Cidades

Riacho Fundo 2 e Jardim Botânico têm transmissão acelerada do coronavírus

Segundo pesquisador, para combater a covid-19, governo precisa encontrar os focos da doença nas regiões

Dados do Boletim Quinzenal do Observatório de Predição e Acompanhamento da Epidemia Covid-19 (PrEpidemia), ligado à Universidade de Brasília (UnB), mostram que a transmissão de coronavírus está acelerada no Jardim Botânico e no Riacho Fundo 2.

O grupo acompanha a evolução da doença em cada região administrativa e emite boletins quinzenais. Os dados foram lançados na última quarta-feira (24). Para entender a aceleração do coronavírus, o grupo mede a taxa de evolução da doença, chamada de número de reprodução R. 

Esse número calcula quantas pessoas são infectadas por alguém com o vírus, até que o infectado se cure. Se o R é igual a 2, significa que um infectado passa o vírus para outras duas pessoas antes de se curar. Quanto maior o R, mais rápido a doença se alastra. Segundo as medições do PrEpidemia, no Jardim Botânico e no Riacho Fundo 2, o número de reprodução R está acima de 1,5. Na prática, isso quer dizer que, a cada dois infectados, três pessoas são contaminadas. 

“Embora, em números absolutos, essas duas regiões tenham poucos infectados, a propagação do vírus está em aceleração”, afirmou o professor Paulo Angelo Resende, responsável pelos dados do PrEpidemia e pesquisador da Associação GigaCandanga.

O pesquisador destaca que uma pequena mudança no R faz uma grande diferença no resultado final dos infectados. "Mesmo que seja uma diferença de 0,2%, é um comportamento parecido com os juros compostos do cartão de crédito", explica. Isso acontece porque a taxa de transmissão da doença funciona em progressão geométrica. 
 
 
 
 

Inteligência Epidemiológica


Segundo o relatório do PrEpidemia, nessas regiões o governo precisa "evitar novas flexibilizações ou adotar medidas de controle antes de detectar os focos de contaminação por meio de Inteligência Epidemiológica". “É preciso entender onde estão os focos de contaminação”, disse Resende.

O professor explica que, no último surto chinês, só foi preciso fechar um único mercado de Pequim para conter a doença. “É isto, conter a epidemia com a máxima eficiência, porque não se para o país inteiro por causa de um bairro ou dois”, afirmou.

Para o pesquisador, o momento não é de pânico, mas de analisar os dados. “Inteligência epidemiológica e inteligência geográfica; temos que analisar os dados e tomar ações pontuais e calculadas. Quando se fala em liberar tudo ou trancar tudo, sem estar baseado em dados, apenas em pressão popular, apenas em achismo, isso é muito ruim pra todo mundo”, ponderou.

Segundo Resende, com 10 perguntas para cada infectado é possível detectar locais de surto do vírus usando estatística. "Isso não seria tão difícil, porque o governo só precisaria entrar em contato com mil ou duas mil pessoas por semana, o que não é muito. O que estamos fazendo, no momento, é só contabilizar os mortos e infectados, sem entender o que está acontecendo”, disse.

“Basta identifica onde a pessoa pegou o coronavírus. Se por exemplo, fez uso de transporte público nos últimos 10 dias, esteve em uma festa ou evento com mais de 100 pessoas nos últimos 10 dias, esteve em contato com alguém sabidamente contaminado”, explicou.

Procurada, a Secretaria de Saúde esclarece que tem desenvolvido previsões com base em modelagens, utilizando os parâmetros que são desenvolvidos a partir da análise diária de dados pelas unidades de saúde. De acordo com essas previsões, embora o ritmo de crescimento no número de casos, na maioria das regiões administrativas, venha se mantendo nas últimas semanas (em média 5% ao dia), a taxa de transmissão no Jardim Botânico é de 1,17, e a do Riacho Fundo 2 é de 1,20.

Em relação à detecção de focos de contaminação, a Secretaria não se manifestou. A reportagem será atualizada em caso de retorno.
 
 
*Estagiário sob supervisão de Adson Boaventura 

Portal PrEpidemia/Boletim Covid-19 DF - 04 - Gráfico
Portal PrEpidemia/Boletim Covid-19 DF - 04 - Gráfico.