusivas, tanto de enfermaria, quando de UTI e treinamento pessoal. Contudo, tivemos a vantagem de terem sido decretadas mais cedo as medidas de distanciamento social pelo governo. Mas, a quantidade de diagnósticos está subindo e temos que ficar de olho, observando as taxas de ocupação dos leitos e, caso necessário, retroceder quanto à liberação das atividades”, ressaltou Alexandre Cunha, infectologista do Hospital Brasília.
Na avaliação do médico, o DF teve uma situação privilegiada perante as outras unidades da Federação, no que diz respeito à falta de leitos. Contudo, é preciso atentar e não ignorar os números. “A consequência de uma sobrecarga é o aumento de óbitos evitáveis, de pacientes que poderiam ser salvos. Teríamos, ainda, mortes decorrentes de outras causas, de pessoas que poderiam estar em um leito”, destacou.
Por meio de nota oficial, a Secretaria de Saúde esclareceu que, desde o início da pandemia, a pasta “vem ampliando o número de leitos de UTI e de retaguarda para atendimento de pacientes”, além da carga horária dos servidores e fazendo novas convocações e contratações para “garantir o atendimento dos usuários do serviço público”.
Questionamentos
Preocupadas com um possível colapso no sistema, entidades médicas realizam, frequentemente, vistorias nos hospitais públicos do DF, com o objetivo de fiscalizar as condições adequadas do atendimento. O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-DF), Farid Buitrago, aponta os principais problemas nas unidades. “Entres as principais denúncias que recebemos, e até mesmo o que vimos, é a falta de EPIs para os profissionais e a carência de medicamentos para tratar os pacientes vítimas da covid-19. São falhas pontuais, que a Secretaria de Saúde tem buscado solucionar”, destacou.
Apesar disso, ele avalia que as unidades estão preparadas para atender a esse público. “Os hospitais seguem um protocolo de atendimento para oferecer testes rápidos. Nossa vigilância é focada, principalmente, nos equipamentos de proteção individual. Elas precisam estar adequadas aos profissionais de saúde”, frisou.
O presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico), Gutemberg Fialho, criticou a maneira de como o governo se preparou para enfrentar a crise sanitária causada pela covid-19. “Não teve, desde o início, a definição de fluxo de atendimento dos pacientes nos hospitais; se misturavam uns com os outros. Agora que está tentando se montar uma estratégia, mas, agora, há tem muita gente contaminada”, avaliou.
A entidade promove vistorias em diferentes unidades de saúde da rede. Em relatório mais recente, o presidente e a equipe visitou o Hospital Regional do Paranoá. Na fiscalização, o sindicato verificou que a parede que separa pacientes com covid-19 das enfermarias de adultos e crianças não chegava ao teto; uma falha no isolamento, de acordo com Gutemberg. “Vimos, ainda, profissionais sem serem individualizados para o atendimento do novo coronavírus, ou seja, quando o mesmo funcionário atua na enfermaria de casos de covid-19, mas também na de pacientes não contaminados”, afirmou.
A Superintendência da Região de Saúde Leste, da Secretaria de Saúde, informou que o respectivo hospital foi adaptado para dar os primeiros atendimentos aos pacientes com suspeita de contágio por coronavírus, até que possam ser transferidos para a unidade de referência para o tratamento da doença. “Para isolar a área, foram instaladas janelas com vidro em toda meia parede. A gestão esclarece que os vidros foram sob medida para o espaço, por isso, levou um tempo entre a ordem de serviço e a instalação”, diz a nota oficial.
Para o presidente do SindMédico, o governo subestimou a disseminação do vírus na cidade. “O amadorismo foi algo absurdo. Nós não fomos consultados, as informações que pedimos nos são negadas. As entidades médicas conhecem como funciona o sistema e não é ouvida. E a situação está caótica, como se manifestou em outros estados e fora do Brasil”, afirmou.
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