Cidades

Adeus a um pioneiro das obras da capital

Engenheiro que construiu Brasília, Hilderval Teixeira, 88 anos, morreu de covid-19, após 14 dias internado. Ele atuou no projeto da Catedral, do Palácio Itamaraty e do Alvorada

Correio Braziliense
postado em 22/07/2020 04:19
Maria do Carmo e Hilderval Teixeira: 60 anos de casamento
Aos 88 anos, o pioneiro Hilderval Teixeira perdeu a luta contra a covid-19, após ficar internado 14 dias na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês, na Asa Sul. Segundo a filha caçula, Adriana Novais Teixeira, 54 anos, ele foi diagnosticado com o novo coronavírus e chegou ao hospital em 6 de julho. Por causa das limitações impostas pela pandemia, não houve velório. Ele foi sepultado na Ala dos Pioneiros, no Cemitério Campo da Esperança, no Plano Piloto. Hilderval Teixeira deixou a mulher, três filhos, cinco netos e uma bisneta, que está para nascer.

Familiares lembraram com bastante carinho a pessoa alegre e de bem com a vida que era Hilderval. “Tudo era motivo de brincadeira. Mesmo nos momentos difíceis, ele nos fazia sorrir. Todo mundo que o conheceu fala que o meu pai era de um coração enorme”, conta a filha Adriana.

O mineiro chegou a Brasília em 1958, para trabalhar como engenheiro da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) em várias edificações importantes na futura capital do país. Atuou na construção da Catedral, do Palácio Itamaraty e do Palácio da Alvorada. Além disso, foi o engenheiro responsável por fixar a obra Os Guerreiros, também conhecida como Dois Candangos, na Praça dos Três Poderes. Também participou da obra do prédio da Imprensa Nacional, do Colégio Elefante Branco e do Jardim de Infância 21 de abril.

Hilderval viu a capital do Brasil nascer, e o amor pela cidade foi tão grande, que ele trouxe boa parte dos familiares para Brasília. Casou com Maria do Carmo Gonçalves Novais Teixeira em 1959, em uma cerimônia no interior de Minas Gerais. Porém, os filhos tinham de nascer na capital. E assim foi. Maria do Carmo, 82, lembra com carinho do marido, com o qual ficou casada por mais de 60 anos. “É um momento difícil, mas a gente sabe que ele partiu e deixou bons frutos. Levou uma vida muito bonita. Fomos muito companheiros, viajamos muito. Ele deixou uma saudade imensurável”, relata.

No baú de memórias, Maria lembra do dia em que Hilderval a chamou para tirar uma fotografia com Bruno Giorgi, artista que criou o monumento Os Guerreiros. “Estava na minha primeira gravidez, e ele me levou para tirar essa foto. Algum tempo depois, alguém pegou, carregou a fotografia. Ele ficou tão bravo. Eu disse para não ligar para isso, o que importa é que temos no coração essa imagem”, conta. Atencioso, Hilderval construiu a primeira casa do casal, onde hoje fica a Vila Planalto. “Eu estava grávida, e ele deixou um amigo de prontidão, com o jipe na frente de casa, para quando eu entrasse em trabalho de parto ou precisasse de qualquer emergência”, relata.

Para Maria do Carmo, Hilderval transmitia alegria, gostava de cantar e era festeiro, além de companheiro para todos os momentos. Os dois conheceram-se quando trabalhavam na Novacap, e a paixão pela cidade e pelo trabalho também era compartilhada pelos dois. No fim da década de 1980, ele foi diagnosticado com mal de Parkinson e se aposentou.  Há pouco tempo, também começou a tratar um câncer na próstata. No ano passado, o casal comemorou bodas de diamante. “Na lembrança, demos para os convidados uma representação da escultura dos Dois Candangos”, diz Maria do Carmo.

O amigo e pioneiro Paulo Janot Borges, 90 anos, lamenta a morte do engenheiro. “É uma perda lamentável para o grupo de pioneiros de Brasília. É uma amizade que vai deixar saudade”, ressalta.



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