Cidades

"Rede de saúde está sobrecarregada", diz a médica Valéria Paes

Em entrevista, a médica e professora da Universidade de Brasília (UnB) reforçou a importância do isolamento social, da higienização das mãos, além do uso correto da máscara como principais medidas de prevenção para conter a disseminação do novo coronavírus

Correio Braziliense
postado em 30/06/2020 06:00
uma mulher sorrindoApós o decreto de calamidade pública no Distrito Federal anunciado, ontem, pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), a médica e professora da Universidade de Brasília (UnB) Valéria Paes reforçou a importância do isolamento social, da higienização das mãos, além do uso correto da máscara como principais medidas de prevenção para conter a disseminação do novo coronavírus. Em entrevista ao programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília —, a infectologista ressaltou que a rede de saúde do DF está sobrecarregada e que é necessário o apoio cada vez maior da população nas ações de proteção. “Eu queria passar essa mensagem para que as pessoas continuem se cuidando, se todo mundo não fizer a sua parte vai ser muito mais difícil a gente conter essa situação”, explicou.

A professora também defendeu o lockdown como uma possibilidade para combate da pandemia e reprovou medidas de flexibilização com a abertura de pontos comerciais. “A gente não tem como descartar essa possibilidade (do lockdown) e temos de estar preparados para isso acontecer a qualquer momento, porque é necessário ter uma clareza, como sociedade, que as vidas estão em primeiro lugar”, disse Valéria. “Se eu tiver um ponto de encontro de aglomeração de pessoas, eu estou assumindo um risco de que ali pode acontecer uma transmissão”, acrescentou.



O governador decretou estado de calamidade pública por conta da pandemia. O que muda com essa medida?
Nós estamos em uma situação de emergência de saúde pública, acho que é a maior emergência dos últimos tempos, a gente precisa realmente de investimentos fortes, principalmente na área de prevenção e também para o tratamento das pessoas que estão acometidas pela covid-19.

A medida serviu de alerta e foi um pedido de ajuda para o governo federal simplesmente?
Sim, é um alerta. Acho que a população está acompanhando há algum tempo e nós observamos nos últimos dias um aumento mais acelerado no número de casos e de mortes também.

Só esse decreto é suficiente para resolver o problema?
Com certeza não. A gente precisa de ações coordenadas do governo, das equipes de saúde, de educação, dos serviços de saúde e principalmente da população como um todo. É necessário que cada pessoa adote as medidas de prevenção que são preconizadas, como a higienização das mãos, as medidas de isolamento social sempre que possível, porque se todo mundo não fizer a sua parte, vai ser muito mais difícil a gente conter essa situação.

Desde o começo da pandemia a gente está sempre falando sobre o pico. Por que estamos sempre falando desse pico, que nunca chega? O que significa?
Isso significa que também nós tivemos algum sucesso nesse início do controle dos casos aqui no DF. Aqui, muito cedo, diferentemente de outros estados, a gente adotou medidas mais restritivas, então na verdade o adiamento desse pico indica que essas medidas iniciais tiveram algum efeito. A gente imagina que agora estamos em um número grande de casos, mas a gente só vai saber que passamos do pico quando observarmos a redução do número de casos, dia após dia.

A Secretaria de Saúde trabalha com a possibilidade de que o pico seja nessa semana ou nas próximas, mas é difícil precisar quando vai chegar de fato? 
Nós temos que estar preparados a cada momento, quando a gente vê o aumento de casos, a gente sabe que tem que ter mais recursos hospitalares e de atendimento, maior preparação dos laboratórios, mas só vamos ter certeza mesmo quando passar.

O GDF estuda abrir os setores que estão fechados, como bares restaurantes, salões de beleza, academia. A gente tem 
segurança para fazer uma medida desse tipo?
Eu ainda estou preocupada com o aumento do número de casos, e pelo que estou vendo hoje, se refere a uma transmissão que aconteceu há mais ou menos 15 dias. Então a minha preocupação com essa flexibilização é que a gente tenha um aumento muito abrupto, porque a gente sabe que a nossa capacidade hospitalar, tanto pública quanto privada, é uma capacidade limitada e me preocupa muito.

A senhora acha que a gente pode chegar ao ponto de ser necessário um lockdown aqui no DF ou já é necessário?
A gente não tem como descartar essa possibilidade. A gente tem que estar preparado para qualquer momento isso acontecer, porque temos que ter uma clareza, como sociedade, que as vidas estão em primeiro lugar.

O isolamento social ainda é necessário e eficaz nesse momento?
A gente tem que pensar que quem está saindo do isolamento social está decidindo correr risco de adquirir a covid-19. Eu atendi pacientes que acabaram adquirindo porque foram ao supermercado. Temos que ser firmes a essas mudanças nesse momento. Mas a gente tem que pensar que é por um motivo maior.

O sistema de saúde do DF vai conseguir passar por isso sem chegar ao colapso? Como a senhora vê a situação nossa hoje?
Eu gostaria muito que sim, mas não tenho certeza. Espero que os gestores da saúde estejam providenciando todo o necessário para que nenhuma pessoa fique sem atendimento. Que a gente não chegue em condições dramáticas como aconteceu no exterior.

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