Cidades

Brasília sexagenária: Amor pelos traços de Brasília

Arquitetos e moradores ressaltam a importância de manter o planejamento urbanístico tão característico da capital e preservar os monumentos icônicos da cidade, que é um museu a céu aberto

Correio Braziliense
postado em 05/07/2020 07:00
Alex Claver tatuou a Catedral de Brasília: arquitetura e religiãoBrasília simbólica e monumental. Não há um indivíduo que passe pela cidade sem formar impressões pessoais e afetivas quanto à estrutura e aos traços arquitetônicos únicos e singulares. A capital do Brasil, reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco em 1987 (veja Memória), encanta pela vegetação, monumentos históricos e pela grandiosidade do céu sobre o Planalto Central. Com tantas particularidades, especialistas e moradores reforçam a importância de preservar os marcos da cidade sexagenária.

É o que defende o arquiteto e professor Antônio Carlos Carpintero, 74 anos, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB). Há 55 anos na capital, o docente recorda-se da primeira vez que pôs os pés no Distrito Federal para prestar vestibular na instituição em que, hoje, leciona. “A cidade se tornou uma grande referência para mim, porque estava em construção e o curso dos meus sonhos era dirigido por Oscar Niemeyer, uma grande referência de arquitetura”, conta.

Ao ser aprovado na universidade, Antônio despediu-se dos amigos e familiares que deixou em Campinas (SP) para viver seu sonho na capital. “Das poucas coisas da minha vida que tinha certeza, a arquitetura era uma delas. Quando apareceu a possibilidade, tomei coragem e fui. Lembro que, ao chegar no quadradinho, muitos monumentos ainda estavam em construção. Quando desembarquei na rodoviária, numa manhã, em 1965, estavam subindo a primeira haste de metal da Torre de TV”, detalha Antônio Carlos.

Para o arquiteto, o diferencial da cidade foi o planejamento arquitetônico, com o projeto urbanístico de Lucio Costa. “Brasília foi feita no conjunto da cidade de uma vez. Conjunto de arquitetura e urbanismo igual de Brasília não existe do mundo”, analisa o professor. O ponto de vista do arquiteto Alex Claver, 32, é semelhante. A estruturação de Brasília, para ele, é uma marca singular e influencia, até hoje, na profissão. “A arquitetura é muito presente em nosso cotidiano: as superquadras, os blocos, os pilotis, o urbanismo de Lucio Costa e as curvas de Niemeyer. De certa forma, essa influência forte está sempre presente quando vamos projetar. Principalmente, quando falamos de projetos de imóveis na Asa Sul e Norte”, explica Alex.

Arquiteto, Miguel Gustavo ressalta a necessidade de apoiar órgãos de preservação do patrimônio cultural e material

A Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida destaca-se como um dos grandes ícones de Brasília. Para Alex, o monumento, que ele tatuou no antebraço, simboliza duas paixões. “Representa muito pra mim, tanto pela arquitetura quanto pela religião”, define. Por isso, preservar a obra, além de todo projeto inicial, é fundamental para manter a identidade de Brasília. “Me entristece ver que algumas revitalizações não respeitam a história da cidade e nossas memórias. Brasília é uma cidade modernista com um traçado urbanístico e uma arquitetura única. Precisamos preservar e estar atentos para que as futuras gerações possam ter o mesmo brilho nos olhos e o orgulho que temos, hoje, ao passear por ela”, completa.

O arquiteto Miguel Gustavo Almeida, 41, alerta para a importância da atuação de órgãos governamentais de proteção de bens culturais, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Brasília é um museu a céu aberto que inspira a maior parte dos profissionais da área. Então, sempre que se for fazer uma alteração ou modificação em qualquer área, tanto urbanística quanto arquitetônica, o ideal é a pessoa ter consciência e procurar os órgãos competentes. A ideia é de que a arquitetura atual converse com a arquitetura original da cidade”, aponta o arquiteto.


Paixão


Apesar de não ter nascido em Brasília, Bárbara Barros, 23, considera-se, praticamente, uma nativa. “Assim que meus pais assumiram cargos públicos na capital, passei a morar aqui. Vim com 2 anos e, apesar de sempre visitar minha terra natal, São Paulo, preservo a cultura de Brasília”, revela. A advogada admira tanto as obras da cidade quanto a miscigenação cultural. “É um lugar que mistura gente de todas as regiões do Brasil. Entre os locais preferidos estão: a Biblioteca Nacional, o Catetinho, o Congresso Nacional e o Museu Nacional. “Passei a conhecer os pontos turísticos daqui mais intensamente ao logo dos concursos de miss DF que participei. Em 2019, visitei o Congresso durante o concurso de Miss Brasil, quando representei Goiás. Nenhuma outra cidade tem a arquitetura como essa”, observa Bárbara.

A paixão por Brasília inspira a designer Rosânia Ulácia, 50, na produção de joias há, aproximadamente, 20 anos. A profissional cria as peças baseando-se nos monumentos turísticos da capital. “O céu, o horizonte e as curvas dos monumentos de Brasília são as minhas fontes de inspiração para a criação das minhas joias, em metais nobres e com gemas minerais”, explica. O sonho de criança de se mudar para Brasília aconteceu aos 23 anos, idade em que a goiana migrou de Pirenópolis para a capital. Trouxe com ela os conhecimentos para confecção de peças artesanais, mas foi aqui que aprimorou a técnica. “Quando cheguei, consegui emprego em uma loja. A dona do estabelecimento gostava das minhas joias e pedia para que eu vendesse para ela e para as amigas. Passei um tempo considerando a ideia de trabalhar na área exclusivamente. Participei de muitas palestras, eventos e concursos até que tive coragem e investi no negócio”, conta.

Bárbara Barros passou a conhecer melhor os monumentos do DF durante os concursos de miss que participou

A inspiração para Rosânia representar as obras arquitetônicas brasilienses surgiu por meio de uma observação atenta atrelada à paixão pela projeção de Lucio Costa. “Eu pedalo e sempre gostei de fotografar a cidade. Um certo dia, fiquei contemplando a Ponte JK e analisei que daria para fazer um brinco. Desde então, nunca mais parei de representar os pontos turísticos em joias. Até agora, já transformei 90% dos lugares da capital em joias”, finaliza.

Memória Unesco


Marco da arquitetura e urbanismo modernos, Brasília foi inscrita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na lista de bens do Patrimônio Mundial em 7 de dezembro de 1987, com área tombada de 112,25km². O relatório do registro da cidade defendia a proteção da estrutura moderna, construída no século 20 para tornar-se a capital do país. A cidade começou a ser planejada e desenvolvida em 1956, por Lucio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer, e foi inaugurada, em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek.


Joias Monumentos de Brasília
Designer de Joias, Ulácia produz peças em prata de lei 950 e ouro 18k. Contato: (61) 9 9624-2350 .  Instagram: @ulaciajoias 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Arquiteto, Miguel Gustavo ressalta a necessidade de apoiar órgãos de preservação do patrimônio cultural e material
    Arquiteto, Miguel Gustavo ressalta a necessidade de apoiar órgãos de preservação do patrimônio cultural e material Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press
  • Bárbara Barros passou a conhecer melhor os monumentos do DF durante os concursos de miss que participou
    Bárbara Barros passou a conhecer melhor os monumentos do DF durante os concursos de miss que participou Foto: Arquivo Pessoal

Tags