Correio Braziliense
postado em 04/07/2020 07:00
Acompanhando ações como lives nas plataformas virtuais, eventos em formato drive-in e produção de conteúdo audiovisual, os artistas exploram mais uma alternativa para dar seguimento aos trabalhos e se reaproximar do público: shows em formato de serenata, aqueles que as pessoas assistem à apresentação das janelas dos prédios.O projeto Balada em casa, nascido na pandemia, visa abrir espaços para que DJs da cidade se apresentem e deem visibilidade ao trabalho, no momento em que bares, pubs, casas de festas e shows ainda estão fechados. O primeiro artista do projeto foi o DJ Cottonete, que está há 29 anos no segmento a convite de Marcelo Neto, responsável pela mediação entre DJs e síndicos.
“A ideia nasceu do fato de ter feito muitos amigos DJs, na época em que frequentava a noite. Agora, no momento de pandemia, vi que alguns desses amigos, que só trabalhavam à noite, estavam em dificuldades. Decidi ajudar”, explica Marcelo, servidor público.
O intuito é ampliar o projeto, que começou em Águas Claras, para outras regiões administrativas com mais DJs parceiros. “O modelo foi pensado sem ter custo para o condomínio, a renda vem de doações dos moradores. Nesse momento de confinamento, essas atividades extras elevam o astral das pessoas. São DJs de renome no DF, que tocaram na festa Anos 80, no Gates, na Oca da Tribo e em casamentos e festas”, destaca.
Serenata itinerante
O Varanda Musical, por sua vez, existe há dois anos e, originalmente, nasce do encontro da gastronomia e música. Vários artistas passaram pelo projeto e, atualmente, na versão itinerante, a formação é composta pelos músicos Misael Barros (bateria), Alexander Raichenok (sax e teclado) e Tico de Moraes (voz e guitarra), que executam o repertório de jazz e MPB.
“Como a impossibilidade de seguir com o projeto nos mesmos moldes, tivemos a ideia de realizar o Varanda Musical Itinerante. Em áreas residenciais e prédios, geralmente no gramado (como no Sudoeste), oferecemos música ao vivo de forma segura, para que as pessoas curtam de casa. É uma via de mão dupla, muito interessante, porque nós, artistas, vivemos disso. Não digo só financeiramente. Estar perto das pessoas e apresentar nossa música é a nossa energia, nossa existência. O intuito inicial era oferecer um serviço que pudesse ser bem-aceito, e o que recebemos como resposta foi uma coisa muito maior: a certeza de que estávamos fazendo um bem às pessoas”, conta Tico de Moraes.
O projeto ocorre por meio de demanda dos síndicos e é mantido com contribuição voluntária. Há, também, a transmissão ao vivo pelo canal do YouTube Varanda Musical BSB, para incentivar que as pessoas fiquem em casa. O público pode conferir a programação pelo site e redes sociais do Varanda Musical.
Camarote
O síndico e influenciador digital Jonas Fernandes, do condomínio Joy Residence, em Águas Claras, nunca tinha organizado um evento cultural até então. Reuniões de trabalho e workshop, até já, mas uma apresentação na área de lazer, com música ao vivo e preparação de convites, nunca. “Fiz na garra”, explica o síndico.
“A ideia surgiu ao ver o quanto os moradores estavam ansiosos (por estarem) reclusos dentro de casa com essa pandemia. Então, pensei que poderíamos fazer um evento onde eles pudessem ter um momento romântico, como foi no Dia dos Namorados”, recapitula.
Morador do condomínio, o músico Paulo Veríssimo, conhecido pelo trabalho como guitarrista da banda Distintos Filhos, prontamente se dispôs a ajudar na organização e se apresentar para os vizinhos com a voz e violão. Além disso, o evento recebeu apoio financeiro de empresas que prestam serviços ao condomínio.
Um convite impresso, acompanhado de um par de bombons e QR code, foi deixado na porta de cada unidade habitacional. “A proposta do convite foi instigar os moradores a prepararem o seu jantar em casa e curtir a live que o Paulo fez lá em baixo (na área de lazer), pelo YouTube, pela TV ou diretamente da varanda, como o nome sugere”, explica Jonas, que completa: “O mais importante foi poder instigar e fomentar a cultura e ajudar os artistas.”
O público também fez sua parte com a doação do cachê — bastava mirar a câmera do celular no QR code incluído no convite. Mais de mil pessoas assistiram à live, dentre eles moradores dos condomínios vizinhos. Resultado: está sendo elaborada a segunda edição do evento, desta vez uma festa julina, com Paulo Veríssimo e banda tocando música típica, pop e autoral.
O som que toca
De repente, os músicos da empresa Som que Toca Produções Musicais viram-se sem trabalho. Artistas da Capital Music, por exemplo, viram a agenda da banda de baile, a princípio fechada com casamentos, aniversários e eventos corporativos, ser toda adiada para o final do semestre ou para o ano que vem, devido à pandemia do novo coronavírus.
“Nossa renda foi reduzida a zero”, contabiliza o empresário Phillipe Morais, sócio-proprietário da Som que toca e Capital Music. “Tendo em vista esse tipo de situação, não poderia ficar parado, e tinha também que dar um jeito de ajudar os meus amigos. Alguns músicos passaram por situações difíceis, como de não ter mais nada em casa, não conseguir pagar as contas e não ter o que comer”, lembra-se.
Entrou em contato com a coordenadora dos síndicos do Noroeste e apresentou o projeto que poderia aliviar a situação tanto dos artistas, quanto do público recluso: o projeto Na rua com música, no qual a banda realizaria pocket shows nos pilotis ou na frente dos prédios residenciais. Por transferência bancária ou pelo aplicativo Pic Pay, o público poderia dar as merecidas gorjetas aos músicos que lhes traziam entretenimento. Até aniversário fizeram.
De 60 dias para cá, foram mais de 50 shows, que se estenderam para as ruas do Cruzeiro e do Sudoeste. “É um prazer, para nós, não deixar a renda de todos cair 100%. Vamos retomando, fazendo 20% da nossa renda mensal e não ficando parados, que acho que é o grande objetivo. Nós conseguimos uma boa aceitação, principalmente do público. Muitos deles, quando viram a nossa arte por meio da música, se emocionaram, porque ficaram mais de 60 dias sem sair de casa”, finaliza Phillipe.
*Estagiários sob supervisão de José Carlos Vieira
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