Cidades

Nem pouco movimento durante o dia espanta otimismo de bares e restaurantes

Enquanto, no fim da manhã, pouca gente saiu de casa ou do trabalho para almoçar na rua, à noite, a coincidência da reabertura do segmento com a final do Campeonato Carioca ajudou a lotar estabelecimentos no Sudoeste e no Plano Piloto. Casos da covid-19 seguem em alta

Correio Braziliense
postado em 16/07/2020 06:00

Com a transmissão da partida entre Flamengo x Fluminense, o Fausto & Manoel, no Sudoeste, ocupou todas as 62 mesas abertas para os clientesApós quatro meses de portas fechadas, bares e restaurantes retomaram ontem o atendimento presencial, mesmo com números de casos e de mortos por covid-19 em ascensão no Distrito Federal. O primeiro dia ficou marcado por adaptações às medidas de prevenção à covid-19 e pela diferença de movimento entre o dia e a noite. Durante o almoço, a maioria dos estabelecimentos teve pouca procura. Mais tarde, no entanto, a coincidência da reabertura desses setores com a data da final do Campeonato Carioca, entre Flamengo x Fluminense, levou mais pessoas a saírem de casa a partir das 19h.


O torcedor do Flamengo Marcelo Ilha, 55 anos, chegou ao bar Fausto & Manuel, no Sudoeste, duas horas antes do jogo para curtir com os amigos e assistir à partida, que seria transmitida no local — na hora da final, todas as 62 mesas estavam ocupadas por até seis pessoas. Morador do Sudoeste há 20 anos, ele defendeu a retomada de bares e restaurantes. “Não adianta fazer isolamento, porque as pessoas não ficam em casa, acabam nervosas e estressadas. Então, é sair com consciência, seguir todos os procedimentos, os protocolos. Acho importante a socialização. Todos os estabelecimentos estão seguindo as recomendações necessárias. Estou seguro”, relata.

Para o gerente do Fausto & Manoel, Afrânio Cordeiro, a expectativa é boa com a reabertura. “A gente está fazendo de tudo para não fechar mais e que dê tudo certo daqui para a frente”, ressalta. “Estamos seguindo todas as medidas possíveis. Deixando à distância de dois metros de uma mesa para a outra, a toda hora, os funcionários estão passando álcool. Nosso cardápio é de QR code, tem talheres embalados, todos usam máscaras”, detalha. “Muita gente ligou, mas não estamos reservando.

O bar Piauí, na 402 Sul, colocou 10 mesas à disposição dos clientes. O estudante Gabriel Barbosa, 22, avalia que, apesar da preocupação com a saúde, a economia não deve parar. “O país tem de andar para a frente. As coisas ficaram tempo demais fechadas. Tenho receio de meus pais e familiares contraírem o vírus, mas é preciso retomar as atividades”, destacou.   
  
O mecânico Luiz Pedro Pompas, 21, acredita que as medidas de segurança adotadas pelos bares e restaurantes serão suficientes para evitar o contágio pelo novo coronavírus nesses estabelecimentos. “Não há capital de giro para manter um bar por dois, três meses fechado. O empresário quebra, e perdemos emprego. Temos de ter cuidado, mas acredito que não devemos fechar tudo”, defendeu.

Almoço


No horário de almoço, bares e restaurantes tiveram baixo movimento. Pouca gente se aventurou a sentar às mesas dos estabelecimentos no primeiro dia da reabertura. Mas teve quem comemorou a retomada da atividade. A turma intitulada Confraria do Beirute celebrou o retorno do tradicional almoço, às quartas-feiras. Ontem, quatro integrantes do grupo reuniram-se para matar a saudade de tomar uma cerveja gelada, acompanhada de petiscos árabes. “Foi emocionante reencontrar todos. Passamos quatro meses sofridos em casa, só por delivery e sem poder nos encontrar. Ter a reabertura, e ainda na quarta-feira, não tinha como deixar de vir e prestigiar”, destaca João Gomes, 77 anos.

Para Pedro Henrique Oliveira, gerente administrativo do Beirute, foi um alívio reabrir. “Mesmo sabendo que o faturamento não será o mesmo, é um respiro”, afirma. Segundo ele, cerca de 45 pessoas passaram pelo estabelecimento no horário do almoço. Há 21 anos de casa, o garçom Ademar Lopes de Souza, 61, avalia como um recomeço. “Tudo é novo, estamos nos adaptando a algo que nunca vivenciei. A gente fica agoniado sem saber o dia de amanhã, foi duro ficar quatro meses em casa”, diz.

Em Águas Claras, o D’Lurdes reabriu as portas com com tapetes sanitizantes na entrada e totens de álcool em gel. Os clientes foram recepcionados por um funcionário todo paramentado para medir a temperatura. “A gente vem se preparando há algum tempo para essa reabertura. Era um momento esperado, mas prezamos por toda a segurança tanto para os clientes quanto para os colaboradores”, destaca o proprietário do espaço, Carlos Augusto Cardoso.

Para o presidente do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, a reabertura trouxe otimismo. “Muitas empresas estavam morrendo durante esse período fechado. Cerca de 3 mil bares e restaurantes não vão retornar nesse período, pois não conseguiram segurar as contas. O retorno está sendo feito com toda a segurança”, reforçou.

Secretaria de Saúde informou que houve fiscalização da Vigilância Sanitária em bares e restaurantes.

Colaborou Darcianne Diogo*

 

Palavra de especialista

“Haverá maior circulação do vírus”

 

“No momento em que a gente tem o número de casos e de óbitos em crescimento no Distrito Federal, parece-me um tanto quanto precipitado a reabertura de bares e restaurantes. Com a retomada do comércio, podemos esperar um significativo aumento no número de casos, pois haverá maior circulação do vírus. Mesmo com essa reabertura, as pessoas devem tentar manter o distanciamento social e evitar, ao máximo, os aglomerados. E, quando estiverem nesses locais, as medidas de higiene devem ser mantidas. Mas é difícil ficar de máscara em um ambiente desses, até porque as pessoas vão exatamente para fazer refeições ou beber, mas a higiene das mãos e o distanciamento entre as mesas são de extrema importância.  Tentem evitar ao máximo frequentar esses lugares, evitem, principalmente, se esses ambientes estiverem muito cheios. Tudo o que está acontecendo é muito dinâmico e novo. Exatamente por isso é preocupante uma flexibilização no meio de um crescimento de casos e com número de ocupação de leitos tão altos.” Rodrigo Biondi, presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib/DF).

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