Cidades

Covid no DF: mulheres são maior parte de infectados, mas homens morrem mais

Apesar de as mulheres apresentarem maior quantidade de diagnósticos do novo coronavírus, há mais registros de óbitos de pessoas do sexo masculino. Especialistas explicam que fatores biológicos e culturais podem influenciar a incidência da doença nos gêneros

Correio Braziliense
postado em 24/07/2020 06:00
O Distrito Federal ultrapassou ontem os 90 mil casos confirmados e tem 1.113 mortos pelo novo coronavírus. Após 140 dias desde o primeiro diagnóstico, a capital apresenta perfil de infectados e de vítimas semelhante a outros países. Dos contaminados, a maioria é mulher. Mas, em relação aos óbitos, os homens aparecem como vítimas mais frequentes. Ao Correio, especialistas explicam que fatores culturais e biológicos podem explicar a diferença, mas alertam que os cuidados devem ser os mesmos para ambos gêneros.

ilustração de dados

Do total de confirmações no DF, 42.614 (47,3%) são pessoas do sexo masculino e 47.409 (52,7%), mulheres. Em relação às mortes, são 710 (58,3%) e 508 (41,7%), respectivamente. O médico especialista em operações humanitárias e desastres no Brasil e no exterior Hemerson Luz, que atua nos hospitais de Base e das Forças Armadas, explica que o padrão de infecção no Distrito Federal é semelhante ao da China e ao da Espanha, onde o grupo masculino apresentou maior quantidade de óbitos provocados pela covid-19.

“Segundo os estudos epidemiológicos, há questões comportamentais e biológicas que explicam essa diferença. Por exemplo, os homens costumam procurar atendimento médico em fase tardia, têm estilo de vida mais propenso a fumar e consumir bebidas, o que fragiliza a saúde”, esclareceu. Por isso, Hemerson alerta que o ideal é que pessoas com sintomas do novo coronavírus procurem uma unidade de saúde com rapidez para evitar o agravamento da doença.

Sobre o número elevado de notificações entre as mulheres, Hemerson explica que elas tendem a ter maior exposição em determinadas situações, como cuidando de familiares infectados. Além disso, o médico frisa que a busca maior do público feminino por unidades de saúde pode influenciar na quantidade superior de testes positivos. “A junção de vários fatores influencia os números”, comentou.

Biologia

Pesquisa divulgada pela Companhia de Planejamento (Codeplan), na terça-feira, reforça a diferença de taxa de letalidade entre gêneros no Distrito Federal. De acordo com o estudo, que analisa os dados de contaminação na capital até 20 de julho, o índice de morte em homens é de 1,6%, enquanto, em mulheres, é de 1,3%. O diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez, esclarece que, além dos fatores comportamentais e culturais, há questões atreladas ao corpo humano que influenciam os óbitos.

De acordo com o especialista, o receptor pelo qual o vírus entra na célula respiratória é mais densamente encontrado no corpo masculino.  “Basicamente, isso significa que a doença tem uma invasão maior nos pulmões dos homens, o que pode causar maiores complicações”, detalhou.

Além disso, o infectologista explica que questões hormonais podem impactar no desenvolvimento da doença. “As mulheres, provavelmente devido ao estrogênio, têm respostas melhores a vacinas e imunidades do que os homens, que produzem a testosterona. Tem se procurado explicações para isso. Uma delas é porque o gênero feminino reproduz a espécie e tem fator maior de proteção”, comentou. Para José David, os fatores biológicos, aliados à falta de procura médica, podem ser os influenciadores na maior taxa de letalidade nos homens.

Recuperação

Enquanto isso, aqueles que tiveram a covid-19 contam histórias de superação. Moradora do Sudoeste, a advogada Marina Freitas, 33 anos, testou positivo para a doença em 6 de julho. Apesar de quase não ter apresentado os sintomas, ela sentiu o medo diário de infectar os pais idosos, com quem mora. “Uma pessoa próxima fez o exame e descobriu que havia contraído a doença. Decidi fazer e fiquei surpresa com o resultado”, comentou.

Marina conta que, um dia após o diagnóstico, sentiu dores nas pernas e de cabeça. “Fui praticamente assintomática, porém, fiquei preocupada. É algo novo”, afirmou. Segundo a advogada, o período de isolamento foi cumprido em casa, no quarto dela, e tomando todos os cuidados necessários. “Avisei a todos que tive contato, e, felizmente, não infectei ninguém”, disse.

O jornalista Mateus Lincon, 25, também superou a covid-19. Ele descobriu que estava com a doença no começo do mês. “Fiz o exame, porque o meu namorado testou positivo. Estava com alguns sintomas, como cansaço, e procurei um posto de saúde. Após o resultado, a orientação que tive foi para ficar em casa”, contou.

Mateus mora com uma amiga na Asa Norte, também diagnosticada com a covid-19. “Fiquei preocupado com os meus pais, porque tinha ido à casa deles, mas não foram contaminados”, frisou. Para o jornalista, ter superado a doença trouxe alívio. “Tenho medo da recontaminação, como li em alguns lugares, mas estou tranquilo por ter tido sintomas leves”, ressaltou.

Cinco perguntas para Eduardo Hage, subsecretário de Vigilância à Saúde

Por que há mais mulheres infectadas e mais homens 
mortos pela covid-19?

A maior frequência de casos em mulheres pode estar relacionada à maior procura às unidades de saúde e à realização de diagnóstico, enquanto que a maior mortalidade entre os homens tem relação com os principais fatores de risco envolvidos na ocorrência do óbito. Por exemplo, as doenças cardiovasculares, que são os principais fatores de risco, incluindo hipertensão, são mais frequentes em homens.

No início da pandemia, havia mais homens infectados. 
Por que ocorreu essa mudança de perfil?

Deve estar relacionado à mudanças no tipo de exposição, que, antes, estava associada às viagens internacionais e, posteriormente, passou a ser relacionada à transmissão local. Mas, como referido anteriormente, a maior frequência de casos confirmados também depende da procura às unidades de saúde e da realização dos testes.

O Distrito Federal passa pelo pico de casos e óbitos?

Um platô do número de infectados foi atingido, desde o início de julho, e já se observa diminuição no número de diagnósticos, de acordo com a data de início dos sintomas, enquanto que a redução do número de casos graves e de óbitos sempre apresenta um atraso de uma a duas semanas para começar a ocorrer, como se observou em Fortaleza e Manaus, por exemplo.

Qual é o prazo estimado pela pasta da duração do platô de casos e óbitos? 

Pode ser variável, mas deve durar em torno de duas semanas.

Há garantia de que o Distrito Federal consiga passar pelo pico da pandemia sem esgotar a capacidade dos leitos de UTI?

O Distrito Federal vem atravessando o platô sem esgotar esta capacidade devido à ampliação do número de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI), que tem ocorrido todas as semanas.

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