Correio Braziliense
postado em 30/07/2020 04:06
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) finalizou mais uma etapa da operação que ganhou repercussão em todo o Brasil. Na manhã de ontem, Pedro Henrique dos Santos Krambeck Lehmkuhl, de 22 anos, picado por uma naja kaouthia, em 7 de julho, foi preso no apartamento onde reside com a família, no Guará 2. O estudante de medicina veterinária é investigado por integrar um esquema internacional de tráfico de animais exóticos e silvestres. O amigo dele Gabriel Ribeiro de Moura, 22, também está detido por tentar ocultar provas e atrapalhar as diligências. Os dois estão presos, temporariamente, na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP) na Carceragem da PCDF.
O suspeito chegou a ficar internado na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama. Ele recebeu soro antiofídico do Instituto Butantan, em São Paulo, por causa da picada da naja — uma das cobras mais venenosas do mundo, originária da Ásia. Relatórios obtidos pelo Correio revelam que, supostamente, Gabriel estava com o jovem no dia do ocorrido e que, após o incidente, teria tentado ocultar outras 16 serpentes, que pertencem a Pedro Henrique, no Núcleo Rural de Planaltina, incluindo a naja. Câmeras de segurança do condomínio onde o estudante mora também registraram o momento em que o padrasto dele, o tenente-coronel da Polícia Militar Clóvis Eduardo Condi deixa o local carregando algumas caixas de cobras. Há suspeita de que o militar possa estar envolvido com o grupo que vende animais exóticos e silvestres.
Após receber alta em 13 de julho, Pedro Krambeck não prestou depoimento à polícia, pois estava de atestado médico. A previsão era de que ele comparecesse à delegacia apenas no início de agosto. Contudo, a 1ª Vara Criminal do Gama expediu o mandado de prisão temporária. A Justiça constatou indícios de que o estudante e outros investigados formariam uma associação criminosa responsável, entre outras condutas, pela destruição de provas relacionadas aos crimes ambientais apurados pela autoridade policial. Pedro chegou a receber multa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) em R$ 61 mil por criar ilegalmente animais exóticos, por maus-tratos e por dificultar a fiscalização da polícia.
Ofensas
Uma equipe do Instituto de Medicina Legal (IML) acompanhou a operação da 14ª DP para verificar o estado de saúde do acusado. Ao chegar na delegacia, Pedro demonstrou irritação com os profissionais da imprensa e reproduziu um gesto obsceno aos jornalistas. Ele assinou um termo circunstanciado de ocorrência pelo ato. O jovem permaneceu por mais de duas horas na unidade policial, mas não prestou depoimento. O advogado de defesa esteve no local, mas preferiu não se manifestar.
Por volta das 12h de ontem, Pedro foi transferido à DCCP, onde ficará, pelo menos, até domingo — prazo da prisão temporária. A Justiça pode, no entanto, pedir a prorrogação da prisão temporária e, inclusive, convertê-la em preventiva. Caso isso ocorra, o estudante será encaminhado ao Complexo Penitenciário da Papuda, onde ficará lotado, por 14 dias, no Centro de Detenção de Provisória II (CDP II), unidade onde os detentos recém-chegados ficam para o cumprimento da quarentena.
Atuação ilegal
A Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (Prodema), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), se manifestou a favor da prisão de Pedro Henrique Krambeck. Segundo os promotores, além da suspeita de participação do jovem em esquema criminoso de tráfico de animais silvestres e exóticos, ele também estaria exercendo ilegalmente a atividade de medicina veterinária.
Em informações divulgadas pelo MPDFT, o estudante aparece em vídeos e em fotos realizando procedimento cirúrgico em uma serpente. O órgão explica que tem acompanhado de perto o inquérito policial no qual teve acesso a elementos-chaves da investigação.
Procurada pelo Correio, o Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (Uniceplac), instituição onde Pedro estuda, informou que criará uma comissão interna para apurar o suposto envolvimento dele no esquema internacional de tráfico de animais exóticos e silvestres. A faculdade esclareceu, ainda, que a “a Uniceplac e a coordenação do curso de medicina veterinária não tinham conhecimento da posse ilegal de serpentes ou de quaisquer outros animais silvestres entre alunos”.
Em um documento obtido pelo Correio, uma testemunha da faculdade afirmou, em depoimento aos policiais, que Pedro Henrique comprava e vendia animais exóticos desde 2019. Nas redes sociais, o jovem exibia as serpentes em fotos, incluindo a naja. Em uma das publicações, o suspeito chegou a escrever: “Dinheiro bem gasto é na compra de répteis”.
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