Correio Braziliense
postado em 29/06/2020 20:41

Um acompanhamento do órgão revela discrepância entre os números publicados oficialmente na Sala de Situação e aqueles registrados pelo Complexo Regulador (CRDF), unidade da Secretaria de Saúde (SES/DF).
No requerimento apresentado à 1ª Vara da Fazenda Pública do DF, o MPDFT pede que o GDF fique obrigado a divulgar, no site Sala de Situação, apenas dados extraídos dos relatórios diários elaborados pela Central de Regulação de Internação Hospitalar, considerados mais compatíveis com a realidade.
O governo local deverá ainda observar, com base de cálculo para a taxa de ocupação, apenas os leitos indicados para a imediata disponibilização pela Central e deixar de computar os leitos previstos, mas ainda não ativados ou não operantes.
Os leitos pediátricos também devem ser registrados separadamente. Além disso, a lista de espera para leitos de UTI deve ser modificada, com a quantificação de pacientes confirmados ou suspeitos de covid-19.
Nesta sexta-feira (26/6), o órgão observou ainda que a Sala de Situação indicava a taxa de ocupação em 59,84% para leitos de UTI adulto para a Covid. Contudo, pelos cálculos do MPDFT, a partir de dados oficiais da regulação, a taxa chegou a 93% de ocupação.
Divergências
Após a realização de vistorias da equipe do MPDFT ao Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e ao Hospital de Base do DF, no início de junho, foram confirmadas divergências nos dados divulgados pela SES sobre os leitos de UTI efetivamente aptos a receber pacientes. Após as constatações, a força-tarefa do órgão expediu uma recomendação para a correção imediata, porém retorno da pasta.
Ainda assim, o acompanhamento sistemático das informações disponibilizadas publicamente na internet levantou suspeitas ao serem comparadas aos relatórios enviados diretamente pelo Complexo Regulador ao Ministério Público. Em 8 de junho, por exemplo, enquanto dados oficiais do Complexo Regulador do DF registravam a ocupação dos leitos de UTI adulto aptos para o recebimento imediato de pacientes em taxa próxima de 80%, na Sala de Situação, o percentual apresentado era de 58,24%.
Nas datas seguintes, as divergências prosseguiram e, com o aumento do número de casos no DF, o cenário se agravou. Em 17 de junho, a taxa de ocupação era de 94% na rede pública de saúde, sendo 17 disponíveis, 12 direcionados e 278 ocupados, de acordo com relatórios do Complexo Regulador do DF. No entanto, a gravidade da situação não era revelada na Sala de Situação naquela data, que exibia a taxa de ocupação de 68,88% dos leitos de UTI dedicados à covid-19.
De acordo com dados enviados pelo Complexo Regulador do DF ao MPDFT, em 22 de junho a taxa de ocupação dos leitos de UTI atingiu o ápice e chegou a 95% na rede pública, com 15 disponíveis, 13 direcionados e 279 ocupados. Na data, estavam bloqueados 77 leitos em sete hospitais da rede pública. A lista de espera, nesta mesma data, continha um total de 89 pacientes, sendo que: 14 testaram positivo para a Covid; 20 estavam com suspeita do vírus; 6 já se encontravam em leito de UTI e aguardavam transferência para outra unidade devido ao suporte clínico requerido e mais 55 pacientes tinham outros diagnósticos diversos.
Em nota, o MPDFT afirma que o acompanhamento revelou constância na falta de transparência das informações. Dados divulgados na Sala de Situação não estavam disponíveis para o recebimento de pacientes infectados pelo novo coronavírus, por um conjunto diverso de problemas, como falta de recursos humanos e dificuldades de acomodar os leitos nos espaços destinados ao funcionamento de UTI. “A inclusão de todos esses leitos que apresentam qualquer problema operacional no cômputo dos leitos disponíveis viola flagrantemente a transparência que se espera de um gestor público. A publicidade de dados que não refletem os números reais retira da sociedade o poder de controle dos atos administrativos e, pior, induz condutas equivocadas por parte da população, como o não cumprimento do distanciamento social e/ou o uso obrigatório de máscaras”, concluem os integrantes da força-tarefa.
A Secretaria de Saúde informou, em nota, que ainda não foi intimida formalmente a prestar os esclarecimentos.
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