Correio Braziliense
postado em 23/07/2020 06:00
Dor de cabeça, tosse e espirros. Todos são sintomas comuns tanto para a gripe quanto para a covid-19. Muitas vezes, as semelhanças fazem com que pacientes demorem, ou sequer procurem cuidados médicos, preferindo ficar em casa a se expor em ambiente hospitalar. Tal atitude pode determinar vida ou morte no caso do novo coronavírus. Até o momento, a Secretaria de Saúde, por meio do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), identificou 39 óbitos em residências do DF causadas pela doença. No primeiro semestre de 2019, o SVO registrou, no total, a remoção de 720 corpos. No mesmo período de 2020, esse número subiu para 987.
No caso de dúvida, os médicos são claros: o indicado é procurar acompanhamento hospitalar o quanto antes. A infectologista do Hospital Águas Claras Ana Helena Germoglio lembra, ainda, que a automedicação é contraindicada. “Pacientes com a covid-19 devem ficar atentos a sinais de piora clínica, que são, principalmente, febre persistente e falta de ar”, detalha. “De forma alguma, o paciente deve retardar o atendimento, em caso de piora clínica, tentando obter êxito com terapias domiciliares. Compensa pecar pelo excesso”, ressalta.
O empresário Dartanhan Feitosa, 40 anos, demorou 10 dias, após o primeiro sintoma da covid-19, para procurar um hospital. “A gente fica naquela de que não vai acontecer com a gente e, quando vê, estamos infectados”, afirma. No início, ele teve febre, coriza e tosse. “Pelos sintomas de gripe, imaginei que não fosse nada sério”, disse. O alerta para o coronavírus aconteceu no momento em que surgiram dores mais fortes, e ele perdeu paladar e olfato. Foi quando decidi ir ao médico.” Após a confirmação, retornou para casa e cumpriu os 14 dias em quarentena. “Se tivesse feito o teste antes, com certeza, teria me cuidado mais, para me recuperar logo. Às vezes, a gente quer fugir da notícia ruim, mas isso apenas atrapalha o tratamento da doença”, avalia.
No caso do consultor de vendas Jairo Murada, 44, a demora no tratamento ajudou a agravar os sintomas. Quando ele começou a apresentar os primeiros sintomas da covid-19, foi a três hospitais particulares antes de ser internado. “Apenas na última unidade de saúde recebi o atendimento adequado. Tiraram uma chapa dos pulmões e descobriram que estavam 25% comprometidos”, detalha.
A partir daí, foram quatro dias dependendo de ventilação mecânica. Hoje, ele avalia a importância da velocidade no atendimento. “É uma enfermidade na qual os sintomas acometem o corpo muito rapidamente. Em um dia, você começa a apresentar alguns sinais mais leves e, no dia seguinte, tem uma piora drástica”, opina Jairo. “Nos dois primeiros dias, era uma forte dor de cabeça. Poucos dias depois, começaram os sintomas mais fortes, como fadiga intensa, dores por todo o corpo, olhos lacrimejando e ardendo e muita moleza”, relembra. A partir do quinto dia, as medicações para a febre não surtiam mais efeito.
Mesmo depois de cumprir a quarentena, o consultor continua o tratamento para a covid-19. “É uma doença que deixa sequelas. Parece que o corpo não responde da mesma forma que antes”, descreve. Para ajudar na recuperação dos pulmões, ainda afetados, Jairo mantém o acompanhamento em visitas rotineiras no hospital. “Enquanto estava internado, quando infectado, fazia regularmente fisioterapia pulmonar para ampliar a capacidade respiratória. E, mesmo vencendo a batalha, continuo o tratamento para não haver sequelas piores”, diz.
Pico
Para especialistas, as análises indicam que, no momento, o Distrito Federal enfrenta o pico da doença. De acordo com o médico Luciano Lourenço, coordenador do pronto-socorro do Hospital Santa Lúcia Sul, deve-se observar uma queda no número de casos e óbitos diários dentro de 10 a 12 dias. “É uma perspectiva numérica, não podemos afirmar com 100% de certeza. A gente está com essa esperança de que estamos passando pelo pior momento e, a parte boa, é de que sem caos. A gente tem a quantidade de leitos no DF em ocupação altíssima, mas ainda com o sistema conseguindo rodar”, analisa.
Ele explica que o tempo médio de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) é de cerca de 14 dias, podendo chegar a um mês, em casos mais graves. Atualmente, o DF tem taxa de ocupação de 79,4% para os leitos públicos, e 93,7%, para os privados. Para dar conta da demanda, a Secretaria de Saúde conta com mais de 5 mil médicos e 3 mil enfermeiros atuando na linha de frente. “No entanto, é importante ressaltar que todos os profissionais estão trabalhando direta ou indiretamente nesse enfrentamento em todas as unidades de saúde do Distrito Federal”, destacou, em nota.
Além disso, a pasta anunciou a chegada de novos equipamentos e a construção de unidades de saúde. Com obras iniciadas e orçadas em R$ 10,4 milhões, o Hospital de Campanha de Ceilândia, a ser erguido ao lado da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), tem previsão de conclusão nos próximos 40 dias. “A unidade terá 60 leitos, sendo 20 de suporte respiratório e 40 de enfermaria”, informou a Secretaria de Saúde.
Outra medida é a construção do hospital do Complexo Penitenciário da Papuda, que terá 10 leitos de suporte avançado e 30 de enfermaria. As obras estão em fase de conclusão, aguardando contratação da empresa que administrará a unidade e os profissionais necessários para o funcionamento, como detalha o órgão. Até o fim da semana, o GDF deve liberar os primeiros 50 leitos instalados no Centro Médico da Polícia Militar, que também funcionará como hospital de campanha. Outros 54 devem ser entregues até o fim do mês.
Balanço
UTIs
510: leitos públicos de UTI para a covid-19
79,44%: ocupados
271: leitos privados de UTI para a covid-19
93,7%: ocupados
Linha de frente na rede pública
5.273: médicos
3.465: enfermeiros
Fonte: Secretaria de Saúde
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