Cidades

Quem puder, fique em casa, pedem especialistas às vésperas da reabertura

Com a iminência da reabertura de todos os setores da economia no Distrito Federal, especialistas explicam que medida contribuirá para um aumento ainda maior nos casos de covid-19. Por isso, quem puder, deve manter o isolamento social, além de ficar atento à higiene

Correio Braziliense
postado em 04/07/2020 07:00
Especialista aponta que o grande problema, atualmente, do transporte público é a aglomeração. Utilização de máscara é obrigatóriaO Distrito Federal está em contagem regressiva para a reabertura total dos segmentos da economia. Isso porque o governador Ibaneis Rocha (MDB) já declarou que a expectativa é de que, até agosto, quem ainda está de portas fechadas volte a funcionar, o que inclui bares, restaurantes, academias e salões de beleza. A decisão acontece quando o DF soma mais de 53 mil pessoas infectadas por coronavírus, das quais 587 são vítimas fatais. O retorno dessas atividades deverá contribuir para um aumento ainda maior das estatísticas, como afirmam especialistas.

ilustração de dados

Além da escalada de casos, o Governo do Distrito Federal (GDF) decretou estado de calamidade pública, o que permite solicitar verbas extraordinárias do Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil, do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Atualmente, dos 546 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis na rede pública de saúde para pacientes com covid-19, estão ocupados 324, isto é, 62% do total.

Diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, o médico José Davi Urbaez explica que os riscos são grandes, uma vez que o poder de transmissão do vírus é maior: cada paciente pode infectar entre duas e três pessoas. “O controle da pandemia precisa de isolamento social, não por capricho, mas porque, dessa forma, você mantém as pessoas em casa e diminui a propagação do vírus.” Por isso, ainda que haja o retorno das atividades, o conselho não mudou: quem puder, deve permanecer em casa, em isolamento.

Ele avalia o cenário como desfavorável para o sistema de saúde. “Brasília preparou-se bastante, aumentando o número de leitos e UTI, comprando respiradores. Mas, querem embasar tudo na capacidade de assistência”, pondera. 

De acordo com o infectologista, não é possível afirmar que o DF vive o pico da doença. “Se quer ter tudo bem-feito, é preciso ofertar testes maciçamente, e isso deve ser feito com PCR (teste de swab com cotonete). A detecção de anticorpos no sangue é de baixa qualidade, com muitos falsos negativos e positivos. Não significa nada, é como jogar cara ou coroa”, ressalta. Na visão dele, a reabertura total em agosto é equivocada. “O comércio não terá fôlego suficiente para se recuperar. Vão começar a pagar luz, condomínio e outros encargos, mas não terão clientela suficiente. O problema maior é que levam um grande contingente a trabalhar”, pondera. “São pessoas que moram em locais vulneráveis, e não podem falar ‘não’. O trabalhador que vai do Riacho Fundo ao Plano Piloto leva uma hora e meia. Quantas oportunidades de contaminação e aglomeração não poderiam ser evitadas?”

Tire dúvidas

A infectologista do Hospital Águas Claras, Ana Helena Germoglio, tira algumas dúvidas frequentes sobre prevenção da covid-19.

Que  tipo de máscaras devemos usar?

Vai depender do tipo de atividade que a pessoa desenvolve, e se tem ou não sintomas. Pacientes de covid-19 devem utilizar sempre a máscara cirúrgica, assim como quem está cuidando, mesmo que em casa, de pacientes positivos ou sintomáticos. Máscaras N95, aquelas mais vedadas ao rosto, só devem ser usadas por profissionais de saúde, e, apenas, em ambiente hospitalar. Para uso habitual, na rua, utilize a máscara de pano, sem nenhum prejuízo.

Ao sair, corro risco de trazer o vírus no cabelo ou barba? É  recomendável prender o cabelo?

O grande problema da barba é que impede a correta vedação da máscara, principalmente para profissionais da saúde. Muito no início, falava-se a respeito da higienização de barba e cabelo. Tem pouco estudo a respeito disso, mas barba e cabelo preso e higienização dos cabelos quando a gente volta para casa, são mais importantes para quem trabalha diretamente com os pacientes em hospital.

Qual o tipo de calçado mais apropriado?

Não tem nenhuma orientação sobre isso. É algo apenas para o profissional da saúde. A gente deve sim, desde antes da pandemia, utilizar calçado fechado.

Que cuidados precisamos ter no transporte público? E em carros de aplicativo e táxis?

Utilizar máscara, ter sempre à mão álcool em gel para higienizar, principalmente quando tocar em superfícies que são compartilhadas. Apesar de existir pouca evidência da contaminação por meio de superfícies, existe a recomendação de manter sempre a higienização das mãos. O grande problema, na verdade, é o aglomerado de pessoas. A partir do momento que não se consegue manter o distanciamento mínimo de 1,5m, torna-se uma questão de maior risco. Uma coisa que vemos, com muita frequência, é pessoas utilizando máscara no carro. Se estou, no meu carro, sozinho, eu posso não utilizar máscaras. Mas, se estou com outras pessoas, devo usar. Em qualquer tipo de transporte, deixe os vidros abertos.

Ao chegar em casa, qual a forma correta de lidar com as roupas? É necessário tomar banho e lavar as vestimentas sempre que sair?

O mais indicado, quando chegar em casa, é retirar as roupas, principalmente no caso de profissionais de saúde. Já providencie a higienização. Se ela não puder ser lavada assim que chegar em casa, você pode, sim, guardá-la em um saquinho, ou num local reservado, para lavar assim que possível
 

Quais os cuidados necessários no ambiente de trabalho?

Pessoas sintomáticas devem comunicar à chefia, e o ideal é que seja feita uma triagem dos funcionários para avaliar se eles têm sintoma sugestivo de doença. Caso apresente, ele deve ser encaminhado imediatamente à medicina do trabalho ou hospital com atendimento de referência, justamente para evitar que haja contaminação do resto da equipe. Apesar da pouca evidência de contaminação de superfície, a rotina de higienização deve ser sempre seguida. Nos ambientes compartilhados, é importante evitar aglomerado de pessoas. Podem ser separadas as estações de trabalho. Se não conseguir manter o distanciamento mínimo, pode colocar acrílico separando um funcionário do outro, e em ambientes de atendimento, é importante manter distanciamento entre funcionário e público.

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