Correio Braziliense
postado em 26/07/2020 04:12
Uma mão sempre disposta a ajudar. Assim era o técnico em enfermagem do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Hiram Rodrigues Lima, 47 anos. Aqueles que o conheceram são unânimes: prestatividade em pessoa. “Quando eu via que ele estava na nossa escala de plantão, já ficava tranquilo, porque sabia que a coisa iria fluir com comprometimento”, recorda Atoniel Queiroz, 46, colega de trabalho de Hiram.
A amizade dos dois nasceu no box de emergência do hospital. “Era um camarada focado no trabalho. Sempre o primeiro a chegar, e o último a sair. Está sendo um desafio sem ele, mas a nossa profissão não nos dá tempo de juntar os cacos. As demandas falam mais alto.” Também técnica em enfermagem, Yaskara Cavalcanti, 49, lembra do carinho do amigo com colegas e pacientes. “Era alto-astral. Nunca o vi reclamando de trabalho, nem de nada.” Para afastar as preocupações diante da pandemia, ele brincava. “A gente tem essa frase boba: não pego. No meu corpo, esse vírus morre”, lembra a amiga. “Era uma piada. Falar que era invencível, como uma válvula de escape.”
Fora do trabalho, era esposo e pai dedicado. Do casamento de mais de 10 anos, a vendedora Rosecleia Gerônimo da Silva, 28, guarda na memória a dedicação de Hiram. Juntos, eles tiveram duas filhas. “Ele nunca deixou faltar nada em casa. A gente não tinha uma vida de luxo, mas estava sempre preocupado se tinha leite e pão em casa para as meninas”, declara. “Ele era meu refúgio quando tinha algum problema. Sempre foi a pessoa com calma para conversar. Não era de falar muito, mas quando falava, todos admiravam”, emociona-se.
Quando voltava do trabalho para casa, em Águas Lindas (GO), tinha o cuidado de se higienizar primeiro e manter distância da família. Mesmo assim, contraiu o vírus e precisou dar entrada no Hran. Durante o processo de internação, ele e Rosecleia conversavam por videochamada. A última comunicação, aconteceu na madrugada em que ele foi entubado, em 17 de junho. “Ele me mandou mensagem, pedindo desculpas pelas vezes que discutíamos, e dizendo que nos amava. Eu liguei para ele e pedi calma, porque tudo daria certo.”
Sem o companheiro, ela agora tenta ser forte para as filhas. “Elas têm esperança de que todo dia ele vai chegar em casa. Voltei a trabalhar na semana passada e está sendo difícil sorrir e conversar. Sou pai e mãe ao mesmo tempo.” Enquanto isso, ela espera o auxílio-funeral, que até hoje não foi pago pelo governo. Segundo a Secretaria de Saúde, para obter o ressarcimento, é necessário ir à gerência de pessoas da unidade em que o servidor trabalhava e apresentar nota fiscal da despesa. “Sobre a aposentadoria, a viúva deve fazer o requerimento também na Gerência de Pessoas. A documentação será enviada ao Iprev que faz a análise da legitimidade do benefício e autoriza a concessão”, informou o órgão.
Ele nunca deixou faltar nada em casa. A gente não tinha uma vida de luxo,
mas estava sempre preocupado se tinha leite e pão em casa para as meninas”
mas estava sempre preocupado se tinha leite e pão em casa para as meninas”
Rosecleia Gerônimo, esposa de Hiram Rodrigues
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