Cidades

Paixão e desafio



A enfermeira Gláucia Gimenes, 43 anos, não teve dúvidas na área em que se especializaria. “Sempre gostei da terapia intensiva. Na UTI, por ser um ambiente mais crítico, seguro e controlado, é possível fazer um planejamento e direcionar para onde o paciente vai. Consequentemente, isso te dá maior autonomia, e o ambiente é bastante dinâmico”, avalia. Há 18 anos na área, Gláucia não se arrepende da decisão. “Não me vejo fazendo outra coisa. Parece pesado — e é —, mas é onde consigo dar o meu melhor. Como se eu apresentasse a minha melhor versão de quem eu posso ser para o paciente naquela hora”, relata.

Apesar da paixão, lidar com o emocional é um dos desafios. “O peso da responsabilidade é muito grande. Qualquer erro, para mais ou para menos, custa a vida do paciente. Além disso, são vários perfis de tratamento, e o clima de confinamento agrega um pouco mais de peso no emocional. Você lida com o pior e o melhor dia do paciente, que é a entrada e a saída dele. É uma balança emocional muito grande de muitos altos e baixos”, explica Gláucia.

Pollyana Barbosa de Lima, 30, queria ser jornalista desde pequena, mas acabou se formando em fisioterapia e, dentro do curso, nasceu o interesse pelo cuidado intensivo. Desde 2013, quando fez a residência, ela atua na área. “Ver os pacientes mesmo. A vitória deles é a minha vitória. É muito bom participar disso. E, em UTI, é o momento em que estão mais vulneráveis e precisam da gente. Então, cada pequena melhora é um grande ganho”, conta.

Dentro de uma unidade de terapia intensiva, o papel do fisioterapeuta é, principalmente, promover, restaurar e preservar a funcionalidade ao paciente. Fisioterapia respiratória, cardiovascular e em terapia intensiva são as principais áreas. “Ela visa o tratamento de uma forma integral”, acrescenta Pollyana. Com a equipe médica, ela conduz ajustes nos parâmetros de ventilação mecânica invasiva e não invasiva, atua para evitar o mínimo de lesões possíveis, para que o paciente tenha um retorno mais rápido, o que ajuda, inclusive, na liberação de leitos.

Adaptação

Com a chegada do novo coronavírus, Pollyana percebeu um número maior de casos no hospital onde atua. Lá, a fisioterapeuta não trabalha especificamente com uma estrutura de UTI, mas em um espaço para que o paciente possa ser estabilizado e aguarde uma vaga de leito de UTI. “Com a adaptação de outras unidades hospitalares, como o Estadio Nacional Mané Garrincha, tentamos manter um fluxo de pacientes, mas os da covid não são de resolução rápida. Necessitam de um pouco mais de tempo. Como dependem de oxigênio e ventilação mecânica, não tem como ter uma rotatividade tão alta”, comenta. Sem falar nos pacientes que procuram a unidade de saúde e precisam do atendimento, mas não estão contaminados pelo vírus.
Diante do agente infeccioso novo, os processos vão amadurecendo com o decorrer das dinâmicas de trabalho. “Cada dia a gente vai se adaptando um pouco mais, surgem novas evidências. O princípio básico, de manter a função respiratória com o mínimo de lesão possível, de maneira gentil, se mantém. Mas é um aprendizado contínuo”, diz.