Correio Braziliense
postado em 23/07/2020 04:18
Um suposto plano para despistar a polícia levou a prisão de Gabriel Ribeiro de Moura, 24 anos, amigo de Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22, picado por uma naja kaouthia. O estudante de medicina veterinária está na carceragem da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e deve permanecer no local, pelo menos, até domingo, prazo determinado pela Justiça para o cumprimento da prisão temporária. Ele é suspeito de obstruir diligências realizadas pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama), que investiga o crime de tráfico internacional de animais exóticos e silvestres.
Agentes prenderam Gabriel no apartamento onde mora, no Guará 2, na manhã de ontem. Ele é suspeito de integrar um esquema criminoso voltado à prática de crimes ambientais. O mandado de prisão foi expedido após a representação da autoridade policial. Segundo a PCDF, há fortes indícios de que o jovem estaria, desde o começo das investigações, tentando ocultar provas.
Fontes policiais informaram ao Correio que há a possibilidade de o jovem ter a prisão prorrogada por mais cinco dias, ou seja, até a próxima sexta-feira e, depois, convertida em preventiva. Advogada do estudante, Amanda Bedaqui afirmou que a defesa tomará as providências necessárias, no entanto, não confirmou se entrará com um pedido de habeas corpus.
Investigação
A repercussão do caso do jovem picado por uma naja, em 7 de julho, ganhou força após o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) capturar outras 16 serpentes, que estavam escondidas em uma chácara, do Núcleo Rural de Planaltina. A polícia constatou que, após Pedro ser atacado, Gabriel teria guardado os animais nesse local.
Após o incidente, o estudante não devolveu a naja aos policiais de imediato. Somente na noite seguinte, os militares convenceram o rapaz a entregar a serpente. Então, Gabriel deixou o animal próximo ao Shopping Pier 21, num local escuro, atrás de um morro de areia, colocando em risco a vida de outras pessoas.
O suposto esquema criminoso envolve o pai de Gabriel — um servidor do Judiciário —, o padrasto e a mãe de Pedro Henrique — o tenente-coronel da Polícia Militar Eduardo Conde e a advogada Rose Meire Candido dos Santos. A polícia investiga, ainda, a participação de um servidor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) lotado no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas). O funcionário foi afastado das atividades até a conclusão das investigações, e o órgão abriu um processo administrativo disciplinar interno para apurar o envolvimento dele. Todos, exceto o servidor do Ibama, receberam multa por crimes ambientais. Somados, os valores chegam a quase R$ 300 mil.
Ação popular
Uma ação popular encaminhada ao Juízo da Vara do Meio Ambiente e Desenvolvimento do Distrito Federal pede que Pedro Henrique arque com os alimentos e as demais despesas da Fundação Jardim Zoológico de Brasília (FJZB). Caso a Justiça dê parecer favorável à ação, o estudante de medicina veterinária poderá pagar mais de R$ 85 mil.
Autor da ação, o advogado José da Silva Moura usa como justificativa o fato de que o Zoológico guarda as serpentes e, por causa disso, diminuiu a qualidade de vida do restante dos animais. Dessa forma, o advogado pede que o jovem restitua os valores que o Zoo gastou com a criação dos novos serpentários para abrigar as cobras e que custeie os alimentos dos répteis. Com base na ação, se requer que ele pague R$ 5 mil a cada serpente apreendida, totalizando mais de R$ 85 mil.
Jiboia-arco-íris
Na sexta-feira passada, agentes encontraram uma jiboia-arco-íris no apartamento do pai de Gabriel. O local abrigava vários ratos, supostamente criados para servir de alimento à serpente; uma lâmpada fabricada em vidro vermelho real, para melhor o aquecimento no período noturno — o equipamento é próprio para produzir pouca luz e não perturbar o sono dos répteis —; e um casco de tatu.
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