Cidades

Morre por covid-19 irmão de profissional do Hran também vítima da doença

Em menos de 30 horas, o pai, de 85 anos, perdeu dois filhos para a covid-19 e não pôde velar corpos. O técnico de enfermagem Hiran Rodrigues Lima, que trabalhava no Hran, morreu na quarta-feira e o irmão, Ivaldo, nesta quinta

Correio Braziliense
postado em 02/07/2020 22:00
Ivaldo (E) estava internado em Águas Lindas de Goiás e Hiran (D) morreu no Hran, onde trabalhavaMorreu, nesta quinta-feira (2/7), vítima da covid-19, Ivaldo Rodrigues Lima, 42 anos. Ele era o irmão mais novo do técnico de enfermagem Hiran Rodrigues Lima, 47, que faleceu no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), hospital onde trabalhava, na madrugada da última quarta-feira (1º/7). 

De acordo com a família, Ivaldo estava internado no Hospital de Campanha de Águas Lindas de Goiás e não resistiu a uma parada cardiorrespiratória. Parentes acreditam que o caçula contraiu o novo coronavírus do irmão, que, antes de descobrir estar infectado, passou uma semana na casa dele.

O pai dos dois, Luiz Rodrigues Lima, 85 anos, lida com a perda dos filhos sozinho, em casa, também no município de Águas Lindas de Goiás. A mulher de Hiran, Rosecleia Gerônimo da Silva, informou que outra irmã de Hiran está com suspeita de ter contraído a doença. “Me ligaram de manhã perguntando se era verdade, falando que tinham visto no jornal sobre a morte do Ivanildo, eu não acreditei. Achei que era confusão com a foto porque os dois são muito parecidos, mas não era”, disse Rosecleia. 

Ivaldo era professor em Águas Lindas e foi enterrado na tarde desta quinta-feira, próximo ao irmão, no cemitério público do município goiano. Ele não tinha filhos, nem era casado.

Técnicos de enfermagem na linha de frente

Hiran Rodrigues foi o segundo técnico de enfermagem vítima da covid-19 no DF. A viúva conta que ele era muito e carinhoso com os pacientes de quem cuidava. Rosecleia relata que, por ser diabético, Hiran pediu para fazer turnos menores e em alas livres da covid-19, mas o pedido não teria sido atendido. “Tinha vezes que ele fazia tanto plantão que eu não o via. A gente sentia falta, as filhas também. Às vezes, a gente até brigava por causa do trabalho.” 

Antes de morrer, Hiran enviou uma mensagem à mulher: “Me perdoe pela minha falta de paciência, por não ter sido um bom marido, minha preocupação era apenas no sustento da casa. Posso não mais seguir com vocês. Orem por mim. Amo todas vocês”. Hiran deixou, além da mulher, duas filhas, de 4 e 13 anos.

O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem do DF (Sindate) estima que até 20% dos técnicos que atuam no DF fazem parte de grupos de risco. Newton Barbosa, diretor da entidade, disse que “pelo alto grau de exposição de mortalidade dos que têm comorbidades e contraem o vírus, esses devem ser retirados da linha de frente”. 

Antes de perder Hiran, os profissionais de saúde do Distrito Federal lamentaram a morte de Antônio Júnior Araújo Silva. Depois do 26 anos de serviço, ele morreu aos 50, vítima da doença que ajudava a combater no Hospital Regional do Guará e no Posto de Saúde nº 1 da região. 

Para o diretor do sindicato, a morte dos profissionais de saúde revela uma fragilidade do sistema público. “Não deveria, ser assim. Se tivéssemos os afastamentos a tempo dos que estão no grupo de risco, se houvesse menos burocracia nas homologações e se as informações fossem mais uniformizadas entre os gestores”, avalia.

Segundo a Secretaria de Saúde, oito profissionais de saúde morreram em decorrência da covid-19 no DF. Já a Secretaria de Economia informou que 560 licenças de afastamento foram concedidas para servidores da saúde entre os meses de março e maio. O GDF não informou, no entanto, o número de profissionais afastados preventivamente por pertencerem ao grupo de risco. 

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