Cidades

"Não é pico, é uma enorme onda"

Correio Braziliense
postado em 02/07/2020 04:06

“Sessenta mil mortes não é uma gripezinha”, alerta o epidemiologista Wildo Navegantes sobre o avanço da covid-19 no país. A reabertura geral das atividades é um risco, afirma, ao defender mais clareza das informações vindas da Sala de Situação do GDF.
 
A OMS prevê o pico da doença no Brasil em agosto, o DF seguirá esse padrão? Ou já chegamos nesse pico...
Se o problema fosse só o pico em agosto, na verdade, estamos passando por uma enorme onda, grande e larga, que gera efeitos traumáticos em uma sociedade, para além da crise sanitária, estamos passando por uma crise humanitária e política. Precisaríamos muito fortemente o contínuo respeito às orientações do corpo técnico dos governos, aos profissionais de saúde que devotam a sua vida ao cuidado dos outros, bem como aos cientistas que estão investindo suas energias para identificar soluções. Precisamos formar mais profissionais, incluindo os da saúde, para fazer parte da resposta a essa pandemia.

A distribuição de máscaras na rede pública de ensino é eficaz sozinha?
Não, sozinha não é eficaz... Precisa de um plano de contingência para cada escola, que inclua a oferta e supervisão adequada de limpeza nas áreas de maior fluxo de crianças, oferta de material para descontaminação das mãos, distanciamento dos estudantes nas salas de aula, cuidados na oferta das merendas, monitoramento de infecção por relato diário de sintomas em cada sala, afastamento de cada caso suspeito e seus contatos intraescolares por 14 dias, sendo monitoradas diariamente esses afastados e em casa. Lembremos que temos crianças de diferentes idades, além de professores, merendeiras, colegas do setor administrativo, segurança de diferentes idades, que podem ter doenças crônicas e que remetem a melhor cuidado!

O percentual de casos na Espanha aumentou 8% depois das quedas no número de mortes. A abertura das atividades não é um risco?
Sim, há um risco muito claro que, com o processo de reabertura, as pessoas voltem a intensificar os seus contatos interpessoais e tenhamos um grande boom de casos, principalmente porque não sabemos claramente quantas pessoas ainda podem se infectar.

Nesse período frio, poeira e de ventos constantes ampliam propagação do vírus?
Não temos dados que suportem esta hipótese até o momento.

Há um ruído de informações na Sala de Situação do GDF, que monitora a pandemia? O Ministério Público questiona esses números. Por que esse atrito?
Não sabemos muito o que se passa entre a demanda do MP frente à Sala de Situação do GDF, mas, com certeza, o grau de transparência pode favorecer para que estes atritos diminuam. Exemplo, quais dados levam o GDF a tomar a decisão de redução do distanciamento social e incentivo das aglomerações nas atividades comerciais? O Estado tem total capacidade de fiscalização das medidas de controle (e uso de máscara) em todo o seu território? Tem capacidade de monitoramento dos casos suspeitos por 14 dias, até que saia o resultado laboratorial? Há uma lotação dos leitos clínicos, que continuam aumentando. A doença está chegando às periferias e às populações mais pobres, e, por conseguinte, mais vulneráveis... Essas interrogações fazem com que o MP precise, de fato, “atritar” as decisões de governo. Eu acho que está muito claro que 60 mil mortos não se tratam de uma “gripezinha”. 



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