Correio Braziliense
postado em 14/07/2020 04:25
O presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, disse ontem que a instituição financeira conseguiu manter a concessão de créditos em nível semelhante à fase pré-pandemia. Em entrevista ao CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília —, Costa comemorou os resultados no processo de liberação de recursos para pessoas físicas e jurídicas. Segundo o dirigente, 75% dos clientes que solicitaram novas linhas de crédito ou a renegociação de antigas contaram com aporte bancário.
Por meio do Supera DF, iniciativa com foco no enfrentamento da crise decorrente da pandemia de covid-19, o banco liberou R$ 2,7 bilhões entre 10 de março e 30 de junho. A previsão inicial era de que o total ficasse em R$ 1 bilhão. Com isso, o programa será prorrogado até 30 de setembro. Além das ações na área econômica, Paulo Henrique Costa descartou a possibilidade de privatização do banco e falou sobre a convocação de aprovados no último concurso público, além da parceria entre a instituição financeira e o Clube de Regatas do Flamengo.
Uma injeção de R$ 2,7 bilhões
O que o BRB tem feito para minimizar o estrago da pandemia da covid-19 no DF?
Atuamos, essencialmente, em três frentes. A primeira delas é de proteção à saúde: cuidando dos nossos empregados e dos nossos clientes; usando muito teletrabalho; colocando 70% da nossa equipe e dos grupos de risco em casa; cuidando da limpeza dos ambientes; reorganizando os turnos de trabalho; e fortalecendo os canais digitais. Além disso, doamos 150 bombas de infusão e monitores para equipar as unidades de saúde do DF e mais de 1,5 milhão máscaras. Outra frente é o que chamamos de proteção social. Atuamos junto ao GDF e implantamos sete programas sociais neste período, beneficiando, aproximadamente, 35 mil famílias. A terceira frente é a que mais somos demandados no dia a dia: a frente da economia. Lançamos um programa chamado Supera DF, que tinha o objetivo de liberar R$ 1 bilhão em crédito, e, entre 10 de março e 30 de junho, chegamos a liberar R$ 2,7 bilhões em crédito.
São linhas especiais para capital de giro, para esse processo de enxugamento de quadro...
São várias linhas. Na pessoa jurídica, linhas direcionadas a capital de giro, principalmente para que as empresas pudessem passar por esse período mais crítico; uma linha de investimento, para as empresas da saúde, que têm sido mais demandadas; e também criamos linhas específicas para pessoas físicas. Crédito pessoal — seja para o setor público ou privado —, consignado com taxas diferenciadas. Outra coisa importante foi a suspensão do pagamento de parcelas. Permitimos que todos os clientes que estivessem em dia até 17 de março pudessem adotar uma pausa no pagamento dos contratos.
Isso para todas as operações?
Todas as operações de crédito. Desde renegociação, refinanciamento, crédito imobiliário. Fomos o único banco do país a possibilitar isso também para o crédito consignado. Uma boa notícia que temos para trazer hoje é que estamos revendo o Supera DF e ampliando a validade dele até 30 de setembro.
Isso significa mais dinheiro à disposição das pessoas e das empresas?
Essencialmente isso. As condições originais que tínhamos estão mantidas até 30 de setembro, e, agora, com uma grande novidade. O governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou o Procred (Programa Emergencial de Crédito Empresarial do DF), em que criamos um fundo garantidor específico para o Distrito Federal. Ele vai permitir que, nesse Supera 2.0, como temos chamado, tenhamos condição de atender mais empresas. Fomos procurados por 7 mil empresas neste período. Conseguimos aprovar linhas de crédito novas ou renegociar as antigas para, aproximadamente, 3,5 mil empresas. E foram 29 mil pessoas que também conseguiram novas linhas de crédito ou renegociação das linhas antigas.
Esse fundo vai cobrir uma eventual inadimplência por parte das empresas?
Esse é o papel do fundo, prover garantias para quem não tem condição de oferecer. Isso vai permitir que ampliemos o leque de empresas atendidas. Uma coisa curiosa no nosso dia a dia é que, aproximadamente, 90% das empresas atendidas eram mini, micro, MEI (microempresário individual) e pequenas empresas. No BRB, conseguimos atender uma quantidade importante de empresas de menor porte. Aproximadamente, 75% de todos os clientes que nos procuraram conseguiram crédito durante a pandemia.
