Correio Braziliense
postado em 26/07/2020 04:13
Nem sempre, a luta contra a covid-19, mesmo em casos graves, termina em tragédia. Assim foi com a técnica em enfermagem Sâmia Regina Aragão, 57. Quando a pandemia chegou, ela estava na linha de frente da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia. Ali, recebendo os pacientes com todas as patologias diferentes, acabou contraindo o vírus. O quadro dela evoluiu rapidamente e resultou em 49 dias de internação, sendo 33 em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Muitos colegas também adoeceram, mas eu fui o caso mais grave”, recorda.
Em 9 de maio, ela recebia o diagnóstico positivo e dava entrada no Hospital Regional da Asa Norte. De lá, foi transferida para o Hospital Daher, no Lago Sul e, então, para o Hospital DF Star, na Asa Sul. Durante as internações, parou de andar, falar, e esteve a maior parte do tempo inconsciente. “Às vezes tiravam a sedação, porque a minha pressão baixava demais.” Foi traqueostomizada e entubada.
Durante todo o período, angústia para a família. “Meu marido ficou muito angustiado, até porque passou quase o período inteiro sem me ver. Meu filho, que também é técnico em enfermagem, tomava a maior parte das decisões. Os médicos ligavam para ele diariamente pedindo autorização para os procedimentos e ele dizia: se é para o bem da minha mãe, pode fazer”, emociona-se Sâmia.
Agora, ela luta para se recuperar das sequelas. O vírus prejudicou a memória dela. “Não lembro muita coisa, exceto do médico dizendo que iria me entubar. Foi quando liguei para o meu marido avisando a situação”, detalha. Mesmo sem ter mais a doença no corpo, ela ainda sente fraqueza, tontura, e tremedeira. Além disso, está com os rins comprometidos, e os pés inchados e doloridos. Por dia, são seis medicações diferentes. Ainda sem condições de voltar ao trabalho, ela avalia a possibilidade de se aposentar, uma vez que tem 37 anos de contribuição, sendo 20 pela Secretaria de Saúde. Até lá, alerta para que a população evite ir às ruas. “Tem tanta gente olhando só para si mesmo. O que custa ficar em casa? A covid-19 tira as forças da gente. Abaixo de Deus, foram os médicos que me salvaram.”
Meu filho, que também é técnico em enfermagem, tomava a maior parte das decisões.
Os médicos ligavam para ele, diariamente, pedindo autorização para os procedimentos
e ele dizia: se é para o bem da minha mãe, pode fazer”
Sâmia Regina, técnica em enfermagem
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