Cidades

MPDFT vê divergência em dados

Correio Braziliense
postado em 28/06/2020 04:16

Dados obtidos pelo Correio mostram que equipes do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) verificou discrepância nos dados da Secretaria de Saúde. Em 4 de junho, as autoridades estiveram no Hospital de Base, onde 45 leitos de UTI com assistência ventilatória estavam ativos. Outros 20 estavam inativos e com equipamentos alugados pelo Instituto de Gestão Estratégica do DF (Iges) junto ao Hospital Maria Auxiliadora. Na data da vistoria, havia 25 pacientes internados nos leitos reservados para covid-19, porém, no site da Sala de Situação SES, consultado no mesmo dia, constavam apenas 16 internações. “Outra verificação foi a informação de 65 leitos disponíveis, sendo que 20 não estavam em condições para receber pacientes”, argumentou o MPDFT.

O Ministério Público também visitou o Hospital de Santa Maria, em 3 de junho. Dos 50 leitos de UTI existentes, 47 estavam prontos para o recebimento de pacientes e três encontravam-se desativados. No entanto, informações enviadas por ofício pela SES a MPDFT notificaram, cinco dias depois, sobre outros 12 leitos bloqueados por falta de técnicos de enfermagem naquele hospital. “Outros problemas foram verificados, como o fato de a médica rotineira da UTI, no momento da visita, não ter especialidade em terapia intensiva. A equipe assistencial da UTI do 1º andar, que é gerida pela empresa Domed, utilizava sistema eletrônico próprio para registro das informações clínicas, o que impossibilita o acesso desses dados pelos demais profissionais do hospital, do Iges-DF e da SES, além de dificultar a construção de boletins epidemiológicos. Também foram apontadas necessidades relacionadas a recursos humanos para viabilizar a capacidade total de atendimento na unidade e problemas na regulação dos leitos.”

Desabafo


O relato de uma médica que atua no pronto-socorro e na emergência do Hospital do Paranoá escancara a realidade vivida em outras unidades da rede pública. Ao Correio, a profissional, que preferiu não se identificar, conta que, há quase um mês e meio, a demanda de casos suspeitos começou a crescer, e é difícil deslocar os pacientes para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran). “Eles não conseguiam receber todos os casos. Antes, a gente recebia um caso suspeito e já mandava, nem ficava muito tempo com o paciente. Depois, o Hran começou a pedir mais informações do paciente, como tomografia, até para frear a demanda”, detalha.

Sem local para isolar pacientes suspeitos, os mesmos tinham que dividir espaço com doentes não contaminados por covid-19. “Tem a sala vermelha, o box de emergência; ali deveria ser um local apenas para pacientes graves, mas começaram a colocar os suspeitos lá dentro. Chegou a um nível que a gente estava com dez pacientes dentro desse espaço, sendo oito suspeitos, e havia ali pacientes que não eram graves. A gente recebia os que estavam mais graves, com infarto, e eles têm que ficar na sala vermelha para serem monitorizados. Houve caso de o paciente entrar num local completamente contaminado, pelo simples fato de não haver um espaço específico para infectados com o coronavírus”, descreve. A médica, inclusive, chegou a perder um paciente devido a uma piora no quadro neurológico, pois ele teve contato com o vírus. “É muito difícil e triste”, desabafa.

O contexto atingiu um ponto no qual uma servidora, diante da não resolução do problema, isolou um espaço na própria enfermaria para atender casos do novo coronavírus. Duas semanas depois, a direção oficializou a área. Hoje, a médica afirma que a situação melhorou, mas que ainda é muito difícil encaminhar pacientes para o Hran. “É uma ilusão achar que a gente não vai ficar com o paciente”, acrescenta. Na avaliação dela, ao contrário do aumento da demanda dos pacientes, que de um mês para o outro quase triplicou, a resposta ao problema demorou, e aconteceu por pressão dos servidores. “Em março, atendi, no plantão, a uns três pacientes suspeitos. No final de abril, começo de maio, teve um plantão que intubei três pacientes. Há umas duas semanas, o box estava com oito pessoas, sendo cinco intubados e todos suspeitos. É importante conhecer a realidade de uma emergência, de um pronto-socorro, o funcionamento no dia a dia para tomar as melhores decisões”.

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