Correio Braziliense
postado em 14/07/2020 04:26
Desde o início da pandemia no Distrito Federal, atos de solidariedade têm se mostrado mais presentes entre os brasilienses. Doações de cestas básicas, máscaras e marmitas têm ajudado famílias em situação de vulnerabilidade. Em outros casos, as iniciativas beneficiam agricultores familiares e pequenos empreendedores. Entre as ações desenvolvidas na capital está o S Solidário, que nasceu em maio, após mobilização de um grupo de amigos, colaboradores do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
A moradora da Asa Norte Larissa Meira, 41 anos, conta que a ideia surgiu em um bate-papo. “Um amigo percebeu a demanda de famílias em situação de rua e resolveu ajudá-las, comprando 10 marmitas para distribuir na região perto da casa dele. Depois, conversando sobre o assunto, refletimos sobre o quanto essas pessoas precisam de ajuda e o que podemos fazer”, explica.
Com a ideia de distribuir marmitas e tendo em vista que todos na empresa onde trabalha estão em home office, Larissa lembrou-se do restaurante que fica na sede do Sebrae, na 605 Sul. “Sem vender as refeições desde março, o dono do restaurante Ponto Gourmet começou a disponibilizar vouchers para quando retomar as atividades. No entanto, não era o suficiente. E, para ajudá-lo, fizemos uma parceria e estamos comprando as marmitas dele. Dessa forma, ajudamos, também, um microempreendedor”, relata.
“A pandemia trouxe outras necessidades. Também estamos arrecadando roupas e agasalhos para doar. Álcool em gel e água são outros itens que foram incluídos”, pontua Larissa. O grupo conta, ainda, com o apoio de três costureiras, que produzem máscaras de proteção facial e vendem a R$ 4 para serem doadas no projeto S Solidário.
Para a dona de casa Elda Torres, 38, está sendo gratificante produzir as máscaras para a iniciativa. “Era um sonho meu ajudar as pessoas e, quando surgiu a oportunidade, topei na hora”, relata a moradora do Guará. Mãe de cinco filhos, o dinheiro da venda dos itens de proteção facial tem contribuído na renda da família.
Ao todo, foram distribuídas 600 quentinhas e 800 máscaras para pessoas em situação de vulnerabilidade. A ação ocorre aos sábados, em diversos pontos do Distrito Federal. O grupo passou pelo Setor Comercial Sul, Setor de Embaixadas Norte, Rodoviária do Plano Piloto, Torre de TV, Cidade Estrutural, na comunidade Boca da Mata — entre Taguatinga e Ceilândia — e ajudou famílias que vivem em acampamentos atrás do Taguatinga Shopping.
De acordo com Alessandro Machado, 46, um dos idealizadores da iniciativa, se 10 pessoas doarem R$ 10, o montante permite fornecer refeições para 100 famílias. “Este é um momento que a gente nunca viveu. A maioria dessas pessoas é catador que perdeu a matéria-prima do seu sustento”, avalia. “Nunca pensei que ia tomar essa dimensão. Já são 600 pessoas contempladas. Isso traz um sentimento de gratidão”, revela o morador do Lago Norte.
Restaurantes
Com o intuito de ajudar a população em situação de rua, alguns restaurantes e cafés estão produzindo marmitas para doar. Entre as iniciativas, está o Projeto Dividir, iniciado em março, quando foram decretadas as medidas de isolamento social, no Distrito Federal. A ação, coordenada pelo Café Objeto Encontrado com o Gabinete 24, do deputado Fábio Felix (PSol), entregou mais de 7 mil marmitas.
Taiza Neves, 28, uma das colaboradoras do Objeto Encontrado e que está à frente do projeto, explica que a ação funciona como uma rede de ajuda. “A demanda é crescente, além das marmitas para a população em situação de rua, a gente arrecada roupas, agasalhos, cobertores e cestas básicas, que são encaminhados para entidades sociais que sabem, exatamente, quem precisa das doações.”
Mais de 2 mil cestas básicas foram entregues pelo projeto, que conta com alimentos provenientes de agricultores familiares do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). “É uma via de mão dupla, muitos desses produtores vendiam em feiras ou contavam com outra forma de comercialização dos alimentos, e a pandemia teve um impacto direto”, avalia Lucas Hamu, 31, dono do Café Objeto Encontrado.
As doações em dinheiro são destinadas, exclusivamente, para a compra de insumos — para a produção de marmitas —, materiais de higiene pessoal, produtos de limpeza e de proteção individual, como máscara e luvas. Para Hamu, a ideia é o projeto crescer e se tornar uma ação permanente voltada às comunidades carentes. “Existe uma desigualdade muito séria e que causa impactos. Vimos o quanto isso os afeta, e o que pequenas ações podem fazer para transformar a vida dessas pessoas”, defende Lucas.
Ceilândia
A região mais populosa do Distrito Federal e a que mais tem sofrido com a covid-19, Ceilândia abarca uma outra iniciativa social. Promovida pelo Singelo Burguer em parceria com a Coletivação, a hamburgueria tem distribuído, diariamente, cerca de 50 lanches para a população em situação de rua da cidade.
De acordo com Otávio Damichel, 28, dono do estabelecimento e líder da Coletivação, desde o início do projeto — em março —, foram distribuídos mais de 5 mil hambúrgueres. “A iniciativa nasceu da nossa percepção sobre essa população que, diante da pandemia, estava desassistida. Já tínhamos esse projeto, que surgiu há cinco anos, mas que estava parado. Então, vimos a necessidade de retomá-lo”, pontua. Para ele e a sócia, Flávia Gimenes, 38, o objetivo é dar continuidade à ação no pós-pandemia e ampliar o número de pessoas beneficiadas.
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