Dos setores que têm procurado vocês, quais segmentos da economia estão demandando mais crédito neste momento?
Temos dois grandes focos. O primeiro deles é o setor de eventos e restaurantes. Foram quem mais nos demandou nesse período e, portanto, em quantidade, foi quem mais conseguiu. O setor de academias e profissionais da área de condicionamento físico também. Do ponto de vista de volume, o setor da construção civil, que continua indo muito bem, sentiu um impacto inicial, mas se recuperou e, hoje, tem níveis de venda comparados a períodos anteriores à crise.
Podemos interpretar que a perspectiva de privatização do BRB está se afastando?
Esse é um compromisso assumido pelo governador Ibaneis Rocha e por mim quando tomamos posse. Acreditamos que um banco público é uma ferramenta de desenvolvimento social, econômico e humano muito poderosa. Poucos bancos estaduais permaneceram. Praticamente cinco. Foram 33 no início da década de 1990. Então, esse tema pode, sim, ser afastado. O banco bem gerenciado, com uma definição clara de estratégia tem um impacto muito positivo na região em que atua. O BRB está crescendo a carteira de crédito a 35%, contra uma média de 8% no DF e de 9% na concorrência no Brasil. Uma velocidade quase cinco vezes maior à da concorrência, cumprindo nossa missão.
Banco chamará mais concursados
O BRB fez um concurso no ano passado que movimentou o DF. Na última vez aqui, o senhor falou que seriam chamadas 740 pessoas. Até agora, vimos a nomeação de 70. Há um estudo do Sindicato dos Bancários do DF que diz haver um deficit de 400 escriturários no BRB. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
As pessoas precisam separar muito bem as coisas. O que dissemos aqui é que chamaríamos todos os empregados nas vagas dos aprovados. (Foram) 70, de 100 escriturários. Até o fim do ano, chamaremos os 30 remanescentes. (Convocar) 750 empregados a mais é uma verdadeira loucura. O banco tem 3,5 mil empregados. Imaginar que algum banco, em um ano, chamaria 20% da base de empregados não faz o menor sentido. A gente precisa entender o contexto de uma crise. Ela muda tudo. Nosso plano de expansão que estava estabelecido para este ano foi revisto. O BRB começou a trabalhar em uma linha mais digital e menos de expansão física. É natural que, diferentemente de um serviço público tradicional, qualquer convocação de empregados esteja alinhada à nossa capacidade de gerar resultado. Senão, desequilibramos o banco, diminuímos o resultado e trazemos o tema da privatização. Esse estudo do sindicato, em nossa visão, não reflete a realidade. Quando definimos o (total) que seria chamado no concurso, fizemos um estudo claro, e a necessidade eram 100 escriturários. Essa era a necessidade específica do banco. Chamamos 70 e vamos chamar os outros 30 para suprir essa necessidade.
Com o Flamengo, novos clientes
Qual foi o motivo da parceria entre Flamengo e BRB?
O principal motivo é a necessidade de o BRB se posicionar no mundo digital. O banco tem uma marca local e uma necessidade de diversificação e crescimento dos negócios no país inteiro. Olhamos para essa situação e imaginamos como poderíamos crescer. Naturalmente, o caminho foi encontrar um parceiro que tivesse uma base de clientes ou de clientes torcedores que pudessem virar clientes desse banco. (Os cerca de) 40 milhões de torcedores do Flamengo mostraram o caminho adequado para que pudéssemos lançar a parceria, (com) a criação de um banco digital, com base de clientes cativa e sustentável, que pudesse permitir que o BRB crescesse pelo país. Além disso, com perspectiva de geração de resultado diferente. As pessoas sabem pouco disso, mas nosso plano de negócios aponta para geração de 600 milhões de resultados em cinco anos. E é um contrato diferente, de parceria, com a previsão da construção de uma empresa em que Flamengo e BRB serão donos de 50% cada. Uma empresa que, (segundo o que) nós estimamos, vai superar R$ 1 bilhão, R$ 1,5 bilhão de valor de mercado em cinco anos.
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