Correio Braziliense
postado em 25/07/2020 04:15
Feliz aniversário
Oi, mãe. Sei que você vai ler esta crônica hoje mesmo. Porque você é uma das leitoras mais fiéis deste Correio. Todas as manhãs, você apanha o jornal, senta no sofazinho de dois lugares da sala e começa a leitura que vai da capa à última página. Nem os Classificados escapam. Sei bem disso porque foi você que achou meu apartamento, num anúncio que não estava na internet, só no jornal.
Por isso, sei que está aí sentada — ou com as pernas dobradas e mexendo o pé direito lentamente, ou apoiando os dois pés tamanho 33 no banquinho de madeira. Talvez você já tenha feito parte das palavras cruzadas ou tenha guardado esse misto de diversão e exercício de memória para daqui a pouco. Se ficar faltando alguma palavra, vou adorar te ajudar a preencher os quadrinhos em branco quando nos falarmos.
Se bem que hoje, talvez, sua rotina tenha sido modificada e você ainda nem tenha tido tempo de se dedicar às cruzadinhas. Talvez esteja lendo essa carta pra você já de noite. Afinal, do jeito que você é querida, todos vão querer te desejar feliz aniversário. E como você quase não gosta de falar ao telefone, essas conversas vão longe...
Feliz aniversário, mamãe. Você é a melhor mãe do mundo. Outros filhos dizem isso, eu sei. Mas eles, coitados, não são seus filhos, então não sabem que a mãe deles disputa no máximo o segundo lugar. Eu estou morrendo de saudade de abraçar você, de sentar nesse lugar vazio aí ao seu lado no sofá e pegar sua mão e mexer no seu cabelo branquinho, que te deixou mais parecida com a vovó e que me dá ainda mais vontade de te apertar.
Com essa droga de pandemia, eu não vou almoçar hoje com você. E isso me deixa muito triste. E nem é porque não vou poder comer o seu pudim assado com perfeição, sem furinho nenhum. É que te ver é mesmo uma das coisas mais gostosas da vida. Lembrar das nossas histórias antigas e ver você gargalhar — muitas vezes rindo de si mesma, uma de suas capacidades que mais admiro — é algo que me enche de vontade de viver.
Você é um dos meus principais combustíveis, mãe. Saber que tenho seu amor me faz ver que viver vale a pena e que tenho muita sorte. Com seu jeito forte, decidido, justo e amoroso, você conseguiu construir uma família e tanto. Seus três filhos te amam muito e se sentem muito amados. E são os melhores amigos uns dos outros. Mérito quase todo seu, dona Cecília. Afinal, o papai ajudou um pouco, né?
Não vai demorar muito, tenho fé, essa separação vai acabar. Vale a pena esperar um pouquinho. Já já voltaremos a ter mais abraço, sofá, cafuné, palavras cruzadas, almoços repletos de lembranças e risadas... E pudins, por favor! Te amo, dona Cecília. Feliz aniversário.
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