Correio Braziliense
postado em 19/07/2020 04:08
Algaravia de pássaro
O período de recolhimento compulsório favorece a observação do cotidiano. Moro em um condomínio fronteiriço a uma mata cerrada. O canto dos pássaros parece ter se incorporado ao silêncio.Mas, se a gente presta atenção, começa a perceber cada singularidade e nuance dos sons.
Nesta semana, vivi uma experiência nova de êxtase. Fui acordado por uma agradável festa de pássaros. Essa foi a primeira impressão, mas, talvez, eu tenha me equivocado. Levantei-me comecei a caminhar e logo percebi que se tratava mesmo de uma verdadeira sinfonia de pássaros, pois cada pio parecia estar sincronizado com o outro.
Os melodiosos, os grasnantes e os ciciantes. Era possível avistar as esquadrilhas de periquitos. Fazia evoluções e riscavam o azul com seus grasnidos. Preferem se aninhar em coqueiros e palmeiras em busca de alimento. Levantam voo, abruptamente, com grande estardalhaço.
Mas, também, mirei o chão, porque havia pássaros rasteiros. Reconheci o joão-de-barro e o sabiá. Compareciam outros de canto mais suave e sutil. No entanto, todos participavam da algaravia. A Shirley, bióloga, o Gilberto Lacerda, pedagogo, o Sérgio Garschagen, jornalista, e o Sandro Barata, fotógrafo, fizeram um guia dos pássaros do condomínio.
Foi muito bom ler o guia, a um só tempo, científico e poético, pois aprendi muito sobre os pássaros do nosso território. Somos agraciados com o beija-flor do rabo-branco, o beija-flor-tesoura e o beija-flor-de-garganta-verde. Vocês sabiam que os beija-flores visitam cerca de mil flores por dia para adquirir a grande quantidade de néctar de que precisam?
Somos brindados, ainda, com as visitas da pomba asa branca, da juriti-pupu, do periquitão-maracanã, do periquito-de-encontro-amarelo, da alma-de-gato, do anu-preto, do anu-branco, dos tucanos, do pica-pau-verde-barrado, do pica-pau-de-banda-branca, do joão-de-barro, do bem-te-vi, do suiriri, da tesourinha, da andorinha-pequena-de-casa, da curruíra, do sabiá-laranjeira, do sabiá-de-barranco, da cambacica, do saí azul, do sanhaço-cinzento, do coleiro-baiano e do fim-fim, entre outros.
Eu acho que todos eles estavam na sinfonia matinal. Eram 7 e alguma coisa da manhã. Senti tamanho alumbramento que resolvi ligar a uma amiga brava e abrir o som do celular para que ela partilhasse a festa dos pássaros. Ela tem um célebre mau-humor bem-humorado.
Felizmente, o celular dela não atendeu, pois, caso isso tivesse acontecido, ela teria respondido com palavras que, nas histórias em quadrinhos, são representadas com asteriscos, cobras, lagartos e outros bichos. Visualizei, nitidamente, a cena: “Não acredito que você me acordou às 7 da manhã para me fazer ouvir passarinhos! Só pode ser um pesadelo!”. Como diz o inefável Rubem Braga, é gentil ser um passarinho.
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