Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 14/07/2020 04:26
Tai chi na pandemia

Gosto de escrever sobre tai chi chuan, pois sempre aparece algum leitor e relata experiências de mudanças positivas com a terapia. O tai chi é algo essencial em todos os momentos difíceis da minha vida. E não tem sido diferente com a pandemia. Só o ato de fazer a meditação já é revelador do nível da minha energia. Se não estou bem, terei dificuldade de concentração.

Será preciso, então, dedicar uma hora ou mais de meditação para reequilibrar as forças vitais e ficar autocentrado. Pratico o tai chi há mais de 30 anos religiosamente ou marcialmente. Quando não faço, sinto imediatamente o efeito no outro dia. Basicamente, o tai chi amplia a respiração.

Isso faz toda a diferença, renova as células, melhora a circulação do sangue, irriga os órgãos internos, clarifica a mente e produz uma sensação de bem-estar. Não se trata de solução mágica. Mas ajuda muito a encarar as batalhas da vida.

Algumas vezes, tenho dificuldade para escrever um texto ou me deparo com um problema que parece monstruoso. Sei que preciso mergulhar no tai chi para conseguir inspiração ou coragem.

Sempre quis acessar uma energia limpa, sustentável e renovável, que não tivesse nada a ver com drogas. Essa energia é o chi, está dentro de cada um, basta aprender a acioná-la. Reza a tradição oriental que quando que você quer, verdadeiramente, aprender alguma coisa, o mestre aparece. E, de fato, no caso do tai chi, a mestra veio na forma de uma mulher baixinha, mineirinha, delicada e irreverente: Tânia Carmo.

Com a vida frenética de jornalista, em contagem regressiva contra os ponteiros dos relógios, resolvi fazer o tai chi em casa, por minha conta. Tempos depois, me encontrei com Tânia e ela pediu -me que eu fizesse a sequência completa para que pudesse avaliar.

Fiz, a mestra arregalou os olhos, sorriu e perguntou: “O que é isso que você está fazendo?” Respondi a ela: “Tai chi, segundo Severino Francisco”. Não importa o meu desconcerto, o fato é que funciona.

Uma leitora me contou que tinha muito medo de ficar presa em elevador. Pois, eis que um dia descia do apartamento e a geringonça enguiçou. Para sua surpresa, ela ficou tranquila e esperou chegar o socorro. Outro leitor disse que morava no exterior, passou por uma grave crise de depressão, começou a praticar o tai chi e superou a doença.

Certa vez, eu fazia tai chi bem cedo e um amigo do meu filho, um garoto de 8 anos, de muita verve, observava atentamente. Em determinado instante, levantou o dedo e perguntou: “Tio, posso te avisar uma coisa?”.

Respondi, impaciente, com medo que me atrapalhasse: “Pode, mas rápido porque preciso me concentrar nos meus exercícios”. Então, ele completou: “Tio, eu só queria te avisar que os caras com quem você estava lutando já foram embora”.




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