Correio Braziliense
postado em 26/07/2020 04:13
“Essa doença chegou para mostrar que ninguém está acima de ninguém”. Assim avalia o cirurgião Leonardo Rodovalho, 45. O médico do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) também é um sobrevivente da covid-19, após ter contraído o vírus enquanto salvava outras vidas. “Era uma segunda-feira de maio e eu fiz uma cirurgia de três horas em um paciente com colostomia, que precisava de reconstrução do trânsito intestinal”, recorda. “Usei máscara de proteção, mas foi um longo período e, depois do procedimento, ainda fui visitá-lo, no dia seguinte, na enfermaria, para saber como estava.” Dias depois, o mesmo paciente era internado em UTI, infectado por coronavírus.
Ele começou a ter os primeiros sintomas: dores no corpo, e calafrios. “Achei que pudesse ser dengue, porque na semana anterior tinha feito o teste para coronavírus, e recebido resultado negativo”, lembra Leonardo. Contudo, os sintomas evoluíram para febre, mal-estar, falta de apetite e tosse. Depois de ser examinado no hospital, a primeira tomografia mostrou que o pulmão esquerdo com 30% de comprometimento, o que resultou na internação em 25 de maio.
Foram sete dias de leito, sendo dois deles em UTI. Os conhecimentos da formação o permitiam compreender a situação em que estava a partir da leitura que fazia dos equipamentos que o monitoravam. “O problema maior é o isolamento. A UTI te dá segurança, porque você é monitorado, mas, ao mesmo tempo, gera uma angústia muito grande porque, quando a saturação baixa, você vai ficando preocupado”, pondera. “Na primeira noite, não dormi nada. O tempo todo era o receio do tubo vir.”
Hoje, de volta à ativa, Leonardo avalia os riscos que os profissionais da saúde correm. “A chance é muito maior de contrair o vírus, porque a gente está em contato direto. Apesar de nos protegermos, e usar os equipamentos necessários, a gente acaba se contaminando. Nesse contato o tempo todo, a gente está preocupado.” Agora, ele celebra a recuperação. Na última terça-feira, recebeu o resultado da sorologia, mostrando que ele desenvolveu anticorpos para a doença. “A evolução do vírus é muito imprevisível, e não chega só em quem tem comorbidade. A máscara sufoca, mas, depois desse susto, o sufoco é muito menor que o de estar em uma UTI.”
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