Correio Braziliense
postado em 09/07/2020 04:19
A polícia investiga a procedência da naja que picou um estudante de 22 anos, no Guará 2. Investigações apontam que Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl criava o réptil e o mantinha em casa. O rapaz está internado em estado grave na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama. O Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA) resgatou a cobra na noite de ontem, perto do shopping Pier 21.
A naja, espécie encontrada no sul da Ásia, é extremamente nociva ao ser humano, possuindo um veneno de ação neurológica, segundo informou o Zoológico de Brasília. O jovem, que é estudante de medicina veterinária, foi picado na última terça-feira, dentro de casa, em um condomínio na QE 40 do Guará 2, segundo a apuração policial. Após ser atingido, ele foi encaminhado ao hospital. O soro antiofídico necessário para a anulação do veneno veio do Instituto Butantan, em São Paulo, e chegou ao DF na noite de terça-feira.
O Correio apurou que, na madrugada de ontem, Pedro sofreu um choque anafilático, consequência de uma reação alérgica grave, e a administração do soro precisou ser interrompida. Só após um período de mais de seis horas em observação, a equipe médica pôde continuar o procedimento. Pela manhã, o estudante apresentou melhora e precisou ser submetido a uma hemodiálise, com o intuito de remover substâncias tóxicas do sangue. O rapaz, no entanto, permanece em coma.
Buscas e apreensão
A 14ª Delegacia de Polícia (Gama) recebeu denúncias anônimas de que o animal estaria em uma chácara na cidade. A partir daí, agentes saíram às ruas em busca da naja. “Descobrimos que a cobra estava com um amigo do jovem, que, inclusive, estava ao lado dele no momento em que foi picado. Entramos em contato com esse colega e estávamos negociando para que ele entregasse o animal na delegacia. Contudo, em determinado momento, ele falou que devolveria o animal para a Polícia Militar”, frisou o delegado-chefe da 14ª DP, Jônatas Silva.
Segundo o comandante do BPMA, major Elias Costa, familiares de Pedro Henrique forneceram informações que levaram ao contato do adolescente que estaria com o bicho. Após buscas no Lago Norte, Setor de Mansões do Lago Norte, Paranoá, Lago Sul e até na Ponte Alta do Gama, integrantes do batalhão convenceram o garoto a revelar que ele havia deixado o animal nas proximidades do shopping Pier 21, “num local escuro e atrás de um morro de areia”, como descreve o major. “A cobra, aparentemente, está bem. O local onde está condicionado é ideal para esse tipo de animal, caso alguém queira levá-lo para algum lugar. Muito embora seja uma espécie bem agressiva, nós não o encontramos agressivo, está bem tranquilo”, detalhou.
O Correio apurou que o animal foi apresentado na Polícia Federal. De acordo com o delegado Jônatas Silva, o amigo de Pedro Henrique será ouvido pela polícia. “Caso fique constatado que ele praticou algum tipo de crime, poderá responder por tráfico de animais, pelo fato de ter ocultado a cobra”, destacou.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que o estudante não tem permissão para manter o animal em ambiente doméstico, pois a legislação permite apenas espécies não venenosas para esse fim. O órgão destacou que o animal poderia ser criado apenas para fins comerciais, no caso de instituições farmacêuticas ou com o intuito de conservação, ou seja, quando o animal não pode voltar à natureza. “Para isso, o responsável precisa ter autorização emitida por órgão ambiental estadual e seguir regras para a criação, como mantê-la em local apropriado” destacou o instituto.
O Ibama informou que emitirá multa, que pode variar de R$ 500 a R$ 5 mil, ao proprietário da residência onde estava o animal. De acordo com o instituto, a cobra será encaminhada para o Zoológico de Brasília.
Fã de cobras
Nas redes sociais, Pedro Henrique demonstrava ser um admirador de cobras. Em um perfil no Facebook, o rapaz costuma compartilhar diversas publicações com imagens do réptil. Em uma delas, uma criança aparece brincando com o animal. Contudo, não há, ao menos em modo público, qualquer registro que revele espécimes criadas pelo próprio estudante.
Pedro cursa medicina veterinária na Uniceplac desde 2016. A coordenadora do curso, Daniella Ribeiro Guimarães Mendes, disse ao Correio que diversos alunos manifestam apreço pelos mais diversos tipos de animais, mas são instruídos sobre a necessidade do respeito ao habitat de cada espécie. “Para aulas, podemos ter bovinos, equinos e outros animais mais domésticos. Animais selvagens em cativeiro representam um perigo e pode ser um mal para o próprio animal. Até porque é impossível alguém sair andando e se deparar com uma espécie dessas por aqui”, pontuou.
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